O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quarta-feira (12) que a inflação continuará sendo um motivo de desconforto para famílias e empresas a curto prazo e defendeu uma comunicação mais assertiva da autoridade monetária para promover uma aproximação com a população.
“É um momento desconfortável para as empresas e famílias, já que a inflação deve seguir em um patamar elevado, fora da meta, e esperamos que a política monetária faça efeito gradualmente”, disse, durante um seminário promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG), no Rio de Janeiro.
Para ele, é importante questionar por que, mesmo com a alta taxa de juros, o país apresenta um dos menores índices de desemprego dos últimos anos. “Nesses momentos, quando se espera conviver com uma inflação fora da meta por um período, é normal surgirem discussões sobre o patamar da taxa de juros no Brasil. A pergunta sobre o patamar isolado da taxa de juros não coloca a questão nos termos corretos. Para mim, a pergunta é: como é possível conviver com uma taxa de juros elevada e, ainda assim, ter a menor taxa de desemprego da série histórica?”, questionou. Ele mesmo respondeu: “A minha percepção é que, ao longo dos anos, diversos setores da economia e da sociedade desenvolveram estratégias para aprender a conviver com juros mais altos.”
Cautela
Galípolo pregou cautela em relação à redução da taxa de juros e disse que se sente confortável em sua relação com o governo. A elevação da taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. “Tenho tido espaço e voz para falar sobre o que imagino que acontecerá no mercado, tentando traduzir e explicar por que isso está ocorrendo”, afirmou.
Ainda durante o seminário, Gabriel Galípolo destacou que a maioria das previsões do mercado sobre o desempenho da economia brasileira foi superada pelos resultados positivos de 2023 e 2024, especialmente em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
“Estamos nos aproximando do quarto ano consecutivo em que o crescimento supera as expectativas, sendo também maior do que o crescimento potencial estimado para o país. Uma das explicações pode ser a ideia de que as reformas implementadas nos últimos anos geraram resultados favoráveis. Embora essa interpretação seja bem recebida, acredito que essa hipótese requer mais investigação e tempo para ser confirmada,” avaliou.
“É razoável supor que as reformas tenham trazido esses benefícios, mas é desafiador encontrar evidências de aumento de produtividade além do setor agropecuário,” acrescentou Galípolo.
Cobrança de Lula
O presidente Lula voltou a defender a redução da taxa básica de juros nesta quarta-feira. Em entrevista à Rádio Diário FM, de Macapá, Lula declarou que é “questão de tempo” até que Galípolo comece a “consertar os juros”. “Eu tenho certeza de que Gabriel Galípolo irá ajustar a taxa de juros neste país, e só precisamos dar a ele o tempo necessário para fazer isso”, afirmou.
O petista criticou novamente o ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, a quem responsabilizou pela alta dos juros. “Foi um cidadão que teve um comportamento muito anti-Brasil no Banco Central. Ele falava mal do Brasil o tempo inteiro, transmitindo descrédito para os empresários, incluindo no exterior, e foi se comprometendo, aumentando cada vez mais a taxa de juros”, pontuou.