A lista continua lá: no “A”, o ativista Abdias Nascimento abre a lista, que passa pelo “M”, de Milton Nascimento, pelo “T”de Tim Maia e pelo “Z” de Zumbi, que dá nome à Fundação. Há espaço também para estrangeiros, como a cantora sul-africana Miriam Makeba, o ativista norte americano Martin Luther King e o líder congolês Patrice Lumumba.
Mas desde ontem, a lista de personalidades negras da Fundação Palmares conta com dois nomes a menos, aparentemente por ordem de seu presidente, Sergio Camargo. Na exclusão mais polêmica, anunciada pelo Twitter nesta quarta-feira (30), o nome da deputada Benedita da Silva (PT-RJ) deixou de integrar o rol de homenageados no site.
A retirada de Benedita do panteão era um plano antigo de Camargo: ainda em junho, ele afirmou ter determinado a revisão da lista, para que “ícones da esquerda vitimista” deixassem de ser homenageados pela Fundação.
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O argumento era de que personalidades “destituídas de mérito e nobreza” não seriam homenageados em sua gestão. Outro nome apontado como alvo por Camargo era o da ex-vereadora Marielle Franco, morta em março de 2018 no Rio de Janeiro – mas Marielle jamais integrou o panteão de personalidades negras da Fundação Palmares durante a gestão de Camargo, como mostram antigas versões da lista presentes em arquivos digitais online.
O motivo da exclusão de Benedita, segundo Camargo, teria sido a conduta da parlamentar. “Benedita responde pelo crime de improbidade administrativa e seus bens foram bloqueados pela Justiça”, escreveu Camargo, que ainda completou: “O preto, o pobre e o favelado são as maiores vítimas da corrupção.”
O nome da deputada Benedita da Silva (PT) foi excluído da lista de Personalidades Negras da Fundação Palmares.
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Benedita responde pelo crime de improbidade administrativa e seus bens foram bloqueados pela Justiça.
O preto, o pobre e o favelado são as maiores vítimas da corrupção.— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) September 30, 2020
A atuação da parlamentar em movimentos sociais remonta ainda à década de 1960, em atuações contra a violência policial no morro Chapéu-Mangueira, no bairro carioca do Leme, onde foi criada. Benedita foi a primeira senadora negra do país, eleita pelo Rio de Janeiro em 1994, além de ter participado da Assembleia Constituinte, sido eleita vereadora e deputada pelo Rio de Janeiro. Ela também assumiu o governo do Rio de Janeiro em 2002, quando o então governador Anthony Garotinho (PSB) se aventurou em uma candidatura presidencial.
> Racismo exige ações afirmativas também nas empresas, escreve deputado Marcelo Ramos
Sua filiação histórica ao Partido dos Trabalhadores serviu como uma das razões para o seu descrédito com a atual direção da Fundação Palmares. Em outro tuíte, publicado nesta quinta-feira, Camargo apresentou um vídeo onde Benedita lamenta não poder visitar o ex-presidente Lula – acredita-se que o vídeo tenha sido gravado enquanto Lula estava preso, no final de 2018. “Diferente da deputada, não tenho bens bloqueados pela Justiça nem respondo por crime de improbidade administrativa. Muito menos choro por corruptos e bandidos”, escreveu.
Benedita não foi a única vítima do apagamento dentro da Fundação Palmares: horas depois, foi a vez de Sergio Camargo anunciar a retirada de João Francisco dos Santos (1900-1976), do rol de personalidades negras. Madame Satã, como era conhecido, foi um transformista que fez sua fama na primeira metade do século XX no Rio de Janeiro. Suas performances teatrais e artísticas fizeram tanta fama quanto sua vida marginal – o pernambucano respondeu a trinta processos criminais, sendo condenado por dez deles a quase 28 anos de prisão em diversos momentos da vida.
Foi essa a principal razão apontada pelo diretor da Fundação Palmares para a retirada de seu nome do rol de personalidades negras. “A Fundação não presta homenagem a bandidos. Defende a Cultura”, escreveu o presidente da Fundação.
O criminoso João Francisco dos Santos, o Madame Satã, foi excluído da lista de Personalidades Negras da Fundação Palmares. Satã acumulou 27 anos de cadeia por 3 homicídios, 13 agressões, furtos, desacatos, etc. A Fundação não presta homenagem a bandidos. Defende a Cultura. 🇧🇷 pic.twitter.com/aHT6Zqd7Jk
— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) October 1, 2020
O Congresso em Foco procurou Benedita da Silva para entender seu posicionamento, mas a parlamentar, em campanha pela prefeitura do Rio de Janeiro pelo PT não retornou os contatos. Pelas redes sociais, ela respondeu aos comentários de Sergio Camargo com um vídeo onde o acusa de ser um “Capitão do Mato” – termo que designava, no período colonial, serviçais de fazendas responsáveis pela recaptura de escravos fugidos. Nos dias atuais, também representa um negro que lute contra as causas da luta negra.
Ataques coordenados estão acontecendo desde domingo, com acusações infundadas e conteúdo racista. Mas eles não vão me calar e eu não vou recuar. Sou uma mulher forte e a luta nunca para. ✊🏿 pic.twitter.com/swQbuFX6LZ
— Benedita da Silva (@dasilvabenedita) October 1, 2020
“Depois de excluir Mandela e Zumbi dos Palmares da galeria de personalidades negras da fundação, o capitão do mato retirou o meu nome desta galeria”, disse Benedita em seu vídeo. Os nomes de Zumbi dos Palmares e do ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, porém, continuam na página da Fundação.
A Fundação Palmares foi contatada para explicar como se alteram os critérios para inclusão e exclusão da lista, mas ainda respondeu aos contatos.
>Racismo faz deputados resgatarem projeto que acaba com o auto de resistência
>Movimento de mulheres negras pede ao STF ações contra o racismo e a violência de gênero
Impressionante como olavismo se parece com um culto, onde negros como esse da fundação palmares é lobotomizado pelo astrologo e odeia a propria cor.
Negra, mulher e faveladra.
Eu ouvi muuuuuuu
Já eu ouvi iiiiióóóóóóóó……..
É cada ”personalidade”. O Lumumba era um guerrilheiro marxista aliado da URSS, pretendia instalar a democracia com ditadura do ”proletariado”.