Lula inaugurou seu terceiro mandato no Planalto com a ambição de ser o líder político do continente. Tentou recriar a Unasul, sem sucesso, e o Mercosul continua à deriva. Arriscou voos mais altos, oferecendo-se para intermediar acordos nas guerras da Ucrânia e em Gaza. No primeiro caso, o resultado foi um mal estar com os países europeus e com os EUA. Em Israel, foi declarado persona non grata. Não importa muito se os argumentos da diplomacia brasileira estavam ou não corretos. Vale como foram interpretados, especialmente em função da retórica presidencial.
Agora, Lula assiste a uma crise na fronteira, com o impasse em torno da suspeita eleição venezuelana. O Brasil apostou as fichas na disposição de Nicolás Maduro de atuar dentro da legalidade. Perdeu a aposta e perdeu tempo. Agora, tenta recuperar as condições de influir numa solução, mas não tem mais as condições para liderar esse processo. Está restrito ao papel de negociador.
Nesta quinta-feira, Lula afirmou que não reconhece a vitória de Maduro e cobrou a divulgação das atas eleitorais. E voltou a falar na ideia de uma nova eleição — soprada pelo embaixador Celso Amorim, principal formulador da política externa. A repercussão foi péssima tanto entre governistas quanto entre oposicionistas venezuelanos. A tese foi ironizada na imprensa local.
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Em audiência no Senado, a senadora Tereza Cristina perguntou a Amorim se ele faria a mesma proposta no Brasil. Ele se desvencilhou da pergunta afirmando que a ideia não era dele, mas de alguém que não poderia revelar. No entanto, terminou reafirmando a tese: “Se os dois lados dizem que ganharam, poderiam facilmente aceitar”.
O embaixador descartou uma negociação no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), como sugeriu o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken. Para Amorim, atuar com a OEA ficou “impossível”, porque a entidade “não tem crédito junto aos países progressistas”. O embaixador atribui à OEA responsabilidade na fracassada tentativa de Evo Morales de voltar ao poder, em 2019.
Sem as atas eleitorais, os boletins de urnas, Brasília não reconhecerá o governo venezuelano. A crise não está contida. Talvez não chegue a uma guerra civil, expressão que Amorim evita ao alertar para uma “situação perigosa”, mas evidencia o fracasso das tentativas do Brasil de negociação com uma ditadura vizinha no poder.
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