Rodolfo Torres *
Um dos ditados populares que mais se aplica à atual situação em que se encontra o nosso sistema político é aquele que diz: "aquilo que não tem remédio, remediado está". É com esse espírito, que também tem a sua infinita sabedoria, que vivemos boa parte de nossas vidas.
Quem se dedica a estudar temas como diplomacia comercial, geopolítica, transações financeiras internacionais, globalização e outros assuntos espinhosos há de reconhecer que o brasileiro que adota essa filosofia do remédio é um sábio em potencial. O mundo cospe no Brasil. O Brasil cospe no Brasil. O jeito é aceitar esse triste cenário. E não adianta bufar de raiva diante da fábrica de escândalos que é o Congresso Nacional brasileiro. O mais aconselhável é manter a calma ou deixar o país.
A preguiça para fazer as revoluções urgentes é conseqüência dessa sabedoria que carregamos. Essa mesma sabedoria também guia uma estranha unanimidade na imprensa em relação ao caso dos políticos (e ex-políticos) do Legislativo e do Executivo envolvidos no esquema das sanguessugas. A voz única é essa: não existe tempo antes das eleições para que o crescente número de políticos seja julgado.
Isso é a mais pura verdade, até porque um julgamento é um processo lento, dolorido e que se serve frio. Contudo, não existe nem ao menos a intenção de impedir a candidatura de sujeitos que comprovadamente estão envolvidos em mais esse escândalo que só demonstra o quanto o Estado brasileiro pode ser um verdadeiro tesouro.
Nesse estágio da vida política em que nos encontramos, o mais honesto é admitir que não existem mais saídas para a nossa triste condição de cidadãos de um país condenado a ser medíocre. É preciso ter a consciência de que o nosso sistema político está falido e que o ato obrigatório de votar nada mais é do que um mecanismo que transforma milhões de famintos em cúmplices do que está sendo apresentado.
Eu bem sei que o papel do intelectual nesses dias de hoje está mais do que deturpado. Ninguém mais respeita o intelectual, nem mesmo os intelectuais se respeitam. Mas uma coisa que não muda no intelectual é a pose. A degradação do pensamento pode ser a maior que já se teve notícia, mas a pose permanece intacta. E nesse cenário de desrespeito, e de corrupção generalizada, surge a figura do intelectual que ainda sobe em palanques de candidatos à Presidência da República para declarar o seu apoio a esse ou àquele nome…
Liberdade de expressão é algo que deve ser incentivado, mesmo que sob certas condições. O sujeito escreveu as suas poesias, as suas peças de teatro, os seus ensaios e romances… Mas de uma hora para outra, sente um desejo incontrolável de subir num palanque eleitoral, uma incontinência ideológica, apesar do dantesco contexto político. Alguém pode dizer que é justamente por causa desse contexto dantesco que o intelectual subiu no palanque. Mas não é bem assim…
A ditadura da lógica diz que esse modelo político que estamos presenciando apenas nutre o que somos obrigados a observar diariamente: o mais profundo desrespeito à condição humana do povo brasileiro. Nestas eleições, os palanques serão invadidos pelos mais variados intelectuais. Trata-se da eterna ligação entre o poder e a produção artística em países como o Brasil. Alguns justificam a ligação com a política através da filosofia do remédio. Outros fazem questão de morrer doentes. Não me perguntem quem é o pior, pois nem eu sei.
* Rodolfo Torres é jornalista.
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