Depois de idas e vindas do presidente Jair Bolsonaro (veja nos vídeos mais abaixo), o domingo (15) começa sob incerteza de como serão os atos convocados por apoiadores do governo contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns dos movimentos organizadores, como o Nas Ruas, o Avança e o São Paulo Conservador anunciaram o adiamento do ato em função do crescimento do coronavírus no Brasil, como pediu Bolsonaro em sua última manifestação sobre o assunto.
Mesmo assim, há grupos e militantes nas redes sociais prometendo sair às ruas neste 15 de março por meio das hashtags #BolsonaroDay e #DesculpaJairMasEuVou. Apoiadores de Bolsonaro e defensores do fechamento do Congresso estimam que haverá atos em mais de 200 cidades. Estimulados pelo próprio presidente, alegam que o Legislativo não o deixam governar.
A expectativa é que as manifestações sejam esvaziadas em algumas das principais capitais do país, como Rio de Janeiro e Brasília, onde as aglomerações de pessoas estão sob restrição como medida preventiva contra o coronavírus.
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Embora negue que os protestos fossem direcionados contra o Congresso, Bolsonaro pediu, em sua live e em cadeia de rádio e TV, na quinta, que os manifestantes adiassem o evento “para daqui a um ou dois meses”, porque, segundo ele, “já foi dado um tremendo recado para o Parlamento”. Fundado pela deputada Carla Zambelli (PSL-SP), o Nas Ruas foi o primeiro movimento a ceder ao apelo de Bolsonaro.
Na quarta, a deputada disse ao Congresso em Foco que esperava reunir 70 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo. Mas admitia que o ato havia dado uma “murchada” após o envio de projetos do governo ao Congresso regulamentando a divisão de R$ 30 bilhões do orçamento entre Executivo e Legislativo. “As pessoas pensam que o presidente fez acordo. Mas ele não fez”, disse ela à reportagem.
A deputada, inclusive, publicou em seu Twitter, um pedido para que os manifestantes não fossem para os atos. “Vocês, ativistas e apoiadores, já deram um exemplo de mobilização, engajamento, consciência e patriotismo. Vocês JÁ SÃO VITORIOSOS (sic), sem nem mesmo terem ido às ruas. Na hora certa, todos nós voltaremos às ruas, onde sempre estivemos”, disse a congressista.
PublicidadeNaquela mesma quarta, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro a uma proposta que ampliava o universo de usuários do Benefício de Proteção Continuada (BPC), uma derrota política que, nas contas do governo, custará R$ 20 bilhões por ano. O resultado da votação foi considerado um recado a Bolsonaro, que havia manifestado apoio em ao menos dois momentos aos atos convocados contra o Parlamento e o Supremo.
Primeiro, Bolsonaro compartilhou pelo Whatsapp vídeos com convocação para os protestos. O episódio foi revelado pela colunista Vera Magalhães, de O Estado de S. Paulo. O presidente negou e disse que o vídeo chamava para atos de 15 de março de 2015. Mas foi desmentido pela divulgação de reproduções das mensagens, que mostravam imagens dele sendo esfaqueado em Juiz de Fora, em 2018. O episódio serviu, mais uma vez, para ele atacar a imprensa.
No início da semana, porém, ele defendeu publicamente a realização de atos que, segundo o presidente, não seriam contra o Congresso, mas a favor do governo e do Brasil. A convocação foi feita também pela conta oficial da Secretaria de Comunicação da Presidência, o que aumentou o incômodo dos parlamentares.
Veja as idas e vindas de Bolsonaro sobre protestos:
– O vídeo compartilhado no Whatsapp:
– Bolsonaro diz ter compartilhado outro vídeo e ataca jornalista
– Jornalista desmente o presidente
– Bolsonaro desestimula atos por causa do coronavírus
Dia do foda-se
As manifestações foram chamadas inicialmente de “dia do foda-se”. Apoiadores do presidente passaram a convocar um ato em defesa do presidente para o dia 15 de março após as declarações do ministro general Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) de que o Congresso estaria chantageado o Planalto.
Em uma conversa privada com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Luiz Eduardo Ramos (Governo), a respeito do orçamento impositivo, Heleno disse: “Nós não podemos aceitar esses caras chantagearem a gente o tempo todo. Foda-se”.
Desde então, o tom de convocação da manifestação tem sido de fortes críticas ao parlamento, com ataques pessoais a Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) e ofensivas institucionais contra a Câmara e o Senado. Em linhas gerais, as convocações do ato defendem que o parlamento tem agido contra as tentativas do Planalto de implementar projetos benéficos ao país.
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