* Texto de autoria de Beatriz Marin e Victoria Bechara, pós-graduandas em Ciência Política, feito especialmente na parceria do Legis-Ativo com o curso de Ciência Política da FESP-SP no âmbito da disciplina de Análise Política.
Passadas as eleições municipais de 2024, os parlamentares que se debruçaram em campanhas ou que se lançaram candidatos voam de volta para Brasília para retomar os postos de trabalho. No dia seguinte ao fechamento das urnas, as discussões que permeiam a disputa pelo comando da Câmara dos Deputados e do Senado dominaram os corredores de Brasília e a imprensa. Uma eleição termina e outra começa. O Congresso Nacional já está articulando os novos nomes para presidência das Casas, a serem eleitos em fevereiro de 2025, com mandato de dois anos.
Arthur Lira (PP-AL) é o atual presidente da Câmara, eleito em 2021 por 302 votos em 1º turno e reeleito em 2023 por 464 votos, a maior votação absoluta da casa. Ele conseguiu reunir apoio de vinte partidos, da esquerda à direita. Para 2025, inicialmente o nome lançado e apoiado pelo presidente da Casa era o do deputado Elmar Nascimento, amigo pessoal de Lira e líder da bancada do União Brasil. Porém, em uma mudança brusca de rota, Lira decidiu apoiar outro candidato e trouxe junto o partido de Elmar. O nome em questão agora é Hugo Motta (Republicanos-PB), que já conta com apoio quase que instantâneo das maiores bancadas da Casa, incluindo PT e PL. Ele foi eleito o deputado mais jovem da Câmara, aos 21 anos, e pode se tornar também o mais novo a comandar a Casa, aos 35.
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Com as alianças já declaradas, a vitória de Motta parece certa. Se confirmada, consolidará a força que o Republicanos ganhou nos últimos anos. O partido tinha apenas 55 prefeitos em 2008, três anos depois de sua criação, e chegou a 440 nas eleições municipais deste ano. Em comparação a 2020, o Republicanos foi o segundo partido que mais cresceu no pleito de 2024, atrás apenas do PSD de Kassab. Também dobrou o número de vereadores eleitos em todo o país. Ligada à Igreja Universal, a legenda foi criada para “vocalizar os valores do conservadorismo de costumes e o liberalismo econômico”. Seu presidente, Marcos Pereira, é bispo e chegou a se lançar candidato à presidência da Câmara, mas desistiu em nome do “consenso”, segundo ele mesmo.
O partido abriga desde políticos mais pragmáticos até quadros bolsonaristas como o senador Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, e a senadora Damares Alves, que foi ministra dos Direitos Humanos na gestão do ex-presidente. Apesar de estar à direita no espectro político, a sigla integra o governo Lula, tendo o deputado Silvio Costa Filho à frente do Ministério de Portos e Aeroportos.
Se confirmado o triunfo de Motta, será ele o responsável por pautar assuntos importantes como a regulamentação da inteligência artificial e a reforma tributária, além de decidir sobre o futuro do projeto de lei que pode dar anistia aos presos do 8 de janeiro – e até a Bolsonaro. Também caberá a ele e ao próximo presidente do Senado decidir sobre o avanço ou não de projetos de interesse do governo, o que pode ser um ponto decisivo para Lula caso decida tentar a reeleição em 2026.
Essa não é uma eleição em que a população vota diretamente, pois quem decide são os deputados eleitos há dois anos. Certamente o cargo de presidente da Câmara tem influência sobre as matérias legislativas que tramitam na Casa e que afetam diretamente a população. Resta saber como se darão as articulações em torno dessas pautas a partir do ano que vem.
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