O périplo que fez por Brasília desde a posse do presidente Lula e dos ministros foi importante para a ex-presidente Dilma Rousseff. Por várias vezes nessas ocasiões, Dilma foi ovacionada. Sem dúvida, se há no retorno de Lula ao comando do país um projeto de redenção pessoal, a redenção de Dilma também está inserida nesse projeto.
O que ocorreu com Dilma é a semente de tudo o que veio a acontecer depois com o PT. O impeachment de Dilma cria as condições para o crescimento da Operação Lava Jato, para a condenação e prisão de Lula e para o surgimento do cenário de frustração e decepção com o PT que levou à vitória de Jair Bolsonaro em 2018. Assim, se Lula vê agora de volta à Presidência a chance de reescrever essa história, reescrever a história de Dilma faz parte também do projeto.
Passa, portanto, pelos projetos de Lula oferecer alguma função honorífica a Dilma. O problema é o que poderia ser. No fundo, desde sempre o grande problema de Dilma foi político. Como presidente, Dilma comprou uma série de brigas. Foi deposta muito mais por falta de condições políticas para permanecer do que exatamente por ter de fato cometido um crime de responsabilidade. Ela mesma argumenta que a Comissão de Orçamento e o Tribunal de Contas da União (TCU) já aprovaram suas contas como presidente. Ora, se aprovaram as contas, não encontraram tecnicamente as tais pedaladas fiscais em um nível que justificasse o crime de responsabilidade.
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Assim, diante de uma eleição apertada, complicada como foi, não seria prudente Lula a dar a Dilma um ministério. Como não deu. As soluções que passam para Lula é dar a ele um cargo internacional. Pensou-se em uma embaixada.
Dilma desestimula de forma veemente essa ideia. Por uma única razão. No caso de vir a ser indicada para uma embaixada, ela terá que passar por uma sabatina no Senado. E Dilma rejeita de forma absoluta essa possibilidade. Acha que será uma oportunidade ímpar para que a oposição a Lula provoque um grande constrangimento. Tanto para ela quanto para o próprio Lula. E considera que a oposição a Lula não perderá jamais essa oportunidade.
Ainda que Lula reúna musculatura para ver a indicação aprovada, certamente senadores como Hamilton Mourão (Republicanos-RS) ou Damares Alves (Republicanos-DF) não perderão a chance de ser agressivos com Dilma.
E certamente construir um ambiente favorável à aprovação de Dilma na sabatina tem algum custo. O Senado que iria sabatiná-la e aprová-la é o mesmo Senado que aprovou o seu impeachment. Pare reverter tal, situação, muitos senadores poderão colocar o taxímetro para rodar na Bandeira Dois.
Dilma tem dito que prefere evitar tudo isso. Tanto no que lhe diz respeito quanto no que diz respeito a Lula. Para ela, seria um grande gasto de energia e cacife político que não compensaria.
Há cargos, porém, que a indicação não depende da sabatina e aprovação do Senado. Para organismos internacionais ligados às Nações Unidas, por exemplo. Nesse caso, o que é preciso é articulação internacional. E, em princípio, tais problemas não existiriam nem para Dilma nem para Lula no momento.
Esse, portanto, parece ser o caminho mais provável para ela. Dilma tem dito que nada pedirá. Só irá avaliar se algo lhe for oferecido. Para ela, porém, parte da redenção já houve com a recepção que teve nas posses. Para além disso, tudo irá depender das condições políticas. O que vale tanto para ela quanto para Lula, presidente que é depois de uma eleição apertada na qual viu surgir uma militância de direita. Que ainda irá lhe dar muito trabalho.
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