A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas, afirmou ao depoente Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal durante o 8 de janeiro de 2023, que a minuta do golpe encontrada em sua residência não era um documento de descarte, conforme o acusado de omissão alegou no início da audiência realizada nesta terça-feira (8).
A relatora rebateu a versão do depoente ao alegar que uma foto da Procuradoria Geral da República (PGR) enviada à Comissão mostra que a minuta estava bem acondicionada dentro de um armário, em uma pasta do governo federal, com outros itens pessoais como fotos da família de Torres e imagens religiosas. “Não parecia material de descarte conforme o senhor disse”, contestou a senadora.
A relatora também questionou se em um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF), ainda em sigilo, porém com informações publicadas pela imprensa, o então secretário teria mencionado a possibilidade de sequestro de ministro da suprema corte para deixá-lo em local desconhecido. “Isso é uma maluquice e nunca soube de algo do tipo”, devolveu Torres.
A senadora acrescentou que Torres mandou a Polícia Federal investigar institutos de pesquisas que analisavam as eleições e que o inquérito partiu por meio de uma representação assinada apor Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, mas que o ministro do STF, Alexandre de Moraes, vetou. Eliziane reforçou que Torres encaminhou ofício ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a realização de um processo de fiscalização com um sistema próprio da PF. A senadora definiu a ação como “tentativa paralela de implementar uma ação ilegal”.
Torres na Bahia
PublicidadeEliziane Gama dedicou boa parte das perguntas que dirigiu a Torres especificamente sobre uma reunião realizada entre o ex-ministro da Justiça com o superintendente da PF, Leandro Almada, e o diretor geral da PF, Márcio Nunes, a cinco dias da data do 2º turno. A senadora disse que em dois depoimentos à PF, Almada afirmou que o intuito da reunião foi tratar de pontos centrais e de um organograma com membros da PRF e PF em relação aos pontos em que as instituições atuaram durante o dia 30 de outubro de 2022.
A reunião teria gravitado em torno de uma planilha feita pela servidora da inteligência do ministério da Justiça, Marília Ferreira, que apontava os municípios com 75% de intenção de votos aos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. O objetivo seria identificar locais propensos a crimes eleitorais. “É uma planilha feita para fomentar o debate, mas não vi relevância”, observou Torres. O depoente então classificou a reunião como um encontro para visitar a obra de reforma da superintendência da sede da PF na Bahia.
“A planilha mostra que o direcionamento da Polícia Rodoviária Federal foi direcionado majoritariamente para cidades nordestinas com favoritismo de Lula e não no Sul e Sudeste. A reunião foi definida com prazos curtos e com objetivo de planejar intervenções. Esse processo é central nessa CPMI porque o dia 8 de janeiro é consequência da não aceitação do resultado eleitoral de 2022”, rebateu a senadora.
RIFs do COAF
Eliziane Gama elencou dados de Relatórios de Informações Financeiras (RIFs) do Conselho de Controles de Atividade Financeira (COAF) que mostram uma movimentação de R$ 55 mil de Torres a Júlio Carlos Correia, morador de Curitiba e amigo pessoal do ex-secretário dois dias antes dos atos de 8 de janeiro.
Correia é dono da empresa PH Recursos Humano e, de 2019 a 2022, teve aumento de faturamento considerável em contratos com os Correios no valor de R$ 111 milhões e ambos se encontraram nos EUA antes de Torres voltar ao Brasil para ser preso, mas o depoente afirmou que Corrêa é seu amigo e o dinheiro foi enviado para pagar as passagens dele e da família ao exterior.
Ainda no dia 10 de janeiro de 2023, quando ocorreu o mandado de busca e apreensão na casa de Anderson Torres, ele movimentou R$ 60 mil que foram depositados meio a meio nas contas bancárias da irmã e da esposa. Torres, que tiraria férias a partir do dia 9 de janeiro e viajou três dias antes aos EUA, retornou em 14 de janeiro para ser preso pela Polícia Federal e alegou ter perdido o aparelho celular nos EUA. Ele alegou que fez a transferência para que as despesas fossem pagas enquanto estivesse preso.
Durante a audiência, Torres atribuiu a falha de segurança que ocorreu no dia 8 de janeiro à Polícia Militar do DF.
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