A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura ações e omissões do governo federal no combate à pandemiar terminou a reunião desta quarta (7) com a prisão do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias. Ele prestou depoimento ao colegiado, após denúncia de ter pedido propina para autorizar a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal.
A voz de prisão veio do presidente do colegiado, o senador Omar Aziz (PSD-AM) que se irritou após, por reinteradas vezes, Dias ter negado responsabilidade pela negociações de imunizantes.
“O depoente vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Ele está mentindo desde cedo e tem coisas que não dá para admitir. Chame a Polícia do Senado. O senhor está detido pela presidência da CPI”, proferiu Aziz.
O estopim para a prisão, entretanto, veio durante a fala da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) que alertou sobre um áudio divulgado pela CNN indicando que o encontro entre Roberto Dias e Luiz Paulo Dominghetti, que tentava negociar vacinas com o governo, ocorreu de forma pré-meditada.
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Roberto Dias disse ao colegiado que o encontro com Dominguetti no restaurante do Brasília Shopping foi “por acaso”. Segundo ele, o suposto vendedor de vacinas apareceu no local enquanto Dias tomava chopp com o amigo Coronel Blanco. No outro dia, Dominguetti conseguiu uma reunião sobre a negociação das doses da vacina no Ministério da Saúde com Dias.
Roberto Ferreira Dias foi exonerado do cargo de diretor do departamento de Logística do Ministério da Saúde em junho, após denúncia de ter pedido propina para autorizar a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal. Dias nega a acusação.
PublicidadeA denúncia foi feita por Luiz Paulo Dominguetti, pelo policial militar que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply. Em depoimento ao colegiado na semana passada, Dominguetti afirmou ter recebido pedido de propina para a compra de 400 milhões de doses do imunizante e que Roberto Dias teria cobrado um dólar por dose.
Confira alguns dos principais momentos da CPI:
Ao decretar a prisão, Aziz afirmou que que não deixará a investigação virar “chacota” e aponta o ex-secretário de “brincar de negociar vacinas”.
“Ele está preso por mentir e se eu estiver tendo abuso de autoridade, que advogada dele ou qualquer outro senador me processe, mas ele vai estar detido agora pelo Brasil. Porque nós estamos aqui pelo Brasil. Pelos que pelas vítimas hoje sequeladas. Nós não estamos aqui pra brincar não, para ouvir historinha de servidor que pediu propina. Isso que está acontecendo não vai acontecer mais e todo depoente que estiver aqui, que achar que pode brincar, terá o mesmo destino dele. Ele está preso e a sessão está encerrada”, disse o senador Omar Aziz ao decretar a prisão de Roberto Dias.
Nova empresa
O depoente dise à CPI que recebeu uma proposta de venda das 400 mil doses da AstraZeneca de outra empresa chamada Latin Air Supply. De acordo com ele, o negócio foi oferecido por Cristiano, que diz ser representante da Davati Medical Supply no Brasil.
Negação de propina
Roberto Ferreira Dias negou à Comissão que tenha pedido propina durante negociação para compra de vacinas contra covid-19. “Estou há mais de dez dias sendo massacrado e citado em todos os veículos de comunicação sem que haja uma única prova ou indício que sustente tais alegações”, disse.
Sem competência
Roberto Dias também negou ter negociado vacinas no Ministério da Saúde. Segundo ele, o cargo de diretor do departamento de logística não lhe garantia a competência para tomar a frente da situação. Dias colocou a responsabilidade das negociações no ex-secretário executivo da pasta, Élcio Franco, e no ex-ministro, Eduardo Pazuello.
Encontro não é negociação
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) mostrou a Roberto Dias um e-mail de uma reunião marcada entre o Policial Militar Dominguetti e ele. De acordo com o ex-diretor de logística, o encontro não era negociação, apenas avaliação de documentos para enviar ao secretário executivo do Ministério.
Trocas na pasta
Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) quantas coordenações gerais existiam no departamento de logística do Ministério da Saúde, Dias confirmou que são três. De acordo com o depoente, na gestão do ministro Luiz Mandetta, todas as indicações no departamento foram de Dias. Já na gestão de Pazuello, dois dos auxiliares dele foram trocados pelo general. Dias acredita que o ex-secretário executivo, Élcio Franco, pode ter colocado o Tenente-Coronel Marcelo Costa e o Tenente-Coronel Alex no departamento que ele chefiava. “Houve uma clara intervenção. O departamento de logística era de interesse da Secretaria Executiva”, concluiu Randolfe.
Aprovado por cotas
Durante o depoimento, Roberto Dias admitiu que prestou concurso e assumiu vaga de cotas reservadas a candidatos afrodescendentes. Ele foi aprovado no cargo de auxiliar administrativo do governo do Paraná em 2012 e foi alocado para Curitiba.
Relação com Barros
O ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias negou aos senadores que tenha indicado o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR) a um cargo de confiança. Dias também afirmou que a relação com o líder era em razão do cargo que ocupou no Paraná. O ex-diretor foi servidor do governo paranaense durante a gestão de Cida Borghetti (Progressistas), mulher de Barros.
Intervenções de Élcio Franco
À CPI, o depoente afirmou que o coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo da pasta na gestão do general Eduardo Pazuello, fez substituições nos quadros da diretoria de logística por militares e aponta intervenções do secretário.
Questionado sobre sua relação com o coronel pelo relator Renan Calheiros, Roberto disse que manteve “pouco contato” com o secretário-executivo.
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