Em meio à queimadas que castigam a Amazônia, o Pantanal e o Cerrado, a Comissão do Meio Ambiente (CMA) do Senado recebeu, nesta quarta-feira (4), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para prestar esclarecimentos sobre as ações da pasta no combate à destruição de biomas de extrema relevância ao país.
A ministra afirmou, durante a audiência, que caso as queimadas e o período de estiagem prolongado persistam e os efeitos do aquecimento global não sejam revertidos, o Brasil corre o risco de perder o Pantanal até o final do século. “Segundo pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século. Isso tem um nome: baixa precipitação, alto processo de evapotranspiração, não conseguindo alcançar a cota de cheia, nem dos rios nem da planície alagada”, explicou Marina.
“E, portanto, a cada ano se vai perdendo cobertura vegetal. Seja em função de desmatamento ou de queimadas. Você prejudica toda a bacia e, assim, segundo eles (pesquisadores), até o final do século nós poderemos perder a maior planície alagada do planeta”, completou ela.
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Marina apontou que os esforços do governo federal para conter os incêndios em biomas ocorrem desde janeiro de 2023, primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula. Segundo ela, as ações tomadas pelo governo evitaram um cenário “totalmente incontrolável”. “Eu diria que o esforço que está sendo feito nesse momento é de tentar ‘empatar o jogo’, com essas condições totalmente desfavoráveis”.
Segundo a ministra, apenas dois estados da federação (Sergipe e Alagoas) não enfrentaram escassez hídrica severa, enquanto nove estão em situação crítica. Conforme os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), agosto deste ano registrou 68,3 mil focos de queimadas, o que representa um aumento de 144% em relação ao mesmo mês de 2023.
Marina destacou que, além das mudanças climáticas, a gestão inadequada do fogo contribui para as queimadas e incêndios florestais. Ela mencionou Corumbá (MS), no Pantanal sul-mato-grossense, onde o desmatamento é responsável por cerca de 50% das queimadas no estado.
Ela negou que o ministério esteja sofrendo cortes orçamentários que comprometam o combate aos incêndios e sublinhou a necessidade de políticas públicas baseadas em evidências e de colaboração com o setor privado. Marina também afirmou que, sem a redução do desmatamento promovida pelo governo atual no ano passado e em 2024, a situação seria “incomparavelmente pior”. Ela destacou os avanços do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e no Cerrado (PPCerrado), que incluem a previsão de aumento para 3 mil brigadistas e o recente lançamento do Plano de Transformação Ecológica.
A ministra observou que o país vive um “novo normal” que exigirá do poder público respostas adaptativas às mudanças climáticas. Ela também solicitou ao Congresso a criação de um marco regulatório de emergência climática, considerando que 1.942 municípios estão em risco climático extremo.
Marina informou que o perfil dos incêndios na região da Amazônia está mudando, com a floresta perdendo umidade e tornando-se mais sucetível a incêndios naturais. Atualmente, 27% das áreas queimadas na Amazônia estão em regiões de atividade agropecuária e 41% em áreas de vegetação não florestal. Além disso, 32% das queimadas ocorrem em áreas de vegetação florestal, um aumento significativo em relação a períodos anteriores. Cerca de 85% dos incêndios ocorrem em propriedades privadas e 15% em terras indígenas ou unidades de conservação estadual e federal.
Ela concluiu afirmando que a mudança climática está afetando gravemente a floresta, com incêndios provocados tanto por atividades humanas quanto por eventos naturais, e que, de acordo com os meteorologistas, a maioria dos incêndios atuais não é causada por raios ou relâmpagos. (Com informações da Agência Senado)