Em fevereiro, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) trocará a Primeira-Secretaria da Mesa Diretora, cargo que ocupa hoje, pela liderança do PT no Senado. Será a sua segunda passagem pela função. Na primeira vez, em 2020, o partido estava na oposição a Jair Bolsonaro. Desta vez, como líder do partido do presidente da República, ele terá a missão de articular uma bancada de nove senadores na defesa do governo.
Em entrevista ao Congresso em Foco, Rogério Carvalho defende que o Planalto reavalie sua relação com base de apoio no Parlamento. Para o senador, o governo não pode se contentar com aliados que apenas votam conforme sua orientação, mas não o defendem.
“O governo tem uma comunicação política obstruída porque parte de sua base não defende o governo, é só base. Então, se não tem defesa política do governo, não tem promoção de imagem positiva do governo. O rateio dos espaços do Poder Executivo e dos estados se deveu a arranjos, na maioria das vezes, pouco articulados com esta preocupação de promover o governo, muito mais em garantir a presença de um parlamentar ou outro na base”, argumenta o senador.
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Para ele, rever essa relação é questão de sobrevivência política. “Acho que tem que ser revisto inclusive isso. Se o governo quiser melhorar a sua performance eleitoral em 2026, ou revê isso, ou vai tomar um susto quando o resultado eleitoral aparecer. Porque este segmento está com o dinheiro, está com a política, com uma estrutura política administrativa”, ressalta.
A mudança, segundo ele, não será possível apenas com uma reforma ministerial que o presidente Lula estuda fazer no início do próximo ano. “Acho que as pessoas perderam a capacidade de entender que não se constrói política só mandando, mas construindo relação política. Daqui a pouco, lideranças que têm apreço vão cuidar da própria vida.”
Pacto civilizatório
Rogério também entende que o PT precisa rever sua relação com a sociedade. “O PT tem que se reaproximar de todos os brasileiros, da classe média e das classes C e D. A gente precisa conversar mais com esse público e ter mais presença no território, e não é só o PT, é uma questão de como o governo vai se aproximar dos territórios e como ele vai promover essa chegada nos territórios”, avalia.
Em relação à declaração recente da presidente nacional da sigla, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), de que uma guinada ao centro do PT representaria um “suicídio”, o senador considera o debate entre direita e esquerda limitante e “pobre”.
“Eu acho esse debate pobre: esquerda, direita, centro, meio, lado, cima, baixo. O PT tem que buscar uma nova síntese civilizatória. Essa síntese civilizatória deve estar assentada sobre a defesa da Democracia, a defesa da inclusão pelo direito, a defesa da inclusão pela renda, a defesa das liberdades individuais”, diz o senador. “A gente tem que buscar um processo civilizatório e permanente, e isso não quer dizer nem para esquerda, nem para direita. É defender a vida, defender a democracia. Estamos defendendo um pacto civilizatório, que a humanidade ou caminha para civilidade ou para barbárie”.
O senador também abordou na entrevista pontos como a saúde do presidente Lula, as expectativas para a nova presidência de Davi Alcolumbre (União-AP) no Senado e fez um balanço sobre o ano para o governo Lula no Senado.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Congresso em Foco – Para começar, gostaria que o senhor fizesse uma avaliação do que foi esse ano pro governo nessa relação com o Congresso
Rogério Carvalho – Eu acho que muitas matérias relevantes foram aprovadas ao longo deste ano. Se você pegar os projetos, principalmente depois da eleição, você vai ver que vários projetos de impacto na vida econômica do país estão sendo discutidos e estão sendo aprovados. Mas, se você pegar a agenda do Senado nesses últimos 20 dias, você vai ver que muitos projetos de interesse do governo foram aprovados. E ainda tem as offshores, o dos biocombustíveis também já foi aprovado. E tantos outros temas de relevância para o governo. Agora aprovamos a reforma tributária aqui. E se a gente conseguir aprovar e as medidas de ajuste, eu acho que a gente deu um salto aí de décadas em termos de preparação do país para o futuro. Nós temos um problema crônico que é o problema da ausência de um Executivo forte.
Como assim?
Durante oito anos, praticamente, a gente teve um Executivo com menos força do que o que historicamente se configurou: um Executivo que tem controle em todos os recursos do orçamento, um executivo que pautava o Legislativo. Nós tivemos uma ampliação da força do Legislativo. Não é ruim por si, mas houve uma apropriação do orçamento muito grande e, ao mesmo tempo, um descontrole e uma transferência de renda para os mais ricos nos últimos oito anos que agravou a situação fiscal do país. Porque todos os cortes foram feitos na população que mais consome que são os mais pobres, que é a base.
Então, foram feitos cortes ao longo dos últimos oito anos, antes do governo Lula. Todos os cortes foram nos que não quem voz, ou que tinha uma voz mais fraca, não tem o poder de lobby, não tinha presença, não tinha relacionamento, que são 80% da população brasileira. Então, reverter isso numa agenda que equilibre a distribuição de riqueza do país, tirando determinados privilégios tributários e fiscais que o setor mais rico da sociedade brasileira ou a minoria mais rica da sociedade brasileira teve, não é uma tarefa fácil. E fazer isso sem controlar o orçamento é ainda mais difícil. Então, imagine o que o governo presidente Lula tem enfrentado, mas a gente conseguiu aprovar muitas coisas importantes, como o arcabouço fiscal. Se você olhar do ponto de vista do que é estruturante para o país, a gente deu uma avançada grande nos últimos dois anos. E agora com a regulamentação, a gente consolida a reforma tributária. Esse ajuste já é o segundo round da reforma fiscal. Ou seja, é colocar questões que estavam fora dentro do novo arcabouço fiscal, privilégios que estavam de fora, tem que ir para dentro.
O governo está cumprindo esse compromisso?
E uma apresentação do caminho que a própria PEC da reforma tributária prevê, que é a reforma da renda, que já está mais ou menos claro de como vai ser, podendo isentar ou diminuir alíquota de imposto para 36 milhões de pessoas, atingindo 100 mil pessoas basicamente .Então, é você fazer um trabalho de reforma tributária e reforma da renda invertendo o caráter regressivo para o caráter progressivo. Então eu considero um exitoso, como considero também exitoso ter 4,6% de inflação e 4% de crescimento. Ter a capacidade instalada da indústria praticamente com 100% de ocupação. Você vê o refino de combustíveis no Brasil atingir quase 100% das refinarias, que tava 75% na melhor das hipóteses 68, 65 70%, que não interessava aos importadores de combustíveis refinar aqui e não interessava a Petrobras, naquela política, refinar, era melhor exportar o petróleo. Então, eu acho que a gente reverteu várias coisas, a gente criou mais consistência no país.
Agora é um trabalho imenso você retomar tudo isso, retomar uma política de educação, retomar um controle do Estado sobre os rumos do país, ter um planejamento, ter um programa de investimento. Acho que tudo isso tem sido feito. E isso não se reflete em avaliação positiva de imediato, só quando os efeitos começam a aparecer. Os efeitos começam a aparecer com o emprego, o aumento da renda, as pessoas pagarem suas dívidas com o Desenrola. Imagine, as pessoas estão pagando dívida. Todo esse aumento de renda, parte ainda está na dívida. Então, acho que a gente vai daqui a pouco, outro momento que a gente vai viver, isso vai estar impactando na qualidade de vida das pessoas.
O senhor acha que essa dificuldade na avaliação e na popularidade está relacionada com a comunicação do governo como sugeriu o presidente Lula?
Eu acho que a maioria dos governos têm dificuldade em se comunicar nos tempos atuais. Acho que tem problema sim de comunicação. Acho que tem uma comunicação política obstruída porque parte de sua base, e isso o governo precisa ter clareza, não defende o governo, é só base. Então, se não tem defesa política do governo, não tem promoção de imagem positiva do governo. Então, o governo precisa compensar isso de alguma forma, porque muita gente é da base, mas não defende o governo. As pessoas fazem questão, votam, mas não defendem o governo.
O rateio dos espaços do Poder Executivo e dos estados se deveu a arranjos, na maioria das vezes, pouco articulados com esta preocupação de promover o governo, muito mais de garantir a presença de um parlamentar ou outro na base. Então, eu acho que tem que ser revisto inclusive isso. Se o governo quiser melhorar a sua performance eleitoral em 2026, ou revê isso, ou vai tomar um susto quando o resultado eleitoral aparecer. Porque este segmento está com o dinheiro, está com a política, com uma estrutura política administrativa.
Aqui para nós, o postulado de coerência do professor Mário Testa diz o seguinte: o poder econômico e administrativo está muito mais em uma base que não defende o governo do que na base que efetivamente defende e se identifica com este governo. Portanto, é muito poder concentrado em quem não é governo efetivamente, está no governo esperando a oportunidade de se posicionar no lugar que seja mais confortável para eles.
Quem são essas figuras?
Eu estou me referindo às pequenas oligarquias, eu não quero dizer que é o Centrão, centrinho ou meio. Estão representadas no Congresso Nacional pequenas oligarquias, oligarquias regionais com interesses corporativos e poucos que defendem o projeto de Estado e de sociedade. Isso não é de agora, isso é de sempre, só que agora está mais evidente a formação de pequenas oligarquias representadas aqui. Elas se juntam em torno dos interesses que podem ser os mais diversos possíveis, mas o interesse único delas é capturar recurso para manter a sua sobrevivência política nos estados e nos seus colégios eleitorais, na sua base eleitoral.
O que o governo poderia fazer para reverter esse jogo?
Ah, tem que ser governo para poder responder isso. Eu só sou um parlamentar, mas a gente pode dar palpite. Eu acho que o governo precisa refletir sobre este problema, sobre essa questão central e buscar compensar isso. Como é que compensa isso? Como é que se aproxima? Porque, ao mesmo tempo que precisa de uma base de sustentação, também precisa saber que tem uma base mais firme que é quem vai promover o próprio governo. Isso é uma questão que precisa estar na reflexão no próprio governo. Não posso tratar um parlamentar que é defensor e promotor deste governo da mesma forma que eu trato um parlamentar, o tratamento aqui do ponto de vista político certo, que tem uma relação instrumental com o governo só de interesse objetivo e instantâneo, momentâneo. Se isso não tiver um discernimento, a gente vai ter um problema estrutural na base da legitimação do governo.
Isso pode ser enfrentado em uma reforma ministerial?
Reforma ministerial é para dar mais efetividade ao governo, eu acho que pode ser compensado em alguns espaços, sim, mas é mais do que isso. É na operação do próprio governo, na montagem das agendas dos governos. Por exemplo. Eu fui convidado para um evento do meu governo, no meu estado, na véspera da realização do evento. Eles não discutem comigo como é que vai ser a organização do evento no meu estado porque tem alguém que se acha mais importante do que eu e acha que pode fazer agenda sem trazer quem é da política e quem é aliado de primeira hora deste governo.Vou fazer o quê? Eu vou brigar? É uma covardia comigo, mas eu não posso brigar e nem vou reclamar do meu próprio governo.
Há poucos dias, eu fui instado a fazer um evento pelo Ministério de Desenvolvimento Social, nós organizamos o evento e eu descubro na véspera do evento que o ministro do Desenvolvimento Social estaria com outro ministro em outro evento do Ministério do Desenvolvimento Social competindo com o evento que eles tinham pedido para eu organizar. Aí vão os dois ministros para um evento esvaziado. E eu lá com um técnico do ministério com um evento com 20 prefeitos, porque envolvia 20 prefeituras que eram emendas que eu tinha colocado no orçamento da União que eu tinha distribuído e eram emendas com recursos da área de assistência social.
O que isso significa?
Acho que as pessoas perderam a capacidade de entender que não se constrói política só mandando, mas construindo relação política. Daqui a pouco, lideranças que têm apreço vão cuidar da própria vida. E você vai reclamar de uma pessoa que vai cuidar da própria vida para sobreviver? Tem gente que é aliado que é tudo, mas está cuidando da própria vida, porque tem muita obstrução, muita dificuldade, muita dificuldade de definir, de falar, de ser ouvido.
Isso dificulta o governo de consolidar sua imagem, além de uma estratégia de comunicação mais clara, mais definida e uma construção mais elaborada do que deve ser a comunicação do governo, a comunicação institucional, a comunicação dos programas, a comunicação das políticas. Tem uma questão estrutural política, estou falando uma questão estrutural política que precisa também ser pensada para dentro do governo.
Acho que uma coisa só não vai resolver a outra. Tem que ter, claro, o pensamento, organização, a estratégia de comunicação, divulgar melhor os programas, as políticas, divulgar melhor o que está sendo feito. Isso é o que mais vai impulsionar. Agora precisa do complemento.
Em relação ao futuro da presidência do Senado, que já está encaminhada para Davi Alcolumbre. O que muda no governo em relação à gestão dele?
Davi [Alcolumbre] e Rodrigo [Pacheco] trabalham alinhados. Só o estilo dele, talvez o Davi seja mais incisivo, mais direto, menos tímido com o presidente e isso ajude bastante. Só isso, é estilo, muito mais no campo do estilo do que no campo de orientação política de um ou do outro. Davi tem um jeito mais expansivo, ele vai procurar muito mais esse acesso de forma mais frequente. Acho que é isso, isso pode ajudar bastante
O senhor teme que ele possa impor algum tipo de dificuldade para o governo?
Acho que isso não acho. Se conversado, ele não vai querer criar dificuldades para o governo. Mas você vai ter que ter muita conversa, porque vai ter um cara da política, um cara que precisa ter muita conversa. Veja, algumas pautas boas como a da inteligência artificial foi o Rodrigo que colocou, mas também Rodrigo colocou outros temas espinhosos do governo. Então, quanto a contemplar os diversos segmentos que compõem o Parlamento, nenhum presidente vai fugir disso. Faz parte.
Antes, o senhor falou sobre o ajuste fiscal como uma das medidas do governo neste ano, queria saber como o senhor avalia essa resistência em votar o ajuste por conta das emendas
Eu acho que a questão das emendas é um problema. Os parlamentares estão com emendas impositivas de bancada e individuais até agora sem ter liberação. Então o humor não está bom. Porque para atingir a emenda de comissão foi onde estava funcionando bem e a piorou, vai criar mais dificuldade operacional para para pagar emendas individuais e de bancada. Não vai trazer nenhum benefício, só burocracia e custo. E aquilo que deveria estar no foco continuou mais ou menos do mesmo jeito, que são as emendas de comissão. Criou um mau humor que dificulta a fluidez de funcionamento das Casas.
O estado de saúde do presidente Lula preocupa o PT?
Esse problema preocupa todo mundo, mas não é o que tentaram passar: “o presidente teve um AVC”. O presidente teve um hematoma formado depois de um acidente doméstico, drenou. Ele não tem problema vascular cerebral. Isso não preocupa a princípio. Ele tem uma saúde boa, é um cara que tem uma higidez muito grande, não é fácil ser presidente da República, mas ele é um homem rígido, ele tem 78 anos e é rígido, um homem forte. E o que ele teve agora é fruto de um acidente doméstico que pode acontecer com um jovem inclusive. Qualquer um pode acontecer isso.
Isso pode ser usado como argumento pela extrema direita em 2026?
Tudo vai ser usado. Qualquer coisa pode ser usada. Mas o impacto disso, não sei se isso vai interferir muito. O povo quer mesmo é resultado, é que a vida melhore, é que a gente tenha outra perspectiva. E eu acredito que ano que vem isso vai estar muito claro.
Em relação ao futuro do PT, a presidente Gleisi Hoffmann comentou esses dias que, para ela, o PT girar para o centro seria a morte do partido. Como é que o senhor vê isso, qual é a tendência do partido?
Eu acho esse debate pobre: esquerda, direita, centro, meio, lado, cima, baixo. O PT tem que buscar uma nova síntese civilizatória. Essa síntese civilizatória deve estar assentada sobre a defesa da Democracia, a defesa da inclusão pelo direito, a defesa da inclusão pela renda, a defesa das liberdades individuais, a manutenção da luta pela pela liberdade. Liberdades individuais estão associadas ao respeito, à diversidade de gênero, à diversidade religiosa. Toda a complexidade que envolve as liberdades individuais tem respeito: a defesa da paz, a não violência, a convivência pacífica entre os povos e a cultura da paz. Isso é fundamental. Tem que estar assentado sobre multilateralismo. Tem que estar assentado sobre autodeterminação dos povos não ficar influenciando, ou seja, isso do ponto de vista global.
E eu particularmente defendo a livre iniciativa. Então, eu sou muito mais um social Democrata, falando da porção social Democrata que pode ter no PT, socialista social democrático que pode se confundir. Acho que nós temos uma base muito forte na sociedade brasileira, porque essa é uma tradição que vem se consolidando no Brasil. A gente tem que defender questões importantes como inclusão pela renda, aumento da renda das famílias, quem não defende isso? Temos que defender isso, a inclusão pelo direito, ou seja, garantia dos direitos fundamentais, a saúde, educação, a previdência, a assistência social.
Defender a vida, a defesa da vida do planeta e da vida humana e das espécies neste planeta, preservar para que a gente sobreviva e as próximas gerações consigam viver neste planeta. Eu acho que estar do lado dessas causas ou ter uma síntese e reflexão sobre isso fala muito mais do que nós temos que ser do ponto de vista partidário que é uma nova síntese civilizatória do que essas essas essas definições que rotulam e que dividem. Aí tem muito mais ponto de encontro com vários setores da sociedade do que a esquerda pode representar ou do que é a direita pode estar representando nessa separação de hoje.
Por quê?
A gente tem que buscar um processo civilizatório e permanente, e isso não quer dizer nem para esquerda, nem para direita. É defender a vida, defender a democracia, defender a inclusão pelo Direito, defender a inclusão pela renda, defender as liberdades individuais e respeitar a diversidade religiosa, de gênero, cultural, defender o multilateralismo no mundo, defender que os povos tenham sua autodeterminação. Se a gente fizer isso claro, aí é de direita, de esquerda, de centro de quê? Qual é a importância que isso tem? Nós estamos defendendo um pacto civilizatório, que a humanidade ou caminha para civilidade ou para barbárie. Então, eu particularmente defendo que a gente tenha um pacto civilizatório.
E tem coisa mais importante do que incluir pelo Direito? Define o que é cidadania, o que é ser cidadão brasileiro. Eu defendo que as pessoas, a sua cidadania seja definida pelo conjunto de direitos que você tem. Você é cidadão brasileira, portanto já nasce com uma riqueza, nasce do ventre da sua mãe, quando você está sendo gestado, você já tem uma riqueza que é direito à saúde, direito à educação, o direito à previdência, o direito à assistência social. Essa riqueza que nos últimos 8 anos eles tentaram arrancar do ventre desta nação e que arrancar daquilo que conforme os nossos direitos.
Isso é o quê, de direita ou de esquerda? Se for de esquerda, é de esquerda. Agora, defender a livre iniciativa é de direita ou de esquerda? Não é de direita ou de esquerda, é o que é. Aumento da renda isso é de direita é de esquerda? Se for de esquerda, é de esquerda, se for de direita, é de direita. Eu acho que isso não é um debate, porque nós não estamos aqui fazendo um debate sobre uma posição. Veja, tem gente de direita que pensa muito parecido com gente de esquerda com relação à religião e eu acho que os dois estão errados porque eu respeito a sua liberdade religiosa. Tem gente de direita e de esquerda que pensa e tem tanto preconceito sobre a questão das posições culturais ou da origem cultural das pessoas. Isso é de direita ou esquerda e eles são especialmente de esquerda de direita. Mas não eu quero saber disso, eu quero saber que nós precisamos respeitar a liberdade cultural dos indivíduos, da prática da vida, defender a democracia. Se defender a democracia for de esquerda, eu sou de esquerda, mas tem muita gente de direita que defende a democracia. Está entendendo que esse debate é menor.
O PT tem que se reaproximar mais da camada mais pobre da população? O presidente Lula deu alguns sinais disso no discurso da semana passada.
O PT tem que se reaproximar de todos os brasileiros, da classe média e das classes C e D. A gente precisa conversar mais com esse público e ter mais presença no território, e não é só o PT só, é uma questão de como o governo vai se aproximar dos territórios e como ele vai promover essa chegada nos territórios, incluindo agentes como já foi no passado. No segundo governo de Lula e no final do primeiro, as organizações sociais chegavam na periferia das cidades. As organizações sociais foram criminalizadas e precisamos descriminalizar as organizações sociais, que podem incluir igrejas, que podem incluir tantas organizações sociais, essa rede. Tudo isso pode virar uma rede de promoção do desenvolvimento social humano, precisa estar presente com ações de governo, de um partido que é o PT.
O PT não tem condição de fazer essa reaproximação, o mundo é outro. É outro mundo. As pessoas não se reúnem mais em torno de causas, se reúnem em torno de uma pessoa, são seguidores de uma pessoa. Ninguém segue causa, as pessoas seguem pessoas. Não estão mais discutindo um objeto, que é uma causa, que é uma coisa que media a minha relação com você. Sei que você tem uma posição, eu tenho outra, e a gente constrói uma síntese sobre aquela coisa muito mais plural e diversa do que só a minha opinião. Não, as pessoas estão procurando ficar no conforto e buscar uma opinião e segue aquela opinião. E se você parar de seguir, a pessoa lhe elimina, lhe discrimina, diz que você não presta lhe cancela, essa é a cultura fascista que a gente tá submetido.
Precisa romper com isso, como a gente vai romper, aí tem muitas formas. E aí é uma discussão de dias, no seminário de um ano inteiro, um debate com toda a humanidade. Refletindo a partir do pensamento de Félix Guattari e Gilles Deleuze, vai a superfície de registro de controle dos indivíduos e dos coletivos está muito brocada. Portanto, não existe mais, ou diminuiu o senso crítico sobre o que você consome do mundo. E isso é a glória conservadora que está embarcado em todos nós sobre a forma de senso comum. E aí temos uma sociedade conservadora, ela sempre foi só que agora está exposto, não tem mediação, não tem objeto que medie o debate, são pessoas, aí ferrou tudo.