O presidente Lula antecipou para a noite desta quinta-feira (20) a viagem que fará a Portugal, na primeira parada no país europeu após ter tomado posse, em janeiro. A viagem se dá em meio à crise do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que teve troca de comando anunciada nessa quarta-feira (19). Longe do país, Lula precisará contar com a destreza da base para lidar com a iminente instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro. Já em Portugal, vai se deparar com uma extrema-direita mobilizada, que promete atos contra a sua visita e também em relação às suas declarações acerca da guerra na Ucrânia.
Aliados do governo ouvidos pelo Congresso em Foco consideram a viagem fundamental para o fortalecimento dos laços comerciais e políticos entre os dois países, mas a oposição considera a estratégia do governo de antecipar a viagem como uma tentativa de mudar o foco das discussões.
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A visita de Lula a Portugal estava marcada para ocorrer na sexta-feira, mas ainda na noite da quarta foi antecipada pelo Palácio. Pouco antes, o Palácio confirmou a nomeação do secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, que foi interventor do Distrito Federal na área da segurança pública, como ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Ele, que é civil, assume o lugar do general Gonçalves Dias, que deixou o cargo horas depois de vazarem gravações das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, que revelaram ele e outros oficiais do GSI circulando pelo prédio em meio à invasão, e interagindo com os golpistas. O ministro era encarregado de orientar a segurança do presidente da República e responsável por chefiar o serviço de inteligência. Diante da tensão gerada com o vazamento das imagens, o próprio governo mudou o tom e passou a defender a instalação da CPMI, cujos aliados trabalhavam até o começo da semana para a retirada das assinaturas.
A sessão do Congresso em que deve ocorrer a leitura do termo de instalação do colegiado está marcada para a próxima quarta-feira (26) longe dos olhares de Lula, que ainda irá à Espanha e só deve chegar ao Brasil na quinta-feira, quando o Congresso Nacional já estará em ritmo de final de semana. Na bagagem, Lula vai trazer como resultado uma série de acordos assinados, mas também protestos contra a sua visita, que estão sendo conclamados pelo principal partido da extrema-direita portuguesa, o Chega.
Aliados às pautas defendidas pelo ex-presidente da República Jair Bolsonaro, o Chega é comandado pelo deputado André Ventura. Ele próprio tem usado suas redes sociais para chamar a população para protestar contra a viagem de Lula a Portugal, no que ele promete ser o maior protesto contra a visita de um presidente estrangeiro ao país. Lula participa das celebrações da Revolução dos Cravos, que marca o fim da ditadura em Portugal.
“A presença de Lula da Silva é ultrajante”, disse o parlamentar.
Às manifestações contra a vista de Lula ainda devem se unir representantes da Associação dos Ucranianos em Portugal, que têm se manifestado fortemente contra as declarações do brasileiro em relação à guerra na Ucrânia. Portugal foi um dos primeiros países europeus a abrigar imigrantes que fugiram do país durante a guerra. Protestos constantes são registrados no país pedindo o fim da invasão feita pela Rússia. E para os ucranianos que vivem em Portugal, Lula também não é bem-vindo, sobretudo depois de declarar que os Estados Unidos e a Europa estimulam a guerra ao ceder armas para a Ucrânia e que o país também tem responsabilidade pela guerra.
“A comunidade ucraniana está a preparar uma carta que vai entregar, quando Lula visitar Portugal no 25 de abril e também estamos a pensar em fazer uma manifestação, cujo local ainda não determinamos, para demonstrarmos a nossa posição. Não concordamos com o que Lula disse”, afirmou o responsável pela Associação dos Ucranianos em Portugal, Lusa Pavlo Sadokha, a veículos portugueses nesta semana.
Diante dos desconfortos, Lula até amenizou o tom. Nesta semana, em um almoço no Palácio do Itamaraty com o presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, Lula falou que o Brasil condena a “violação da integridade territorial” da Ucrânia e que defende uma solução política e negociada para o fim do conflito.