Enfrentando dificuldades já durante a atual legislatura, a Frente Parlamentar Ambientalista passa, a partir de 2023, a atuar em meio a um cenário de desvantagem ainda maior. Alguns dos principais nomes da bancada, como a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), Ivan Valente (Psol-SP) e Alessandro Molon (PSB-RJ), não conseguiram se reeleger. A estratégia da frente na próxima legislatura já deverá consistir na capacidade de liderança dos novos quadros no Congresso Nacional, em especial da deputada eleita Marina Silva, ex-ministra do meio ambiente de Lula.
Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que coordenou a frente parlamentar entre 2019 e 2021, conta que a redução dos quadros na bancada não é o único obstáculo a ser enfrentado. “Tivemos um fortalecimento muito grande do centrão; a reeleição da maior parte das lideranças do agronegócio alinhadas ao atual governo; e nem todos que se colocaram em uma posição de oposição conseguiram se reeleger”, relata.
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Esse resultado, na sua avaliação, não foi simplesmente parte de um desinteresse do eleitor com relação à pauta ambientalista, mas efeito colateral de um fenômeno mais amplo. “Essa eleição não deu muito espaço para candidaturas de centro-esquerda e centro-direita. De um lado, PDT e PSB se enfraqueceram bastante, e do outro lado o PSDB e Cidadania. Já o PL e o PT ganharam espaços”, afirmou.
Os novos nomes eleitos, porém, já chegam acompanhados de um capital político que pode dar fôlego à bancada. “Conquistamos espaços importantes nessa eleição. Marina Silva, com toda sua experiência como ministra e militantes dos direitos humanos, chega agora. Temos também a chegada de duas novas deputadas indígenas, e a manutenção de alguns nomes que já tinham uma participação ativa na frente ambientalista”, comentou o parlamentar.
Marina Silva é, por sinal, uma das parlamentares cotadas para assumir a liderança da bancada na próxima legislatura. Nilto Tatto (PT-SP), ex-coordenador da frente parlamentar ambientalista e co-fundador do Instituto Socioambiental também está entre os possíveis líderes. “Apesar de reduzidos em números, estaremos com bons quadros, com experiência para conseguir coordenar a frente”, disse Agostinho.
Segundo turno
Apesar de se tratar de uma frente com atuação no legislativo, o principal fator responsável por determinar a atuação da bancada ambientalista, segundo Rodrigo Agostinho, é o resultado do segundo turno das eleições presidenciais. Os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) possuem pautas opostas ao tratar de assuntos do meio ambiente, propiciando cenários contrários para os deputados ambientalistas.
Publicidade“Apesar de serem poderes diferentes, o poder executivo exerce um impacto muito forte sobre a pauta do Congresso Nacional. Então essa definição do segundo turno pode nos trazer respostas importantes”, explica. Jair Bolsonaro defende propostas legislativas contrárias ao interesse da bancada, como a flexibilização do comércio de agrotóxicos e a legalização da mineração de terras indígenas na Amazônia. Lula, por outro lado, promete implementar políticas de fortalecimento da pesquisa farmacêutica e biomédica para o desenvolvimento da Amazônia, pauta defendida por grande parte da frente parlamentar.
Além de definir o tipo de pauta a ser discutida no Congresso, o deputado conta que a postura do próximo governo é um fator de peso no próprio desempenho da bancada. “Se o governo for mais progressista, nós conseguiremos trabalhar a pauta da sustentabilidade de forma mais leve e a bancada terá mais força na sua atuação. Esse vai ser o ponto chave daqui para frente”.
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