Dois meses após o crime, a deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP) vê com ceticismo o andamento das investigações sobre o assassinato de seu irmão, Diego Bomfim, e outros dois colegas médicos paulistas em outubro no Rio de Janeiro. Posição compartilhada por seu marido, o também deputado Glauber Braga (Psol-RJ). Em entrevista ao Congresso em Foco Talk, nesta quinta-feira (21), os dois apontaram “lacunas” e “fragilidades” nas apurações sobre a execução de Diego, Marcos de Andrade Corsato e Perseu Ribeiro Almeida.
Veja o momento em que Sâmia fala sobre o assunto:
Em outubro deste ano, os três médicos foram assassinados a tiros em um quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde participariam de um congresso médico. Uma quarta vítima, Daniel Sonnewend Proença, sobreviveu ao ataque. A linha de investigação da Polícia Civil indica que as vítimas foram executadas por engano, porque Perseu foi confundido com o miliciano Taillon Alcântara Pereira Barbosa.
Antes da investigação das autoridades, foi levantada a hipótese de se tratar de um crime político. “Acho que passou na cabeça de todo mundo se não foi um crime político. E é normal pensar isso porque é muito recente o assassinato da Marielle, porque há um trauma social diante da não resolução desse crime, e a não resolução acaba se tornando uma naturalização de que coisas assim possam acontecer no Brasil”, disse Sâmia.
Para a deputada, o país atravessa “um problema estrutural e de falência do modelo de segurança pública”, que obedece a uma lógica de controle territorial. Isso se reflete, segundo ela, em fragilidades na investigação, como a substituição do chefe da Polícia Civil, responsável pelo inquérito, três dias após o crime por decisão da Assembleia Legislativa do estado.
“Os instrumentos de investigação são muito frágeis. Ou seja, no Brasil, não se investe e não se preocupa com ciência e tecnologia, equipamentos e condição para que crimes assim possam ser solucionados. Por outro lado, se investe, se alimenta e se acredita muito nessa lógica da atuação ostensiva, da repressão. E, cada vez mais, principalmente a partir do governo Bolsonaro, numa responsabilização individual pela própria segurança”, diz a congressista.
Glauber Braga concorda com o posicionamento de Sâmia. Ele aponta que existem “lacunas evidentes” na investigação e avalia que “não há marco de modificação” se as atuais forças de poder continuarem a governar o estado. “Nós não teremos uma modificação estrutural do que é a representação do papel da investigação, e o que é uma outra lógica de segurança, que nós consideramos que seja uma segurança dos direitos”.
Segundo o deputado, a noção de segurança pública da esquerda passa pela garantia de direitos. “Nossa lógica de segurança não é de natureza repressiva e de controle territorial contra a pobreza. A nossa é de garantia de direitos que são sistematicamente desrespeitados e que quando você investe neles, você tem condições concretas de diminuir os índices de violência”, defendeu.
Em relação às expectativas para o fim do inquérito, Sâmia Bomfim explica que a família deseja o máximo de informações possíveis. Ela ainda destaca que espera que o drama pessoal vivido possa construir, na medida do possível, uma outra cultura de paz e um efetivo combate à lógica do poder e do crime. Segundo a deputada, na falta de uma conclusão, prevalece com mais força a tese policial de que o crime foi cometido porque um dos médicos foi confundido com um miliciano por um grupo rival.
“É a única tese que existe, é a única polícia que está investigando, diante dessas condições de fragilidade. Sinceramente, para nossa família, o que a gente quer é ter o máximo de informação possível, o direito de entender o que aconteceu para tentar tocar a vida e levar adiante”, disse Sâmia. “Além do drama pessoal, é uma responsabilidade de entender mais sobre a temática da segurança pública, pensar sobre isso não só do ponto de vista do mandato, mas do ponto de vista individual. Que sirva para construir uma outra cultura de paz e combater a lógica do poder e do crime que mata inocentes todos os dias”, afirmou.
Confira a íntegra da live:
Perfil dos parlamentares
A deputada de 34 anos é formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e servidora na área técnico-administrativa da mesma universidade. Vereadora mais jovem da capital paulista, aos 27 anos, Sâmia está em seu segundo mandato federal. Ela liderou a bancada do Psol na Câmara em duas oportunidades. A parlamentar foi a principal liderança da base governista na CPI do MST, concluída sem aprovação de relatório. Ela foi escolhida como a melhor deputada do ano pelo Prêmio Congresso em Foco, tanto pelo público quanto por jornalistas que cobrem o Congresso.
Aos 41 anos, Glauber Braga está em seu quinto mandato de deputado federal. Em 2018 ele foi escolhido como o melhor deputado do ano pelo júri do Prêmio Congresso em Foco. Bacharel em Direito, Glauber foi secretário municipal em Nova Friburgo (RJ) e dirigente estadual do PSB, partido pelo qual chegou à Câmara em 2009 e do qual se desligou, em 2015, após divergências internas para se filiar ao Psol. Atua principalmente nas áreas da educação e de políticas para juventude.