A quatro meses da eleição para a presidência do Senado, o Muda Senado – principal grupo a fazer frente a Davi Alcolumbre (DEM-AP) – tem enfrentado divergências internas e se esvaziado. Nesta sexta-feira (2), o senador Carlos Viana (PSD-MG) deixou o grupo por questões partidárias, segundo confirmado por sua assessoria. A sigla de Viana é presidida por Gilberto Kassab, que tem se aproximado do presidente Jair Bolsonaro nos últimos meses. O partido é um dos que apresenta uma taxa de governismo acima de 90%, como mostrado pelo Radar do Congresso.
Viana foi um dos senadores que assinou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que visa assegurar a recondução do atual presidente Davi para mais um mandato de dois anos. A Constituição e o Regimento Interno do Senado impedem a reeleição dentro da mesma legislatura. A apresentação da PEC levou à desfiliação de Rose de Freitas (sem partido-ES) do Podemos e causou burburinho entre opositores e apoiadores de Davi.
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Os integrantes do Muda Senado foram o fiel da balança que ajudou a eleger Davi para a presidência da Casa em 2019. Insatisfeitos com a gestão de Davi, eles já sinalizam que pretendem lançar candidatura própria para o pleito interno em fevereiro de 2021 e são contrários à reeleição, seja pela via legislativa ou judicial. O nome do candidato do grupo, porém, ainda não foi oficializado para evitar exposição do rival de Davi. Além disso, em um grupo formado por muitos senadores novatos, não há um nome natural para a disputa.
Outro senador que também está para se desvincular do grupo é Marcos do Val (Podemos-ES), que vem sido cobrado pelas redes bolsonaristas e atraído pelo PP, partido que hoje integra a base de apoio do governo no Congresso. Procurado pelo Congresso em Foco, ele disse que permanece no Muda Senado e mantém o alinhamento com relação à agenda ética e de combate à corrupção, mas defendeu independência em outras pautas.
“Continuo com o mesmo posicionamento, aliado às agendas do Muda Senado, em relação às pautas originárias e principais do grupo, quais sejam, prisão em segunda instância, CPI da lava toga, apoio à lava jato, pedidos de impeachment de alguns ministros do STF e fim do foro privilegiado. Foi essa agenda ética e de combate à corrupção que nos uniu, nos une e que nos manterá unidos. Então nessa perspectiva continuo dentro grupo”, disse ele. Mas completou: “Quanto às demais pautas, entendo que cada senador integrante do grupo segue independente”.
Sem citar nomes, do Val também pontuou que outros partidos também têm feito convites a ele, mas afirmou que permanece no Podemos. “Tem mais o meu perfil”, disse.
PublicidadeOs dois movimentos, de Viana e de do Val, guardam relação com o crescimento do PSD e do PP dentro do Senado. Segunda maior bancada da Casa, o PSD conta 12 senadores, tendo filiado recentemente o experiente Antonio Anastasia (MG). Por sua vez, o PP atraiu nomes como os da Kátia Abreu (TO) e Elmano Férrer (PI) e tem hoje uma bancada de sete senadores.
Constituído em 2019 com 22 senadores, o grupo foi reduzido para cerca de 16, o que, na visão de fontes ouvidas reservadamente, significa um processo de depuração. O Muda Senado encampa bandeiras de combate à corrupção e de defesa da Operação Lava Jato, que eram assumidas pelo bolsonarismo na campanha eleitoral e no início de 2019, mas das quais o presidente se distanciou paulatinamente, especialmente depois da saída do ex-ministro Sergio Moro do governo e de acusações de esquemas de rachadinha envolvendo seus filhos, também políticos.
Grupo nega racha
Na sessão do Plenário do Senado de ontem (1º), Lasier Martins (Podemos-RS), um dos poucos senadores veteranos do grupo, contestou racha no Muda Senado, conforme havia sido noticiado pelo O Antagonista. “Não existe esse racha. Não houve nenhuma discussão acalorada. Quando muito, a saída de um ou dois colegas, que por conveniências pessoais, respeitadas essas conveniências pessoais, se retiraram”.
Segundo Lasier, o Muda Senado continua firme na defesa de suas bandeiras, que incluem também a prisão após condenação em segunda instância, o voto aberto para a presidência do Senado, a reforma do Regimento Interno e a redução dos gastos do Senado. “São bandeiras do Muda Senado que continuam firmes”, disse.
Por outro lado, Lasier aproveitou para renovar suas críticas aos senadores do grupo que receberam verba extra através de emendas parlamentares para o enfrentamento da covid-19. “Se houve uma distribuição de verbas, e parecer ter havido, e alguns receberam, nenhuma censura, apenas entendemos que a distribuição de verbas tinha que ser para todos.”
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