O Cartão da Transparência, desenvolvido pela agência AKQA para o Congresso em Foco, foi o grande caso brasileiro na 70ª edição do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, encerrada nessa sexta-feira (23). Foi o projeto brasileiro que mais arrebatou troféus este ano no maior evento global da indústria criativa de mídia, comunicação e publicidade.
A iniciativa, que tem como objetivo principal facilitar a fiscalização dos gastos dos parlamentares, conquistou seis estatuetas de Leão: duas de ouro, três de prata e e uma de bronze.
Veja a lista dos prêmios conquistados pelo Cartão da Transparência:
– Leão de Ouro em Digital Craft
– Leão de Ouro em Mobile
– Leão de Prata em Digital Craft
– Leão de Prata em Direct
– Leão de Prata em Creative Data
– Leão de Bronze em Innovation
O Brasil encerrou sua participação no Cannes Lions 2023 com a melhor performance dos últimos cinco anos, com 92 Leões. Foram dois Grand Prix, um Titanium Lions, 11 de Ouro, 28 de Prata e 50 de Bronze. Parceira do Congresso em Foco no Cartão da Transparência, a AKQA foi uma das agências com atuação no Brasil mais premiadas.
Fiscalização pelo celular
O Cartão da Transparência é uma ferramenta que permite aos interessados receber notificações em seus smartphones sobre os gastos dos parlamentares. O usuário pode selecionar os deputados federais e senadores que deseja monitorar e adicionar à carteira digital do seu telefone. Toda vez que o congressista selecionado faz um novo gasto, o usuário é notificado. Até agora, mais de 430 mil cartões foram instalados e 20 milhões de avisos de gastos foram disparados pelo Cartão.
PublicidadeEstão incluídos gastos dos deputados federais, senadores e também as despesas dos cartões corporativos de todos os presidentes da República que exerceram o cargo desde 2003. O objetivo é permitir que os cidadãos acompanhem de perto como o dinheiro público é utilizado pelos parlamentares, aproximar as pessoas e os seus representantes políticos e abrir canal direto para cobrança de explicações.
Oito Leões em cinco anos
Nas últimas cinco edições, o Congresso em Foco conquistou oito Leões em Cannes. O primeiro veio em 2019, com o Trending Botics, e o segundo em 2021, com o Bolos Antiblock, este em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). As duas ideias foram reconhecidas com Leões de Bronze e tiveram o trabalho criativo da agência FCB Brasil.
O reconhecimento internacional ao trabalho do Congresso em Foco premia uma história de quase 20 anos de cobertura ininterrupta das atividades da Câmara e do Senado. Sempre com a pretensão de contribuir para melhorar a qualidade da representação política no país.
O Congresso em Foco é o veículo segmentado mais acessado por deputados e senadores. Sem vinculação com qualquer partido político, apoiamos causas de interesse geral, como a defesa da democracia e dos direitos humanos (em especial, de grupos discriminados como mulheres, negros, indígenas e a população LGBTQIA+); a luta contra as desigualdades sociais e regionais; e o combate à corrupção.
Transparência
A trajetória do Congresso em Foco é marcada por contribuições à transparência na atividade pública no Brasil. Em 2004, tornou-se o primeiro veículo brasileiro a levantar e listar as acusações criminais existentes contra deputados e senadores. De lá para cá, esse levantamento foi refeito dezenas de vezes, tornando-se uma referência e servindo de inspiração para a campanha popular que resultou na aprovação da Lei da Ficha Limpa, que barrou a candidatura de políticos com condenações na Justiça.
O monitoramento da assiduidade e dos gastos dos parlamentares também é marca registrada do Congresso em Foco, que produziu diversas reportagens e furos a respeito.
Um dos casos que nos ajudaram a fazer história é de 2009, quando revelamos a existência de um esquema que ficou conhecido como “farra das passagens“. A prática tinha duas pontas. Uma delas consistia na venda irregular de créditos de passagens aéreas para agências de viagem; a outra, no uso indiscriminado por congressistas, familiares e amigos da verba destinada pela Câmara e pelo Senado para viagens que deveriam se restringir ao exercício do mandato. Repercutida por toda a imprensa brasileira e até internacionalmente, a farra resultou na mudança das regras da cota aérea e na redução, à época, de R$ 25 milhões anuais com a restrição dos voos ao deslocamento do parlamentar até sua base eleitoral.
Por causa da série de reportagens, o Congresso em Foco tornou-se o primeiro veículo da internet a receber o Troféu Tim Lopes do Prêmio Embratel, destinado ao melhor trabalho de jornalismo investigativo produzido por todos os meios de comunicação brasileiros. E também levou, naquele ano, o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa. Entre outras premiações, recebemos ainda o Vladimir Herzog de Direitos Humanos (2008, 2009 e 2014), o iBest (2005) e o Engenho de Comunicação (2008, 2010 e 2013).
Inovação
Também mantemos o Radar do Congresso, ferramenta de acompanhamento do Legislativo federal, que reúne informações que vão do índice de governismo de cada parlamentar, conforme as votações em plenário, até os projetos apresentados por cada um. No ar desde 2020, o projeto foi desenvolvido por meio de financiamento do Google. A plataforma de dados foi um passo importante no sentido de incorporar a tecnologia à produção jornalística.
Os constantes processos de inovação e a solidez do trabalho levaram o Congresso em Foco a ser apontado pelo LatAm Journalism Review, da Universidade do Texas, como um caso de grande sucesso em uma série de reportagens que aponta “veículos de imprensa e jornalistas que inovam no jornalismo latino-americano na internet”.
Mantido por empresa privada criada pelo jornalista Sylvio Costa (fundador e principal sócio), o Congresso em Foco tem como principais fontes de receita a publicidade no site, eventos, pesquisas e parcerias com outros veículos (sobretudo com o UOL, que nos hospeda desde 2010).
Independência e assédio
A independência editorial do Congresso em Foco tem um preço. Fomos alvo de ostensiva perseguição durante o governo Jair Bolsonaro, contra o qual nos posicionamentos em editoriais em razão das suas atitudes antidemocráticas e da desastrosa condução da pandemia.
Antes, em 2010, fomos vítimas de assédio judicial após revelarmos os nomes de 464 funcionários do Senado que recebiam valores acima do teto estabelecido pela Constituição. Foram mais de 50 processos, afinal arquivados pela Justiça, que considerou que o direito do cidadão à informação deve prevalecer sobre o direito de privacidade do servidor.
Ouro e Prata: Congresso em Foco ganha dois Leões em Cannes