Fábio Góis
Em artigo veiculado hoje (quarta, 27) na editoria de Opinião do jornal O Globo, o jornalista Zuenir Ventura voltou a escrever sobre um furo de reportagem publicado pelo Congresso em Foco. No último dia 18, este site veiculou uma reportagem exclusiva que mostra o uso da verba indenizatória pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma (PSB-SP), em um resort de luxo em Barretos (SP), durante a famosa festa do Peão de Boiadeiro. Ao todo, como mostrou a matéria, Tuma gastou R$ 14,127 mil no hotel sertanejo, tudo devidamente ressarcido aos seus bolsos pelo Senado.
Leia:
Tuma gastou R$ 14 mil em hotel de cowboy
No texto, intitulado “O xerife e o violeiro”, Zuenir compara dois exemplos distantes da política e mostra que, se de um lado a conduta de nossos representantes traz decepção e revolta, certas ações conservam a esperança tão cara à opinião pública brasileira. O jornalista, além de mencionar a reportagem sobre os gastos de Tuma, relata o caso do vereador-violeiro que, presidente da Câmara de Vereadores de Caruaru (interior de Pernambuco), extinguiu a verba indenizatória, provocando economia milionária aos cofres públicos – mas insatisfação dos vereadores do município, que logo trataram de aprovar norma impedindo a reeleição do atual presidente.
“Antes, o mandato de dois anos à frente da Mesa Diretora podia ser renovado por mais dois. Agora não mais. Moral da história: o Senado lucraria mais se trocasse o seu corregedor perdulário pelo violeiro poupador”, observa Zuenir na conclusão do texo (leia a íntegra abaixo).
Autor de livros tidos como referência jornalística no meio acadêmico, como 1968 – O ano que não terminou, Zuenir também lembra que, como mostrou a reportagem, Tuma não esteve sozinho a gastar dinheiro público no resort de luxo. “Não ficou claro se também estavam em ‘atividade política’ os ‘dois ou três assessores’ que acompanhavam o senador e que ocuparam quatro suítes do Barretos Country Hotel, cuja diária foi de R$ 1.177,25 por unidade. Barretos não viu nada. Verá mesmo o que é gastança se o senador e sua comitiva retornarem à cidade não para trabalhar, como dessa vez, mas para se esbaldar”, destaca o jornalista.
Bis
Não é a primeira vez que o articulista do jornal O Globo comenta reportagens deste site. Em 25 de abril de 2009, no auge da repercussão sobre a farra das passagens aéreas de deputados e senadores, Zuenir publicou o artigo “Um site revelador”, em que discorre sobre o viés investigativo de boa parte do material aqui veiculado.
“Não sei se vocês repararam que quase todas as revelações sobre a farra das passagens aéreas tiveram como origem o site Congresso em Foco, até então pouco conhecido fora do círculo jornalístico e político. Por causa do nome, vários leitores me perguntaram como um veículo ligado às duas casas legislativas podia fazer tais denúncias. Acontece que ele não tem qualquer dependência em relação à Câmara ou ao Senado, alvos permanentes de sua cobertura”, apontou o jornalista, na abertura do texto.
Leia:
Um site revelador
Confira o artigo:
“Zuenir Ventura
O xerife e o violeiro
São dois exemplos: o mau, pra variar, vem de Brasília; o bom, de Caruaru, a 130 quilômetros de Recife.
O primeiro é do senador Romeu Tuma, que gastou R$ 14.127 de sua verba indenizatória de R$ 15 mil num resort de Barretos durante a Festa do Peão de Boiadeiro, em agosto. Como havia ainda as despesas com locomoção, restaurante, etc., ele recebeu de volta R$ 20.945,70 pelos três dias que ali passou. Segundo o site Congresso em Foco, que fez essas revelações, já em julho eram creditadas ao senador outras extravagâncias com dinheiro público. Da sua prestação de contas constava o gasto de R$ 1.484.89 numa churrascaria e R$ 600 numa pizzaria, sem falar nas suas despesas com combustível que em 2009 chegaram a R$ 31.620 — numa mesma empresa. O delegado conhecido como ‘xerife’ porque pertencia ao temível Dops durante a ditadura militar é há 15 anos corregedor do Senado, a quem, como se sabe, compete corrigir os erros e desvios dos colegas.
Em sua defesa, Romeu Tuma alega que viajou para trabalhar, e não para se divertir: ‘Sou uma espécie de padrinho da festa. Não fui por lazer. Foi uma atividade política.’ Na verdade, ele funcionou como jurado do festival culinário da ‘queima do alho’ e participou do lançamento de uma grife do campeonato de rodeio. Não ficou claro se também estavam em ‘atividade política’ os ‘dois ou três assessores’ que acompanhavam o senador e que ocuparam quatro suítes do Barretos Country Hotel, cuja diária foi de R$ 1.177,25 por unidade. Barretos não viu nada. Verá mesmo o que é gastança se o senador e sua comitiva retornarem à cidade não para trabalhar, como dessa vez, mas para se esbaldar.
Enquanto isso, afinal nem tudo está perdido, a repórter Leticia Lins conta a história do vereador Rogério Meneses Sobrinho, que acaba de devolver R$ 1 milhão à prefeitura de Caruaru, pois como presidente da Câmara Municipal deu um jeito de extinguir a verba indenizatória, entre outras despesas descabidas. Repentista e tocador de viola, ele explica em versos a providência: ‘Eu acho que a nossa Câmara/Está no certo caminho./Aqui o dinheiro público/É tratado com carinho./Não se gasta em panetone/ Nem passeio de jatinho.’ Ao contrário de Romeu Tuma, que parece nada ter sofrido por gastar de mais, Rogério Meneses pagou por gastar de menos. A extinção da verba indenizatória e outras iniciativas moralizadoras lhe custaram algumas retaliações.
A principal delas foi a mudança no regimento interno para que ele não volte a dirigir a Câmara.
Antes, o mandato de dois anos à frente da Mesa Diretora podia ser renovado por mais dois. Agora não mais. Moral da história: o Senado lucraria mais se trocasse o seu corregedor perdulário pelo violeiro poupador.”
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