A CPI da Covid ouviu nesta quinta-feira (24) a médica Jurema Werneck, representante do Movimento Alerta e o ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal. À comissão, Hallal afirmou que se o Brasil tivesse adotado medidas de controle da pandemia, como estímulo ao isolamento, uso de máscaras e vacinação, 400 mil vidas poderiam ter sido poupadas. No último dia 19 de junho, o país atingiu a marca de 500 mil mortos.
“Quatro de cada cinco mortes teriam sido evitadas se estivéssemos na média mundial. Não é se estivéssemos com um desempenho maravilhoso, como a Nova Zelândia, Coreia, Vietnã, mas se nós estivéssemos na média, teríamos poupado 400 mil vidas no Brasil”, afirmou.
Conforme estimativas apresentadas por ele, somente a demora na compra de vacinas foi responsável pela morte de 95 mil a 145 mil pessoas. O pesquisador também estabeleceu comparações entre o número de mortos no Brasil e os óbitos de outros países. Com isso indicou que o Brasil tem 13% das vítimas de covid do planeta e que a mortalidade acumulada seria de 2,3 mil pessoas a cada milhão de habitantes.
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Críticas a comemorações
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) foi alvo direto de críticas do epidemiologista Pedro Hallal. Desde o início da CPI da Covid no Senado, o parlamentar tem exibido uma placa com o número de curados da doença como algo a ser comemorado.
“Quando o senhor [senador Heinze] fala das vidas salvas, número de vidas salvas, eu devo admitir que eu fico com a sensação de que estamos comemorando o gol do Brasil contra a Alemanha. Foi 7 a 1 o jogo e a gente está comemorando que 16 milhões de pessoas ficaram doentes. Não consigo entender essa lógica”, respondeu Hallal.
A estratégia de propagar o número de recuperados e tentar omitir o de falecidos em decorrência da covid também é adotada pelo governo federal. No ano passado, o Ministério da Saúde chegou a lançar uma campanha que incluía um contador de “curados”. Enquanto isso, a pasta mudou as regras de divulgação do total de óbitos, o que fez com que veículos de comunicação se reunissem em um consórcio para conseguirem noticiar a situação da pandemia no Brasil.
Apesar de governista, a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) usou o tempo de fala na CPI da Covid para condenar falas do colega, o senador Henize, sobre uso de medicamentos como cloroquina para tratar covid.
“Tenho um amigo intubado e que tomou essa medicação. Nem o ministro [Marcelo] Queiroga recomenda”, disse a parlamentar.
A parlamentar também criticou a comemoração sobre o total de curados, ignorando as vidas perdidas. Ela disse que teve covid, mas chegou a falar que subtraísse o nome dela da conta.
Em março, o professor e epidemiologista – responsável por uma das pesquisas mais relevantes sobre a covid-19 no país, a Epicovid – precisou assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) por criticar, em uma live da UFPel, a gestão do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia.
Hallal também já foi alvo de ataques do presidente e de seus aliados, e em uma entrevista à rádio Guaíba, no início do ano, foi impedido de falar e criticado pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS).
Veja alguns momentos da CPI:
Antes dos depoimentos, o senador Humberto Costa (PT-PE), um dos integrantes titulares da CPI da Covid, protocolou requerimento pedindo a convocação do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni à CPI, para ser ouvido como testemunha.
Na quarta-feira (23), Onyx deu declarações ameaçando o deputado Luis Miranda (DEM-DF). A reação de Onyx deu-se depois que Miranda veio a público afirmar que seu irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, teria sofrido pressão para fechar contrato para a aquisição da vacina indiana Covaxin, apesar do preço exorbitante sugerido.
O relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL) pediu segurança para o dono da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiliano. Renan disse que o empresário corre perigo e que não quer que ocorra com ele o mesmo que aconteceu com o miliciano Adriano da Nóbrega, morto em 2020.
A Polícia Federal deve cuidar da segurança das testemunhas no depoimento de amanhã.
Pedro Hallal voltou a afirmar que foi censurado pelo Planalto sobre dados da pandemia junto à comunidade indígena.
Jurema Werneck reforçou que no ano passado já havia alertas do perigo da transmissão da doença no país.”O Brasil precisa corrigir a sua rota, senadores. Vamos de mês mais letal a mês mais letal. Não há justifica para a persistência do erro”, defendeu. Jurema diz que comunidades quilombolas, indígenas e pessoas negras foram as comunidades mais afetadas pela pandemia. “A população branca teve maior acesso a respostas hospitalares e de UTI”, completou.
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