No último mês, a Proposta de Emenda à Constituição que prevê o fim da escala 6×1 reacendeu debates intensos no cenário político. Encabeçada pela deputada Érika Hilton (PSOL), a proposta trouxe à tona discussões sobre qualidade de vida, mercado de trabalho e impactos econômicos, temas que dividem opiniões e atravessam visões ideológicas.
A questão da jornada de trabalho e seus reflexos sociais foi abordada pelo Monitor do Debate Público (MDP) do IESP-UERJ. O objetivo foi entender como diferentes segmentos da população enxergam a proposta. O MDP utiliza uma metodologia inovadora de monitoramento contínuo da opinião pública, com grupos focais realizados via WhatsApp, combinando análise dinâmica de divisões temáticas, valores e recepção de notícias. A pergunta central foi: como a PEC é percebida pelos cidadãos?
Nos três grupos mais progressistas (eleitores flutuantes, lulodescontentes e lulistas), a proposta recebeu amplo apoio. Para esses participantes, a mudança representa um avanço social, trazendo benefícios claros, como maior descanso, tempo com a família e melhor saúde física e mental. Como apontado por um deles: “Hoje em dia, a gente trabalha muito mais do que vive. Essa proposta é uma tentativa de equilibrar as coisas, o que é mais do que justo.” Ainda assim, muitos ponderaram que ajustes seriam necessários para evitar impactos econômicos negativos, como demissões ou aumento de custos para os consumidores.
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Já entre os bolsonaristas convictos, a recepção foi completamente distinta. O grupo rejeitou a proposta, associando-a a uma suposta falta de conhecimento técnico da deputada proponente e à agenda “antimercado” do Psol. Argumentos de ordem econômica, como o risco de desemprego e aumento de preços, foram amplamente difundidos nesse segmento, reforçando narrativas já conhecidas. Como destacou um participante: “Não tem como fazer isso sem que o empresário repasse o custo para alguém. Vai sobrar para o trabalhador no fim das contas.” Entre os bolsonaristas moderados, houve maior abertura para reconhecer possíveis benefícios da medida, ainda que acompanhada de ressalvas.
A análise revela que a discussão sobre o fim da escala 6×1 reflete uma disputa narrativa evidente. De um lado, os defensores da proposta buscam pautar a agenda pública com base na justiça social e nas necessidades de um mercado de trabalho moderno. Do outro, opositores promovem uma leitura alarmista, frequentemente ancorada em argumentos de caráter econômico ou em ataques à figura da deputada. Os bolsonaristas convictos rejeitam qualquer aspecto positivo da proposta, seus pares moderados demonstram uma postura mais equilibrada, apontando tanto desafios quanto oportunidades.
Debates como esse são fundamentais para reafirmar o papel do Congresso Nacional como palco central de negociações que moldam o futuro do país. É no Legislativo que ideias divergentes se confrontam, onde é possível ajustar propostas para equilibrar avanços sociais e viabilidade econômica. Afinal, a capacidade de traduzir demandas sociais em políticas públicas eficazes é o que define um Parlamento verdadeiramente representativo.
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