Um dos líderes da oposição na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) aposta que a população sairá às ruas no segundo semestre para protestar contra o presidente Jair Bolsonaro por causa da soma de três crises: a política, a econômica e a sanitária. Na avaliação dele, Bolsonaro dificilmente terá o apoio do Centrão, com o qual forma hoje sua base parlamentar, para assegurar o mandato. O deputado conta que fala por experiência própria.
“O Centrão vai [embora] com a mesma facilidade que vem. Fui líder da Dilma”, adverte o deputado, que era o líder do governo na Câmara no processo de impeachment da petista. Para Guimarães, esse grupo de partidos de centro e direita cede à pressão popular quando percebe que o governo está caindo.
Líder da Minoria na Câmara, ele acredita que a prisão do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) reduz as chances do presidente de concluir o mandato. Para ele, diante da dificuldade da população de sair às ruas para protestar durante a pandemia, a ação do Judiciário impõe pressão maior sobre Bolsonaro. E, para ele, a cassação do mandato de Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, seria mais eficaz se ocorresse por meio do Judiciário, em vez do Congresso, por meio de impeachment.
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“Formou-se consenso de que o método do governo de Bolsonaro são as fake news. O inquérito está nessa direção e tem abrangência até 2018. Se o Brasil quiser se reencontrar com democracia, o caminho é delegar ao povo escolher os próximos governantes, cassando essa chapa e fazendo nova eleição”, defende.
O petista acredita que o país viverá grave conflito no segundo semestre, à medida em que refluir o ritmo da pandemia e agravar as crises política e econômica. “Bolsonaro não sabe conviver com a diferença, a pluralidade. Não sabe governar dentro dos marcos democráticos, não. Em algum momento isso vai estourar. Acho que vai ser depois da pandemia. O povo não vai mais suportar mais. Em todo momento de crise no Brasil – a história republicana mostra isso – o povo vai para as ruas”, observa.
José Guimarães apoia uma união de forças entre políticos de diferentes correntes ideológicas para enfrentar os ataques promovidos pelo presidente e por apoiadores contra a democracia. A luta contra o fascismo não pode ter fronteira, assim como a defesa da democracia. Já a luta por um programa de reformas radicais, que preserve interesses populares, tem fronteiras. E a esquerda tem de comandar”, considera.
PublicidadePara que isso ocorra, ressalta, é necessário que a esquerda apresente um programa emergencial de saída da crise econômica e social. “A história do Brasil é marcada pela polarização entre direita e esquerda. Vai continuar assim. Engana-se quem acredita que vai ser entre a direita e a ultradireita, essas forças que fazem sinecuras buscando apoio. Não vai”, afirma o líder oposicionista.
José Guimarães minimiza as críticas trocadas entre o ex-presidente Lula e o ex-governador Ciro Gomes (PDT). “Não tem antagonismo entre Lula e Ciro. Tem do Ciro com o Lula, que nunca falou mal dele. O Ciro tem tido postura de cultivar o antipetistmo, isso não é bom para a esquerda. Não vamos levar em consideração isso. Mas, sim, uma saída pela esquerda que possa preservar democracia, direitos, as liberdades”, diz o petista.
O líder da Minoria apoia a condução da crise política pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem sido criticado por parlamentares por não analisar as dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro e por não aumentar o tom ao rebater os ataques de Bolsonaro ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas admite que o Parlamento poderia ter uma reação mais contundente contra o presidente. “O Brasil está muito tensionado. Há um conflito permanente entre o Bolsonaro e a democracia, e os seus sustentáculos como o STF e o Congresso. O Congresso é muito passivo. Hoje o STF cumpre função dupla, a dele e a do Congresso, diante das ameaças constantes à democracia brasileira”, avalia o deputado.
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