Nunca antes na história deste país a (suposta) ação criminosa de um hacker foi tão bem-vinda quanto à que teria resultado na adulteração do cartão de vacinação de Bolsonaro. É cômodo, é conveniente, é necessária para o momento e é, sobretudo, muito bem engendrada a farsa segundo a qual Bolsonaro nunca tomou a vacina. E se apareceu o registro da vacina no cartão dele é porque o cartão teria sido adulterado. Fácil, né?
Cada vez fica mais evidente que Bolsonaro deve ter tomado essa vacina. Até porque, ao contrário do machão que alardeia ser, não passa de um covarde que sequer teve a coragem de permanecer no Brasil após sua derrota. Alguns integrantes do gado se danaram ao saber que tinha viajado pros Estados Unidos enquanto eles pegavam chuva e frio nos acampamentos em frente aos quartéis. A equipe que o teria vacinado com a Jansen em 19 de julho de 2021 na Unidade Básica do Parque Peruche, em São Paulo, prestaria um imenso e inestimável favor ao país se viesse a público e confirmasse que Jair Messias Bolsonaro, além de maior de idade, é vacinado, sim. O que ele não quer é que essa informação se confirme para não ficar mal diante de sua boiada. Porque a rapaziada ia cobrar: por que foi que ele não virou jacaré? Nem Aids?
Nos computadores, tudo deixa rastros
O ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, confirmou que existe o registro de vacinação contra a covid-19 no cartão de Bolsonaro. Resta saber se o dado é real ou se o cartão foi adulterado. Para quem entende minimamente de TI (Tecnologia da Informação), como é o meu caso, parece simples, até pueril ir ao sítio onde está guardado virtualmente esse cartão e verificar se alguma alteração foi feita nele recentemente. Pois tudo, rigorosamente tudo o que é feito com qualquer documento guardado em computador ou arquivo virtual de dados – como este artigo que estou escrevendo aqui – ganha uma data. E toda vez que eu voltar a ele e modificá-lo de alguma forma, a data da modificação ficará registrada. Se é assim para o comum dos mortais como eu e você, muito mais rigoroso esse controle em se tratando da mais alta autoridade do país e de um site da importância do Conect-SUS, não é?
Se houver mesmo a disposição e as condições para o exame isento do documento virtual por técnicos independentes, será possível esclarecer em segundos se o lançamento da vacina em Bolsonaro foi feita mesmo e em que data. Um amigo que vem há anos se dedicando ao estudo dos ambientes virtuais me lembrou que uma informação armazenada para ser gerada dinamicamente sob demanda num site como o do Conect-SUS, os dados ficam guardados num sistema gerenciador de banco de dados (SGBD), que conta com diversas medidas de segurança. Apesar de sempre ser possível a um hacker “de ponta” alterar dados num SGBD, esses dados são muito bem protegidos e guardados de forma criptografada, pra evitar invasões.
Nas palavras desse amigo, “é muito difícil hackear um sistema assim, gerenciado profissionalmente, e praticamente impossível fazer isso sem que rastros e pegadas sejam deixados pelo caminho”. Se as pegadas dos eventuais hackers forem recentes, dará para desconfiar da veracidade da informação sobre a vacinação de Bolsonaro. Mas se forem pegadas antigas, Bolsonaro já era. O que parece e sempre pareceu muito claro é que capitão tomou a vacina. Mas não quer que ninguém saiba disso, razão pela qual impôs sigilo de 100 anos ao próprio cartão de vacinação.
Como anotou o jornalista Thales Faria, “Bolsonaro mente porque teme que isto resulte numa prova decisiva para um eventual processo responsabilizando-o pelas centenas de milhares de mortes na pandemia. Se ele, como presidente da República, atuou para que as pessoas não se vacinassem, sabendo que esta era a forma de se proteger — tanto que ele próprio se vacinou — então pode ser acusado de ter-se utilizado de má-fé”.
O sigilo é a melhor prova de que aí tem…
Por enquanto, segundo o ministro disse em entrevista à CNN Brasil, “esse registro (da vacinação de Bolsonaro) existe”. A carteira de vacinação dele, que se posicionava aberta e irresponsavelmente contra a vacina, dando um péssimo exemplo à nação e contribuindo criminosamente para as quase 700 mil mortes pela covid, está passando por uma avaliação da CGU, que examina a suspensão do sigilo imposto ao documento. Agora, leitor ou leitora, chegue aqui mais perto, só entre nós: por um simples raciocínio lógico é possível depreender que Bolsonaro, em vez de esconder esse cartão, teria era um enorme ORGULHO em exibi-lo com a informação de que NÃO TOMOU A VACINA!
Agora, se impôs o sigilo, se quer manter escondido o documento por um século, então é porque não quer se desmoralizar e se auto-incriminar por ter recomendado o uso de placebos como a cloroquina enquanto se vacinava. Aí, meus compadres e minhas comadres, isso caracteriza… crime! Crime hediondo, contra a humanidade. Esse sigilo de 100 anos significa alguma coisa, é ou não é? Como se diz em qualquer boa roda de boteco: aí tem… Ah, tem!
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário