As disputas internas entre áreas distintas do governo Lula na divisão do orçamento vêm travando a divulgação do pacote de corte de gastos prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Esta quinta-feira (7) marcou o quarto dia consecutivo de reuniões entre o presidente e ministros para discutir o assunto sem que uma versão final do texto seja divulgada.
O corte de gastos deve vir em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que será enviada ao Congresso Nacional. Segundo reportagem da jornalista Adriana Fernandes, da Folha de S.Paulo, o governo estuda redesenhar benefícios como o seguro-desemprego, o abono salarial, o seguro-defeso, o Pro-Agro, o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o auxílio-doença para reduzir as despesas. Também considera ampliar a parcela do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) de 30% para 60% na contabilização para cumprir o piso constitucional da educação e permitir o bloqueio dos recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
Os ministros das áreas envolvidas vêm recebendo as medidas com resistência, às vezes verbalizando isso em público. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, disse que pode deixar o cargo se os cortes atingirem algum direito adquirido na sua pasta: “Se isso acontecer, não tenho como ficar no governo”. Na semana passada, o titular da pasta do Trabalho, Luiz Marinho, também falou em sair da função se o governo fizer mudanças nos benefícios gerenciados por seu ministério sem que ele participe da discussão.
O ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento Social, disse nesta noite que o governo não vai cortar “nenhum benefício de quem tem direito ao Bolsa Família e BPC”. Segundo ele, “Lula nunca aceitaria”.
A agenda de reuniões entre Lula, equipe econômica e ministros continua na sexta-feira (8), a partir das 14h. O ministro Fernando Haddad está por conta disso: cancelou uma viagem à Europa nesta semana para se dedicar ao tema em Brasília e, agora, deixou de ir a São Paulo na sexta-feira para dedicar o dia às reuniões. O governo, porém, ainda não confirmou se os termos do pacote saem no mesmo dia. É possível que o impasse se arraste até a semana seguinte.