O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno afirmou nesta segunda-feira (23) ao Congresso em Foco que vai interpelar na Justiça o presidente Jair Bolsonaro por ter sugerido, em entrevista à revista Veja, que ele teve participação no atentado praticado pelo desempregado Adélio Bispo, em Juiz de Fora (MG), durante a campanha eleitoral. Bebianno disse que pretende apresentar a ação no início do próximo ano. “Já estou me mexendo para promover uma interpelação criminal. Depois, ação cível”, explicou.
Para o ex-ministro, que presidiu o PSL e coordenou a campanha de Bolsonaro, o presidente precisa de tratamento psiquiátrico. “A raiva passou. Sinto pena. O Jair está nitidamente desequilibrado. Precisa urgentemente de tratamento psiquiátrico. Estou também preocupado, uma vez que o país está sob seu comando. Isso tudo é muito triste. Não era para ser assim”, declarou.
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Na entrevista a Veja, Bolsonaro não chegou a citar o nome de Bebianno, mas fez ilações que remetem ao ex-aliado. “O meu sentimento é que esse atentado teve a mão de 70% da esquerda, 20% de quem estava do meu lado e 10% de outros interesses. Tinha uma pessoa do meu lado que queria ser vice. O cara detonava todas as pessoas com quem eu conversava. Liguei para convidar o Mourão às 5 da manhã do dia em que terminava o prazo de inscrição. Se ele não tivesse atendido, o vice seria essa pessoa. Depois disso, eu passei a valer alguns milhões deitado”, disse Bolsonaro.
O presidente já acusou o ex-ministro de atrapalhar a candidatura do hoje deputado Luiz Philippe de Orleáns e Bragança (PSL-SP) a vice-presidente por meio de um falso dossiê. Bebianno gravou um vídeo, na ocasião, negando ter produzido qualquer material contra Luiz Philippe ou qualquer outro postulante a vice de Bolsonaro.
“O presidente deveria buscar tratamento. Um bom remédio é amar mais e odiar menos. Reflexão sobre o passado também ajuda. Cuspir no prato que comeu é muito feio”, criticou. “Esse período do ano é propício para isso. Ele deveria aproveitar”, acrescentou.
PublicidadeApós a publicação da entrevista, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) relatou no Twitter que o ex-ministro insistiu para que ela assumisse a candidatura até horas antes de o general Hamilton Mourão ser escolhido e anunciado como companheiro de chapa do presidente.
Bebianno afirmou que Bolsonaro tem disparado reiteradas mentiras contra ele e demonstrado ingratidão. “No primeiro momento, fiquei com muita raiva. Só fiz o bem para esse cara. Carreguei a campanha nas costas, assim como o partido. Eu e o deputado Julian Lemos. Trabalhamos incansavelmente. Não aceito mentiras e acusações de qualquer natureza”, afirmou.
O ex-ministro também contou que tomou medidas de segurança depois de receber ataques de Bolsonaro. “A irresponsabilidade do presidente me obriga a isso. Mas o Poder Judiciário examinará toda essa questão”, disse.
Bebianno foi demitido por Bolsonaro em fevereiro após ser bombardeado internamente e nas redes sociais por Carlos Bolsonaro, seu desafeto desde a campanha eleitoral. Em outubro, em outra entrevista ao Congresso em Foco, ele declarou que o presidente deixou o poder subir à cabeça, abandonou suas promessas de campanha para proteger e favorecer os filhos, cercou-se de “loucos” e faz uma gestão marcada pelo autoritarismo, pelo “desarranjo mental”, pela irresponsabilidade e pelo “desgoverno”.
Na ocasião, o advogado disse acreditar que o desfecho da passagem de Bolsonaro pelo Palácio do Planalto será mais uma página triste da história política brasileira: ou ele renunciará, ou sofrerá impeachment ou, na hipótese mais grave, tentará uma ruptura institucional, um golpe de Estado. Bebianno se filiou em novembro ao PSDB e trabalha pela candidatura presidencial do governador João Doria, de São Paulo.
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