Na Austrália, cidadãos disputam nos empurrões pacotes de papel higiênico. Na Inglaterra não é diferente. Na Itália o número de mortos aumenta assustadoramente e no Brasil….Bem, no Brasil temos Jair Bolsonaro.
>Ernesto Araújo diz que China tem que pedir desculpa para o Brasil
O governo do Distrito Federal suspendeu aulas em todas as escolas por 15 dias e eventos públicos com a participação de 100 pessoas ou mais. Até a academia que frequento baixou as portas. O mesmo ocorre em várias municípios, mas não a nível nacional. Prefeitos de São Paulo e do Rio de Janeiro, os municípios mais populosos do país, decretaram situação de emergência. Shoppings deverão fechar até o final do mês de abril.
Em países “de primeiro mundo”, atitudes semelhantes já são percebidas há algum tempo. Na Holanda, por exemplo, o brasileiro Leandro Aparecido, que mora por lá, gentilmente me repassou informações sobre algumas decisões tomadas pelo governo. Escolas, cafés, cafés de cannabis e clubes esportivos estão todos fechados por três semanas. Mesmo assim o país tem 1.705 casos de infectados pelo vírus e 43 mortes.
Na Austrália, a brasileira Jéssica de Souza, que mora em Melbourne há um ano e meio, me disse como o governo e pessoas estão lidando com a situação do alastramento do vírus pelo mundo.
No último dia 12, o primeiro ministro da Austrália, Scott Morrison, anunciou um pacote econômico de US$ 17,6 bilhões para, além de dar US$ 750 para cada um dos 6,5 milhões de australianos de baixa renda e valores de US$ 25 mil serão entregues a pequenas e médias empresas para que cubram custos com salários.
A medida é um reforço às atitudes tomadas pelo primeiro-ministro ainda em fevereiro, quando o vírus não havia saído da China. Ele mandou fechar a fronteira para todos que partissem do epicentro da pandemia.
Ainda assim, devido provavelmente a uma Fake News que garantiu que faltaria papel higiênico no país, supermercados estão com prateleiras vazias do produto. Assim que os estabelecimentos são abastecidas pela manhã, cidadãos correm para comprar tudo o que há nas gôndolas por medo de não o conseguirem posteriormente. Jéssica conseguiu comprar dois pacotes apenas anteontem.
A Austrália, com relativa proximidade da China, tem apenas 414 infectados. 5 foram a óbito.
A mesma coisa acontece em cidades da Inglaterra. Paulo Madeira, brasileiro que vive na terra da rainha há mais de vinte anos, me contou que adquirir papel higiênico e sabonete líquido tem sido uma verdadeira batalha diária.
As fotos abaixo foram feitas por ele há três dias em um dos maiores supermercados da cidade de Watford, há 28 quilômetros de Londres.
No Reino Unido há 1.954 caso confirmados de infecção e 55 mortos. Na Itália são 31,5 mil infectados e 2.503 mortes, o maior índice de vítimas depois da China.
Os governos desses países têm agido de forma responsável e com rapidez, determinando o cancelamento de shows, eventos públicos, aulas e o que mais permita a aglomeração de pessoas. Várias empresas adotaram o home-office e assim evitam que seus funcionários fiquem expostos ao vírus.
De acordo com a Global Health Policy, até o dia 18 de março haviam sido confirmados 195.348 casos de pessoas infectadas, quase 10% mais que no dia anterior, além de 7.867 mortes, 402 a mais que no dia 17.
No entanto, infelizmente, o presidente brasileiro não pareceu considerar os riscos claros que o vírus pode provocar, não apenas à população em si, mas ao Sistema Único de Saúde que poderá entrar em colapso em poucos dias.
Até o dia 18 foram registrados 428 casos de pessoas infectadas no Brasil, sendo 14 apenas na comitiva presidencial que esteve em viagem há poucos dias aos Estados Unidos. Há seis casos de morte já confirmados.
Ainda assim, numa demonstração de absoluta dissonância com o restante de seu governo, Bolsonaro fez questão de fazer selfies com seus seguidores que foram às ruas no domingo passado, apertando-lhes a mão. No dia 17, no Twitter, o ministro Sérgio Moro postou vídeo em que explica as consequências para quem descumprir medidas de isolamento e quarentena impostas pelo MJSP e Ministério da Saúde.
O ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta diz que o Brasil deve se preparar para telemedicina, num claro sinal de que espera uma enorme procura por atendimentos hospitalares por parte da população mais idosa do país. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, e o general Heleno confirmaram estar infectados pelo coronavírus.
Os sinais, números e casos estão aí para quem quer ver. Bolsonaro, o presidente mito de muitos, depois de ser virtualmente linchado nas redes sociais e de ver panelaços surgindo em cidades brasileiras devido à sua inconsequente atitude de domingo e de sua transparente falta de preparo para lidar com “isso que tá aí”, parece ter sido convencido de que a situação que domina as redes sociais do mundo e as conversas nos aplicativos de bate-papo, merece total atenção do mandatário do país.
No dia 18 (ontem), ele apareceu usando máscara durante coletiva de imprensa em que anunciou medidas econômicas e na área da saúde. Talvez tenha sido tarde demais.
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