Embora as apreensões no mercado financeiro não tenham se dissipado inteiramente, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, começa a ser absorvido por instituições financeiras, investidores e analistas econômicos, ou seja, por aquela restrita comunidade de empresas e pessoas que costuma ser genericamente apresentada como "o mercado".
A Bolsa de Valores de São Paulo opera neste momento em alta de 1,54%. O dólar – que chegou a ser negociado a R$ 2,232 – está cotado agora a R$ 2,216. E o risco-país, que mede a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, demonstra estabilidade, na casa dos 238 pontos. São sinais de que diminuíram as apreensões quanto aos efeitos da demissão do ex-ministro Antonio Palocci. Ontem, a bolsa operou em queda, houve forte elevação da moeda norte-americana, e o risco-país subiu.
Pesou no comportamento do mercado financeiro, é verdade, o anúncio feito ontem pelo governo norte-americano de uma nova elevação dos juros. Decisões do tipo têm impacto negativo no Brasil por desestimular investimentos estrangeiros nas chamadas nações emergentes, em virtude da possibilidade de obtenção de taxas maiores de retorno para as aplicações financeiras feitas em um país (Estados Unidos) considerado mais estável.
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Mas os temores quanto ao futuro da política econômica foram a causa principal do nervosismo do mercado financeiro durante o dia de ontem. Afinal, Mantega reiterou que manterá a política de Palocci, mas também afirmou coisas como: "Continuo fiel a mim mesmo e às minhas idéias”.
Suas idéias incluem críticas, já desferidas de público, a um dos pilares da política econômica de Palocci: as metas de inflação fixadas pelo governo, apontadas por Mantega como ambiciosas demais e responsáveis diretas pelos elevados juros praticados pelo Banco Central (BC), cujos patamares ele também já condenou abertamente. O ministro demonstrou ainda, no passado recente, considerar inaceitável a taxa de câmbio atual, que sobrevalorizaria o real, tocando aí no segundo pilar da política palocciana: o câmbio flutuante (o terceiro é a política fiscal austera, que Mantega sempre defendeu).
Outro fator de preocupação foi a saída de membros mais ortodoxos da antiga equipe – em especial, do ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, que serviu de combustível para rumores sobre eventuais alterações na diretoria do BC.
PublicidadeNovas declarações de Mantega e do próprio presidente Lula, de compromisso com a continuidade da política de Palocci, e a confirmação de que não haverá mudanças no Banco Central contribuíram para desanuviar o clima, acalmando os investidores.
Certos de que Mantega não mudará as diretrizes básicas da política econômica que o governo Lula herdou de FHC, analistas não descartam que pode haver alguma instabilidade no comportamento do mercado financeiro até as eleições.
De imediato, são grandes as expectativas em relação ao anúncio dos substitutos de Portugal e do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que deixou a Fazenda para se tornar diretor do BID. Para os próximos meses, a grande incógnita são os desdobramentos político-institucionais da nova ofensiva ensaiada pela oposição para alvejar o presidente Lula e o seu governo.
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