Os ratos da política, assim como os de esgoto, sabem muito bem qual é a hora de procurar comida e quando importa mais garantirem sua sobrevivência.
Assim, após fartarem-se com o queijo que havia a bordo do Titanic, agora se preparam para abandonar o navio que está afundando a olhos vistos.
É o que se depreende da reaproximação das bancadas de PMDB e PSDB no Senado, selada num jantar que reuniu, na última 4ª feira (09/03), nove caciques dos dois partidos, dentre eles Aécio Neves, José Serra, Renan Calheiros e Tasso Jereissati.
Segundo a imprensa ficou sabendo (e era mais do que previsível), a única discrepância se dá quanto à forma como a presidente Dilma Rousseff será defenestrada: o PSDB prefere a impugnação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral, que leva à convocação de nova eleição, e o PMDB lucra mais com o impeachment, para que a presidência da República caia no colo do amigo da onça Michel Temer.
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Parece que ainda não resolveram esta questão, mas teriam se despedido dispostos a trabalhar juntos para desatar o nó. O principal já está decidido: partilharão o queijo… quer dizer, o poder.
Se Lênin estivesse vivo e Dilma fosse perguntar-lhe o que fazer?, creio que ficaria com as mãos abanando. Não há mais nada a fazer, pelo menos para salvar o mandato dela.
PublicidadeSei lá se o Vladimir Illitch teria a humildade de informá-la disto ou sairia pela tangente, com um calaboca do tipo “vá perguntar pro Eduard Bernstein (*), já que agora você joga no time dele!”.
Como sou um homem generoso, vou dar à presidente uma dica de como ela ainda pode poupar-se de transpor a porta do fundo como cão escorraçado, mas, pelo contrário, sair atirando, não só para deixar uma última marca no bastião inimigo, como também, e principalmente, para prestar um serviço inestimável ao povo brasileiro, comparável ao suicídio e carta com que Vargas evitou que seu governo fosse herdado pelos ratos da época:
Dilma, convoque a imprensa para um pronunciamento decisivo e comunique ao país e ao mundo que você está disposta a abrir mão do seu mandato para o bem da nação, desde que o Michel Temer faça o mesmo.
Argumente que a crise política, econômica e moral é tão profunda que os governantes atuais se deslegitimaram e é hora do poder voltar à fonte do qual emana, o povo.
Que o Brasil precisa novamente ser passado a limpo.
Que os brasileiros devem escolher livremente aquele (a) a quem querem delegar a difícil missão de tirá-los do fundo do poço, ao invés de serem obrigados a engolir um político que, por ação ou omissão, é corresponsável por tudo que tem sido feito de errado e desastroso pelo Governo federal desde 2011.
Exorte publicamente o Michel Temer a agir com o mesmo desapego pelo poder e a mesma disposição de colocar os interesses do povo sofrido acima dos cálculos mesquinhos da política e até das frustrações pessoais, por piores que elas sejam. Bote-o numa saia justa: ele merece!
Parafraseando uma afirmação que tanto nos empolgou lá no comecinho da nossa trajetória, a esta altura do campeonato você não tem mais nada a perder, Dilma, e um passado glorioso a honrar.
O último ato de sua presidência deveria ser coerente com a opção que você fez lá atrás, de arriscar a vida para livrar o Brasil dos exploradores e seus serviçais, fardados ou não.
Então, Dilma, não deixe a montanha parir um Temer, ou seu fracasso será total.
(*) primeiro grande revisionista da teoria marxista. Segundo Bernstein, a melhora constante das condições de vida dos trabalhadores sob o capitalismo tornaria a revolução desnecessária.
Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. Edita o blogue Náufrago da Utopia.
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