O Congresso ainda não alcançou velocidade de cruzeiro. Há questões diversas a serem resolvidas antes da agenda de governo fluir no processo regular de iniciativa, deliberação e decisão, se é que tal fluxo regular existirá. Contudo, para quem assiste às sessões da Câmara, um ponto já chama atenção: a forma de atuação da oposição, com discursos carregados de moralidade.
Teria sido ilusão em 2022 imaginar que a derrota de Bolsonaro desmontasse seu movimento político. Muitos alertaram que Bolsonaro poderia acabar, mas não o bolsonarismo. Pelo que vemos, tais análises acertaram.
Quando a esquerda esteve na oposição a Bolsonaro seu discurso parlamentar oscilava ora enfatizando a inoperância do governo e a desmontagem de políticas públicas, ora os acintes morais e éticos principalmente do presidente, mas também de seus seguidores. Inoperância viu-se nos problemas sociais e econômicos e principalmente no trato irresponsável da pandemia; desmontagem, na área ambiental e na política externa, sobretudo. As imoralidades e ataques éticos cometidos pelo bolsonarismo tinham conteúdo de misoginia e homofobia e mesmo racismo, em atos e palavras.
Agora quando a extrema direita moveu-se para a oposição, ainda falta-lhe material para falar de erros de gestão do governo – são apenas dois meses desde a posse. Em verdade já há os escândalos em formação, como o do ministro das Comunicações, que utiliza práticas antigas de patrimonialismo ao viajar usando recursos públicos de forma duvidosa. Contudo, a oposição parece já ter escolhido seu discurso.
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O foco é a homossexualidade, o uso de drogas, a liberdade para o crime, o ataque aos valores cristãos. Pululam aqui e acolá denúncias de que o governo de esquerda estaria a estimular ou aceitar práticas que destroem o esteio moral da nação. (Cabe aqui um posicionamento pessoal deste autor, em rechaço ao preconceito com a homossexualidade).
Há toda a discussão sobre as causas e a legitimidade de tais posições políticas, sobre sua potencialidade eleitoral. Contudo, o que mais chama a atenção é a possibilidade de a direita brasileira manter-se mais quatro anos sem rumo e norte na construção de um Brasil melhor.
Parte da direita e da centro-direita estuda como se deitar aconchegada na cama do governo, como sempre se fez no Brasil. Sua oposição se dará em salas fechadas, e assim abrirá mão de pensar e dialogar com a sociedade para além do clientelismo.
Outra parte, que vê muitos espinhos nesse leito, grita seu discurso moral. Quanto mais o bolsonarismo impulsionou o sucesso de um parlamentar, menos confortável fica essa aproximação atávica com a fontes de cargos, recursos e benesses variadas que é o poder. Ao invés de uma oposição com projeto, contudo, descambam apenas para os ataques morais.
Assim, fica órfão um necessário discurso que faça contraponto ao projeto posto pela esquerda. A fim de elevar o debate, a direita precisaria apresentar discurso que trouxesse um projeto para o desenvolvimento econômico sustentável, para o papel do estado em sua relação com a sociedade e a economia e também para as liberdades civis de um país que avança para uma sociedade plural, multifacetada e moderna.
Aqui não se trata de defender esquerda ou direita, afasto-me de minhas preferências pessoais. Trata-se sim das necessidades de uma democracia sadia, uma que supere a onda do nacional populismo – recheado de elementos autoritários e fascistas – e que possa dar aos cidadãos opções que tenham responsabilidade com o que importa para administrar o país rumo a um futuro melhor. A gritaria que denuncia pretensos ataques morais perpetrados pelo governo, espera-se, deveria tornar-se apenas um ruído de fundo.
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O fundamentalismo religioso se alimenta e dissemina as pautas morais e isso é preocupante pois se sobrepõem às demais, principalmente, nas camadas da sociedade que não estão no topo da pirâmide social .