O bloco parlamentar anunciado por Arthur Lira é uma gelatina ideológica. Mistura nove partidos (PP, União Brasil, PSB, PDT, PSDB, Cidadania, Solidariedade e Avante) que em comum têm apenas o desejo de ocupar espaços de poder. Reeleito presidente da Câmara com 464 dos 513 votos, Lira, supostamente, preservou no bloco a fidelidade de 175 deputados. Juntos, são a maior força da Casa, com peso para barrar qualquer votação — na hipótese de atuarem de forma unânime. No entanto, é pouco para quem acaba de se reeleger com votação recorde e tem o domínio da pauta.
O “blocão” é uma reação a outro, a reunião de 142 deputados (Republicanos, MDB, PSD, Podemos e PSC). Na prática, a morte do Centrão, que deu plenos poderes a Lira nos últimos dois anos. Administrar os interesses do novo grupo, bem menor, será um desafio permanente. Sobretudo porque ele já não tem perspectiva de poder a oferecer.
A sucessão na presidência da Câmara já está em marcha, e Lira quer controlar o processo até a votação, em fevereiro de 2025. O fim do Centrão, com o Republicanos fora de seu bloco e o PL isolado na extrema direita, mostra que os tempos mudaram. Os partidos que o seguiram nesse novo bloco, à exceção de PP e União Brasil, estão em decadência ou correm risco de extinção, por causa do desempenho ruim nas urnas no ano passado. Juntaram-se no “blocão” porque sozinhos seus deputados teriam uma espécie de mandato fantasma, sem direito a relatorias ou presidências de comissões. É a luta pela sobrevivência que os une, e não Lira.
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A divisão do falecido Centrão em dois blocos também demonstra um Congresso mais poderoso do que na época dos primeiros mandatos de Lula. Os partidos não esperaram o governo montar sua base parlamentar. Inverteu-se o processo, e, agora, o presidente terá mais trabalho para negociar — apesar das juras de apoio à governabilidade feitas pelos líderes. O fato de tantos partidos terem formado apenas dois grupos deveria ser um facilitador para o Planalto. Mas a difusão de interesses representa dificuldade. Na nova configuração da Câmara restou ao PT apenas a companhia do PV e do PCdoB. Formaram uma federação. A “frente ampla” da campanha presidencial não se repetiu. Alguns partidos de esquerda, como PSB e PDT, preferiram manter distância do PT na Câmara.
As mudanças mostram que os partidos estão mais preocupados com a autopreservação, com a organização para as eleições municipais de 2024 e dispostos a se manter autônomos em relação ao governo — qualquer governo. É nesse mundo gelatinoso que Lula vai governar.
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