Em busca de consolidar base no Congresso e palanques estaduais para 2022, o presidente Jair Bolsonaro e o PL selaram o que pode ser visto como um estratégico “casamento” de conveniências. Após dois anos sem legenda, Bolsonaro se filiou ao partido do ex-deputado Valdemar da Costa Neto nesta terça (30). A cerimônia, em Brasília, contou com gritos de “mito”, ataques diretos ao pré-candidato Sérgio Moro e propagandas do Auxílio Brasil junto a uma plateia composta por ministros, governadores e lideranças políticas estaduais, mas também nacionais como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A filiação garante a Bolsonaro, além de uma legenda para concorrer às eleições do próximo ano, uma das siglas mais fortes e representativas – ao lado do PP – do chamado Centrão no Legislativo federal. Enquanto isso, o PL mira no aumento no tamanho da bancada e, consequentemente, dos fundos eleitoral e partidário, calculados com base no resultado das eleições legislativas.
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Apostas internas dão conta de que, com a migração do presidente para o PL, aporte junto um grupo de parlamentares e políticos atualmente filiados a legendas como o PSL capaz de elevar o tamanho da bancada de 43 para aproximadamente 70 parlamentares federais. Caso eleja uma bancada na Câmara desse porte em 2022, como acreditam algumas lideranças da legenda, o partido poderá ficar com até 1/7 do fundo eleitoral. A aposta é alta. Para se ter uma ideia, em 2018, PSL e PT elegeram cerca de 50 deputados.
“Eu agradeço a confiança que o Valdemar depositou em mim. Pode ter certeza de que nenhum partido será esquecido por nós, queremos sim compor nos estados, a Senado e a governador, para que possamos fazer com que, cada vez mais, termos menos diferença entre nós”, disse o presidente no momento da filiação.
Na avaliação do líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (PSL-GO), o ingresso de Bolsonaro no PL traz perspectivas para votações importantes que devem dominar a pauta da Casa no próximo ano. Ele também mencionou que essa união traz um novo gás a pautas conservadoras defendidas pelos bolsonaristas.
“É mais um passo para a reeleição do nosso presidente, é algo importantíssimo para o Brasil. É a consolidação da direita conservadora. A gente espera, de verdade, que tenhamos a reeleição dele e que vários outros presidentes de direita. E acho que com o PL tendo o presidente da República é bom para o PL e bom para o presidente passa a ter mais um partido “orgânico”, falou.
PublicidadeAtaques a Moro
Diferentemente de outras ocasiões, o ex-presidente Lula não esteve no centro dos ataques dos discursos bolsonaristas durante a filiação do presidente ao PL. Ao invés disso, durante o ato de filiação do PL, foi o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, recém-ingresso na vida partidária e pré-candidato à Presidência em 2022, quem teve esteve no centro da fala do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que também se filiou ao PL.
Flávio comparou Moro a um Judas dentro do governo Bolsonaro e o chamou de “traidor”.
“Tem um ditado na política que diz o seguinte: ‘A política pode até perdoar traição, mas não perdoa o traidor. […] Traidor é aquele que por ação ou omissão interfere na Polícia Federal”, disse, sem citar o nome do ex-juiz.
Ao deixar o cargo de ministro em 2020, Moro acusou Bolsonaro de tentativa de interferência no comando da Polícia Federal para proteger aliados e seus parentes, como Flávio, alvo de processo no caso das rachadinhas.
Moro se filou ao Podemos em novembro e, desde então, tem cavado espaço para fortalecer seu nome como uma opção de terceira via. O ex-juiz aposta fichas em redutos outrora bolsonaristas e para isso mantém contatos com ex-aliados do presidente e parlamentares do PSL que o tem ajudado, dentre outras coisas, a construir agendas de rua.
Bolsonaro sinaliza trégua nos estados
Os impasses regionais foram o estopim de uma crise que por pouco não fechou as portas da legenda para Bolsonaro.
O presidente tem defendido nomes escolhidos por ele para concorrerem nos estados, mas os diretórios locais já haviam começado organizações próprias como é o caso de Pernambuco e São Paulo, onde estavam avançadas as conversas com o PSDB para o governo, o que resultaria em uma possível divisão de palanque com João Dória e no Piauí, estado em que há aproximação do PL com o PT.
Apesar de voltar a citar nomes que potenciais candidatos ao governo, Bolsonaro preferiu um discurso mais brando que de costume durante a filiação.
Ele citou como nomes competitivos para as cabeças de chapa estaduais: Victor Hugo, em Goiás, João Roma, na Bahia, Eduardo Gomes, em Tocantins e Ricardo Barros, no Paraná. Porém, os ministros Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), outrora defendido por Bolsonaro para o governo de São Paulo, e Gilson Machado (Turismo), para Pernambuco, não foram mencionados por ele como possíveis candidatos por Bolsonaro durante seu discurso.
Gilson Machado, aliás, apesar de ter sua filiação à sigla aguardada, não compareceu ao evento – estava em viagem internacional. Enquanto isso, Tarcísio de Freitas esteve presente, mas silenciou diante de questionamentos da imprensa sobre as eleições paulistas.
Ala de ministros
O ato de filiação de Bolsonaro ao PL reuniu pelo menos 15 ministros, além de aliados de dois governadores. Com o acesso restrito a autoridades, profissionais da imprensa ficaram do lado de fora e tiveram que acompanhar a cerimônia por um telão.
Uma das autoridades mais aclamadas na entrada do evento foi o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, cotado para concorrer ao governo de São Paulo. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também é cotado para concorrer ao governo do Rio Grande do Sul pelo partido. Ele é filiado ao DEM.
Também estavam presentes os ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), Flávia Arruda (Secretaria de Governo, única que já é filiada ao PL), Ciro Nogueira (Casa Civil), Marcelo Queiroga (Saúde), João Roma (Cidadania), Paulo Guedes (Economia), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Fabio Faria (Comunicações), Milton Ribeiro (Educação), Tereza Cristina (Agricultura), Anderson Torres (Justiça) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral).
Os governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e de Roraima, Antônio Denarium, também compareceram à filiação do presidente. Denarium é antigo aliado do presidente. O governador deixou o PSL junto com Bolsonaro em 2019 e também deverá se filiar ao PL.