Até o ano passado fortemente ligada ao então presidente Jair Bolsonaro, a bancada evangélica dividiu-se quanto a como se comportar agora após a vitória e posse do novo presidente Lula. A divisão quase provocou um racha na bancada, com a disputa que havia entre os deputados Eli Borges (Pl-TO), fortemente oposicionista, e Silas Câmara (Republicanos-AM), disposto a se aproximar mais do novo governo. Pela primeira vez, parecia que o comando da bancada seria decidido pelo voto. Uma eleição foi marcada, mas acabou anulada. Nesse meio tempo, costurou-se um acordo: os dois deputados dividirão o comando. Neste primeiro semestre de 2023, Eli Borges presidirá a Frente Parlamentar Evangélica. No segundo semestre, ela será presidida por Silas Câmara. E Eli Borges voltará ao comando no primeiro semestre de 2024.
O revezamento deverá ser fundamental para definir de que forma atuará a bancada evangélica, que tem, de acordo com seus números, 102 deputados, 13 senadores e terá entre seus integrantes pessoas com posição importante na condução da mesa diretora da Câmara: o primeiro vice-presidente Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o segundo vice-presidente Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que presidia anteriormente a bancada. Nesta entrevista ao Congresso em Foco, o novo presidente da frente deixa claro: na sua gestão neste primeiro semestre, pelo menos, a Frente Parlamentar Evangélica será de oposição.
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Veja abaixo a entrevista em vídeo:
Segundo Eli Borges, com relação à legislatura anterior, a bancada evangélica teve um incremento de integrantes entre 10% a 12%. “Vieram pessoas muito determinadas a cumprir sua missão aqui”, afirma. Nesse sentido, Eli considera que além da reação a avanços de pautas contrárias às que são pregadas pela bancada, há espaço mesmo para avanços. O deputado cita, por exemplo, a possibilidade de avançar com o projeto que revê a redução da maioridade penal.
Eli Borges afirmou que ainda não há clareza sobre como o governo Lula atuará com relação à pauta de costumes, principal ponto de defesa dos parlamentares evangélicos. “Estamos a postos”, avisa, porém. Um ponto de alerta, segundo ele, foi aceso a partir de declarações da ministra da Saúde, Nísia Trindade. “A ministra da Saúde já deu declarações de que tem uma certa tendência para liberar parcialmente o aborto no Brasil. Nós discordamos veementemente”.
Alguns parlamentares da bancada estão sendo investigados por declarações que deram de apoio aos atos do dia 8 de janeiro, quando os três principais prédios da República – o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) – foram invadidos e depredados. Eli disse que isso está sendo acompanhado na bancada. Mas ponderou que é preciso separar o apoio à “livre manifestação de pensamento” feito de forma ordeira com a incitação ao golpe de Estado e à violência. “A livre manifestação da brasilidade, do patriotismo, não é ato antidemocrático. Isso é o reforço que a democracia precisa ter. Os atos de invasão, de depredação, não podemos aceitar. Mas a livre manifestação, de forma ordeira, é muito bem-vinda na democracia. A livre manifestação ordeira aconteceu no país todo. A quebradeira aconteceu em um ponto geográfico muito definido. Não posso misturar os dois assuntos”, disse ele.
O revezamento
Tanto Eli Borges quanto Silas Câmara são de ramos da Assembleia de Deus. Mas defendem estratégias diferentes quanto à aproximação ou não do governo Lula. Silas Câmara tem maior proximidade com o governo, especialmente com o ministro da Integração, Waldez Góes.
Os acertos que levaram ao acordo de revezamento foram no sentido de criação de uma estratégia que evite que o governo Lula avance sobre pautas identitárias às quais a bancada evangélica se opõe. Assim, no primeiro semestre, definiu-se que a bancada deveria ter uma posição mais dura com Eli Borges, que barrasse essa possibilidade em um momento em que o governo começa e costuma ser mais propositivo. Silas Câmara, então, assume com as posições mais definidas e amadurecidas.
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