O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta criticaram a militarização e a falta de um titular para a pasta durante a pandemia de covid-19, que já matou mais de 71 mil pessoas no país. As críticas foram feitas em debate transmitido pelo site da IstoÉ nesse sábado à noite (11).
Gilmar afirmou que a militarização do ministério é péssima para a imagem das Forças Armadas, que se juntam a um “genocídio” no país. “Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa”, afirmou o ministro do Supremo.
“É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, acrescentou.
A pasta é conduzida de maneira interina pelo general do Exército Eduardo Pazuello desde 15 de maio, ou seja, há quase dois meses. Bolsonaro sinalizou na última semana que deverá escolher outro nome para o seu lugar. O último ministro da Saúde, Nelson Teich, ficou um mês no cargo, do qual se afastou após divergências com as orientações do presidente Jair Bolsonaro em relação ao combate à covid-19.
Antecessor de Teich, Luiz Henrique Mandetta também condenou a delegação da condução das ações de saúde pelas Forças Armadas. “Não é nem uma interferência no Ministério da Saúde, é uma aniquilação. Uma ocupação militar do Ministério da Saúde”, afirmou.
Mandetta disse que a pasta perdeu credibilidade e transparência com a ocupação dos militares. Segundo ele, a atual gestão tem escondido informações relacionadas à pandemia. “Em saúde ter segredos é o caminho mais rápido da tragédia”, afirmou. “Na nossa sucessão vieram militares. A primeira coisa que eles fizeram foi não mais mostrar os números 17h, não mais mostrar nada”, criticou.
PublicidadeO ex-ministro declarou que sempre informou Bolsonaro sobre a dimensão da crise, mas que o presidente preferiu ouvir outras pessoas. “O presidente nunca deixou de saber quais eram os cenários reais. Assim como sua Casa Civil, assim como seu corpo de ministros. Sabiam os passos que iam dar, sabiam dos momentos duros que teríamos pela frente”, ressaltou.
Na avaliação de Mandetta, Bolsonaro agiu de maneira deliberada ao desrespeitar as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS). “O presidente falou: ‘Qualquer coisa bote na minha conta, jogue no meu colo’. Ele falou: ‘Essa doença é que nem chuva, eu quero que todo mundo se molhe, porque daí todo mundo já tem essa gripe de uma vez só e acaba com isso”, relatou.
“Não foi por desconhecimento, foi por uma opção de não seguir as orientações do Ministério da Saúde e seguir uma assessoria que ele achava mais pertinente e mais conveniente, o que acabou colocando em descompasso o Ministério da Saúde que ia em uma direção e ele em outra”, reforçou.
O Ministério da Saúde e o Palácio do Planalto não se manifestaram sobre as declarações de Mandetta e Gilmar.
Já o Ministério da Defesa divulgou uma nota em que faz um balanço das contribuições da pasta no combate à covid-19. Veja a íntegra:
“O Ministério da Defesa (MD) informa que as Forças Armadas atuam diretamente no combate ao novo coronavírus, por meio da Operação Covid-19. Desde o início da pandemia, vem atuando sempre para o bem-estar de todos os brasileiros. São empregados, diariamente, 34 mil militares, efetivo maior do que o da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, com 25.800 homens. O MD tem o compromisso com a saúde e com o bem estar de todos o brasileiros de norte ao sul do País. A mobilização desta Pasta começou no dia 5 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Regresso à Patria Amada Brasil. Na ocasião, foram resgatados 34 brasileiros de Wuhan, na China, antes mesmo de aparecer o primeiro caso confirmado de coronavírus no Brasil, em 26 de fevereiro.
A Operação Covid-19, criada em 19 de março de 2020, estabeleceu 10 comandos conjuntos espalhados por todo o Brasil, além do Comando Aeroespacial (COMAE). Os resultados mostram que a operação está atingindo os objetivos a que se propõe. De lá para cá, foram descontaminados 3.348 locais públicos; realizadas 2.139 campanhas de conscientização junto à população, 3.249 ações em barreiras sanitárias e 21.026 doações de sangue; distribuídos 728.842 cestas básicas; produzidos 20.315 litros de álcool em gel e capacitadas 9.945 pessoas para realizar ações de descontaminação.
É ainda importante destacar que já foram transportadas 17.554 toneladas de pessoal e equipamentos médicos via terrestre, 471 toneladas de pessoal e equipamentos médicos via transporte aéreo, voadas 1.334 horas, o equivalente a 14,5 voltas ao mundo.
As Forças Armadas realizam permanentemente atividades subsidiárias para cooperar com o desenvolvimento nacional e defesa civil. Este ano, em face à pandemia causada pelo novo coronavírus, os Ministérios da Defesa e da Saúde, em ação conjunta, intensificaram a assistência à saúde prestada a indígenas em diversas localidades carentes e isoladas do país. As mais de 200 missões em aldeias indígenas somente na Amazônia Ocidental realizam atendimentos de saúde, promovem cuidados básicos de saúde e orientam sobre a prevenção de doenças, sempre respeitando os aspectos socioculturais, condizentes com a realidade de cada etnia.”
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