Daniel Machado
Especial para o Congresso em Foco
Com as atenções no Congresso voltadas para a posse dos deputados e senadores, um movimento pode passar despercebido na reabertura dos trabalhos legislativos. Derrotados nas urnas, cerca de 200 parlamentares (192 deputados e oito senadores) não terão seus mandatos renovados e devem movimentar ainda mais o tabuleiro político na busca por espaço nas estatais e no segundo escalão da Esplanada dos Ministérios.
Assessores palacianos revelam que há, da parte do governo, uma espécie de dívida de gratidão com deputados e senadores que tiveram suas reeleições comprometidas com o apoio a Lula, sobretudo dos partidos aliados MDB, PSD e União Brasil. Alguns desses, portanto, estão no radar do Palácio do Planalto para futuras indicações.
Ramos e Trad
É o caso do deputado Marcelo Ramos (PSD-AM). Cotado para assumir uma cadeira no Conselho da Petrobras ou até mesmo a assessoria da presidência da estatal, Ramos teve um mandato marcado, entre outras coisas, pela oposição ao governo Bolsonaro. Um ano após assumir a vice-presidência da Câmara, teve de deixar o cargo ao trocar o PL pelo PSD assim que o ex-presidente Jair Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal. A vaga, decidiu a Justiça, cabia à antiga legenda.
Outro integrante do PSD que pagou caro nas urnas por apoiar o presidente Lula foi o deputado Fábio Trad (MS). Representante de um estado onde o ex-presidente Bolsonaro saiu vencedor em 66 dos 79 municípios, o sul-mato-grossense começou a perder votos em massa a partir de 2019, quando liderou um grupo de cerca de 70 parlamentares de 12 partidos até o Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, coube a Trad interceder junto ao ministro Dias Toffoli pela anulação da decisão da juíza federal do Paraná, Carolina Lebbos, de transferir Lula da carceragem da Polícia Federal do Paraná para o presídio do Tremembé, em São Paulo. A sentença foi derrubada pelo Supremo no mesmo dia.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, articula o nome de Trad nos bastidores e o parlamentar e advogado sul-mato-grossense tem seu nome especulado para assumir algum cargo estratégico no Ministério da Justiça ou na Controladoria-Geral da União (CGU).
Kátia Abreu
Já a senadora Kátia Abreu (PP-TO) é visada para atuar em outra frente no governo Lula, de quem aparenta estar cada vez mais próxima. Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, a parlamentar tocantinense tem mais chance de ser nomeada para alguma embaixada do Brasil. Em recente entrevista à Agência DW, Kátia Abreu revelou não ter pretensões políticas. “Não estou cogitando isso. Inclusive cogito até ir para a iniciativa privada. Estou colaborando com o presidente Lula no que for preciso, desinteressadamente”.Correm por fora, ainda, os nomes dos deputados Wolney Queiroz (PDT-PE), Samuel Moreira (PSDB-SP) e Professor Israel (PSB-DF), além da senadora Nilda Gondim (MDB-PB).
Filtro ideológico
Lideranças dos partidos aliados da chamada “Frente Ampla” têm cobrado mais agilidade da parte do governo na nomeação de seus indicados e representantes.
No entanto, o principal gargalo que tem emperrado o processo é o chamado “filtro ideológico”. A revelação foi feita por alguns interlocutores do presidente Lula, que teria admitido a aliados que a “desbolsonarização” da gestão atravanca o processo de escolha desses nomes.
Segundo fonte entrevistada pela agência FolhaPress, o receio de quadros atrelados ao bolsonarismo em funções estratégicas e sensíveis da administração ocorre, principalmente, nos ministérios encabeçados por partidos de centro e recém-aliados ao governo, como é o caso do MDB, PSD e União Brasil.
Exemplo disso deu-se no início de janeiro, quando o policial rodoviário Edmar Camata deixou de ser nomeado comandante da Polícia Rodoviária Federal (PRF) após a descoberta de conteúdos na sua rede social em apoio à Operação Lava Jato e à prisão de Lula.
Em coletiva de imprensa no início de janeiro, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, destacou que, além do filtro ideológico, outros dois pré-requisitos são fundamentais para os futuros contemplados: a “capacidade técnica e a capacidade de influência política no Congresso Nacional”.
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