Mesmo com a possibilidade de demissão sendo levantada desde o vazamento dos áudios em que o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro confessava favorecer a destinação de verbas em favor de pastores evangélicos aliados, a notícia de sua exoneração do cargo, ocorrida na segunda-feira (28), foi recebida com surpresa pela Frente Parlamentar Evangélica. Poucas vozes entre suas lideranças se posicionaram desde então, em tom destoante.
O clima geral na bancada, conforme apontou um de seus membros, é de confusão. Seu líder, o deputado Sóstenes Cavalcante (União-RJ), cancelou todos os compromissos com a imprensa ao ser informado da saída do ministro. “Silêncio, o clima é de velório”, classificou um dos parlamentares sobre o ambiente. A reunião semanal da bancada, prevista para esta terça-feira (29) na Câmara dos Deputados, foi cancelada sem que fosse anunciada a causa.
Leia também
O conteúdo deste texto foi publicado antes no Congresso em Foco Insider, serviço exclusivo de informações sobre política e economia do Congresso em Foco. Para assinar, clique AQUI e faça uma degustação gratuita de 30 dias.
Parte da bancada elogiou a decisão, como foi o caso do deputado Marco Feliciano (PL-SP), um dos parlamentares que, no início do escândalo, propôs e cobrou que Milton Ribeiro entrasse de licença no Ministério da Educação (MEC) até que as investigações fossem concluídas. O parlamentar, no entanto, afirmou também não duvidar da inocência do ex-ministro diante das denúncias.
“Existe um princípio basilar do Direito que diz: ‘o crime não passa do criminoso’, esse mecanismo visa tão somente fazer justiça. No caso dos pastores e o MEC, seus atos se restringem a si mesmos. Que se apure logo para que o ministro continue com sua biografia impecável”, declarou em seu perfil no Twitter.
Em outro tweet, Feliciano também se posicionou em defesa do presidente Jair Bolsonaro, à qual Milton Ribeiro apontou em um dos áudios vazados como especial interessado no suposto esquema de desvio de verbas. “Se existe uma pessoa que não precisa de defesa é Jair Bolsonaro. Todos os supostos males envolvem um longínquo quinto escalão. Esses dois pastores não pertencem aos nossos quadros do governo. As esquerdas ensandecidas tentam o impossível: envolver o chefe da nação! Simplesmente não cola!”.
PublicidadeDo outro lado está o vice-presidente da bancada evangélica, deputado Luis Miranda (Republianos-DF), que enxerga a exoneração do ex-ministro como uma manobra eleitoral para evitar o aprofundamento do desgaste da campanha presidencial de Bolsonaro. “Bolsonaro não vai confessar que pode haver corrupção em seu governo, mas desta vez ele já agiu cedo para estancar a sangria”, disse ao Congresso em Foco.
O parlamentar considera que, com a demissão, o governo espera reduzir a pressão da sociedade sobre esclarecimentos do escândalo, e assim evitar que a reputação de Jair Bolsonaro seja atingida. “Ele vai sumir. Certamente não deverá dar entrevistas, e vai submergir enquanto resolve suas questões no Judiciário. A sociedade é imediatista, mas no Judiciário o tempo é outro”, explicou.
Pressão será mantida
Luis Miranda não foi o único parlamentar a enxergar a exoneração como um esforço do ministro de abafar a crise e evitar que permaneça respingando no governo. Israel Batista (PV-DF), coordenador da Frente Parlamentar Pela Educação, avalia a decisão de forma semelhante, e antecipou ao Congresso em Foco que não pretende reduzir o rigor da cobrança por investigações ao redor de Milton Ribeiro.
“Essa decisão só demonstra que as nossas suspeitas têm fundamento. O MEC se mostrou no mesmo modo de atuação de outros ministérios que já tinham seus gabinetes paralelos. É o que já acontecia no Ministério da Saúde. Agora, é preciso que os órgãos de controle continuem as suas investigações. A saída dele é uma tentativa de apagar o incêndio”, avalia o deputado.
Além da cobrança sobre órgãos de controle, Israel Batista também afirma que dará andamento à coleta de assinaturas para a abertura de uma CPI ou CPMI para investigar o escândalo do MEC. “Já temos um número considerável de assinaturas. No caso do requerimento de abertura da CPMI, já temos mais de 60 assinaturas”, relatou. Sua expectativa é que as assinaturas ganhem força a partir da sexta-feira (1º), quando se encerra a janela partidária.
O futuro do MEC se encontra incerto, mas Israel Batista já aponta para duas tendências: ou será apontado um nome do Centrão, ou outra liderança ideológica, caso não se encontre um nome que atenda a esses dois critérios ao mesmo tempo. “Eu não tenho esperança de que a situação vá melhorar. O MEC foi sequestrado pelo governo, e hoje é utilizado como palanque eleitoral”, declarou.
Deixe um comentário