Dois ex-adversários políticos vão subir juntos, no final da tarde, a rampa do Palácio do Planalto e, de lá, acenar para o público, estabelecendo uma nova era e um feito histórico: de maneira inédita, o Brasil terá um presidente eleito três vezes pelo voto popular.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) se enfrentaram nas eleições de 2006. O petista e o ex-tucano construíram uma aliança improvável, ampliaram o leque de apoio no centro, e derrotaram o presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PL), prometendo colocar o país na rota da normalidade política.
Depois de quatro anos de ataques a instituições democráticas, sobretudo o Supremo Tribunal Federal, de ameaças à democracia, de combate à ciência e ao meio ambiente, Jair Bolsonaro deixou o Planalto pela porta dos fundos. Viajou para fora do país dois dias antes de concluir o mandato, negando-se a transmitir a faixa ao seu sucessor, depois de contestar inúmeras vezes o resultado das eleições.
Lula recebeu 60.341.333 votos (50,90% dos válidos) ante os 58.203.620 votos (49,10% dos válidos) de Bolsonaro no segundo turno, em 30 de outubro. A pequena diferença de votos entre os dois expõe as cicatrizes de um país dividido. Uma divisão que não acabou nem mesmo com o reconhecimento da legitimidade do processo eleitoral pela Justiça e pelas próprias Forças Armadas, que, instadas pelo presidente, não encontraram ilegalidades nas votações.
A defesa da pacificação e da reunificação do país e do combate à fome devem guiar o discurso de Lula logo mais, a exemplo de seus primeiros pronunciamentos após a vitória. “Não existem dois Brasis”, disse ele em seu primeiro discurso na qualidade de presidente eleito.
O novo presidente, que passou 580 dias na cadeia em Curitiba, após condenado por corrupção, sobe a rampa do Planalto depois de ter sido dado como morto politicamente por seus adversários. O Supremo Tribunal Federal identificou ilegalidades na condução do processo e concluiu que não havia provas de que ele havia cometido os crimes que lhe haviam sido atribuídos.
O pernambucano de Garanhuns, de 77 anos, chegou aos sete com a família a Santos (SP), após uma longa viagem em um pau-de-arara. Trabalhou em indústrias de metalurgia e foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Liderou greves na região do ABC Paulista durante a ditadura militar e, em 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Foi deputado federal constituinte por São Paulo (1987-1991) e disputou a Presidência da República por três vezes (1989, 1994 e 1998) até ser eleito (2002) e reeleito (2006). Deixou o Planalto com o maior índice de aprovação popular da história do país. Também enfrentou denúncias contra o seu governo, como o mensalão, identificado como esquema de compra de apoio parlamentar.
O novo presidente casou-se recentemente com a socióloga paranaense Rosângela (Janja) da Silva. Os dois se conheceram durante visitas ela à Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, onde esteve preso. Viúvo de dois casamentos, o último deles com Marisa Letícia, primeira-dama em seus governos, Lula tem cinco filhos.
O petista terá ao seu lado Geraldo Alckmin, um médico paulista de 70 anos, que governou o estado de São Paulo por quatro vezes, sempre pelo PSDB. Também foi deputado constituinte, assim como Lula, deputado estadual e prefeito de Pindamonhangaba. O vice foi escalado por Lula para comandar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Alckmin enfrentou Lula em 2006 na disputa presidencial. Ficou em segundo lugar. Depois de embates internos no PSDB com o ex-governador João Doria, de quem havia sido padrinho político, deixou o ninho tucano em 2022 após 30 anos de filiação partidária. Migrou para o PSB para ser vice de Lula.
O vice-presidente é casado desde 1979 com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, mais conhecida como Lu Alckmin. O casal teve três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz, que morreu em um acidente de helicóptero, em abril de 2015.
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