O acordo firmado entre sindicatos ligados ao serviço público federal e o Ministério da Gestão e Inovação na última quinta-feira (25), determinando o reajuste dos auxílios trabalhistas, não marca o fim da pressão das categorias sobre o governo. Segundo líderes sindicais, a tendência agora é de acontecer o contrário: a negociação ao redor da reivindicação por um reajuste salarial de 7% a 10% continuará nos próximos meses, podendo inclusive aumentar a intensidade.
O serviço público federal está em campanha por reajuste salarial desde antes da posse do atual governo. Em 2023, foi aprovado um aumento de 9% para todas as categorias, valor este que não é suficiente para recompor as perdas acumuladas com a inflação desde o congelamento iniciado em 2016, na gestão de Michel Temer. Com isso, os sindicatos preservaram as demandas.
O acordo pelo reajuste dos auxílios de alimentação, creche e saúde, de acordo com o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas do Estado (Fonacate), Rudinei Marques, significou um avanço importante para igualar as condições de trabalho dos servidores do Executivo às do Judiciário. Por outro lado, ele vem acompanhado de um desafio intenso para o governo: a abertura de todas as mesas de negociação específicas, individualizando a articulação com cada carreira do funcionalismo público.
Rudinei explica que essa expansão do rol de mesas específicas chega como uma faca de dois gumes no processo de negociação. “Por um lado, o governo consegue aliviar a pressão coletiva ao não precisar mais negociar com todo o bloco de servidores públicos de uma só vez. Por outro, ao fragmentar essa articulação, cada categoria vai realizar sua própria mobilização, podendo inclusive resultar no aumento do número de greves nos próximos meses”.
Outro desafio que o governo terá de enfrentar nesse processo é a aceleração da própria atividade dessas mesas de negociação. “O Ministério da Gestão e Inovação abriu 20 mesas específicas em setembro do ano passado, e muitas permanecem abertas até hoje. Com o acordo, eles precisam apresentar um calendário de abertura de outras 60 mesas até junho. Terão de fazer em dois meses muito mais do que não conseguiram em sete”, apontou.
A Fonacate não foi a única entidade a anunciar o plano de continuar a pressão pelo reajuste salarial. A Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal, que reúne sindicatos de todos os estados, também anunciou que planeja dar andamento às ações.
PublicidadePerda de entregas
O líder sindical relata que, em meio aos constantes adiamentos e atrasos nas negociações junto ao Ministério da Gestão e Inovação e da Fazenda para conseguir um reajuste salarial compatível com as demandas dos funcionários públicos federais, muitas instituições de Estado acabam atrasando suas entregas ou perdendo ritmo de atendimentos.
“Perde-se muito tempo com essas discussões que demoram para avançar. Na nossa carreira aqui mesmo, na Corregedoria-Geral da União e Tesouro Nacional, há dois meses que toda quarta-feira nós temos que fazer assembleia para atualizar o pessoal sobre o que avançou, o que não avançou, as expectativas. Pelo simples fato de ter uma mesa aberta, todo o setor quer saber o que está acontecendo”, conta Rudinei Marques.
Essas assembleias acabam por gastar o tempo que os servidores pretendiam utilizar para entregar suas próprias demandas. “Em muitos casos, a demora no governo em apresentar propostas de reajuste compatíveis com as demandas das categorias acaba até mesmo por interromper a prestação dos serviços, como estamos vendo com a paralisação dos servidores nos Institutos Federais de ensino”, alertou.
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