Roberto Freire*
O PT tenta jogar sobre os ombros do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a responsabilidade do ajuste fiscal, em especial das medidas restritivas no seguro-desemprego e nas pensões.
Qualquer cidadão sabe que o ministro foi nomeado pela presidente Dilma Rousseff. Portanto, a responsabilidade da condução da economia cabe à chefe do Executivo.
O que talvez muitos não saibam é que as medidas criticadas pelo PT foram elaboradas, há tempos, pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. Segundo publicou-se à época, a sua nomeação teria sido indicação do ex-presidente Lula.
Ainda antes da eleição, em maio e em setembro de 2014, Nelson Barbosa apresentou as propostas em dois seminários promovidos pela Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente.
Nelas, Nelson Barbosa debate também várias outras medidas, entre as quais o fator previdenciário e o estabelecimento da idade mínima para as aposentadorias e fórmulas que moderem o ritmo de aumento do salario mínimo acima da inflação.
Antes de ser nomeado para o Planejamento, o ministro já havia integrado a equipe econômica tanto de Lula quanto do primeiro mandato de Dilma. Em 2003, trabalhou no Ministério do Planejamento; em 2005 foi para o BNDES; de 2007 a 2008, ocupou a secretaria de Acompanhamento Econômico e, de 2008 a 2010, a de Política Econômica, ambas no Ministério da Fazenda; em 2011, assumiu a secretaria-executiva à época do ministro Guido Mantega, cargo em que permaneceu até 2013, quando deixou o governo alegando motivos pessoais.
Mesmo não sendo formalmente filiado ao PT, Nelson Barbosa sempre participou das campanhas eleitorais petistas desde 1989 e integrou a campanha da reeleição de Lula em 2006.
Não há nada de errado nas simpatias partidárias e nas posições econômicas do ministro. Delas discordamos, porém acreditamos que elas são legítimas e devem ser debatidas com abertura democrática e espírito público por todas as forças políticas do país, inclusive pelas oposições.
O que é inaceitável é a tentativa da cúpula petista de, mais uma vez, ludibriar a sociedade brasileira com críticas à política econômica conduzida pelo seu governo e escapar da impopularidade da presidente Dilma Rousseff, com vistas às eleições de 2016 e 2018.
São também nuvens de fumaça para esconder as verdadeiras causas dos desequilíbrios das contas públicas e do atual ajuste recessivo, contra o qual o PPS tem se posicionado: a incompetência e a irresponsabilidade de 13 anos de governos petistas, incapazes de articular um amplo consenso das forças políticas do país para a realização de reformas estruturais e, assim, impulsionar um ciclo de desenvolvimento econômico e social sustentado.
A atual hegemonia conservadora do governo, representada seja pela política econômica ortodoxa, seja pelos seus aliados no Congresso e simbolizada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nada tem de nova como querem fazer crer intelectuais petistas.
Desde 2003, o PP de Paulo Maluf faz parte da base governista com assento no ministério. Desde 2005, o PMDB em bloco, liderado pelo ex-presidente José Sarney, faz parte dos governos Lula e Dilma. Os conservadores e fisiológicos do PFL/DEM foram cooptados, via mensalão ou cargos públicos, para o PR, de Valdemar Costa Neto, para o PTB de Roberto Jefferson e Fernando Collor, para o PSD de Gilberto Kassab e para o PRB de Marcelo Crivella, bispo licenciado da Igreja Universal. Todos eles integram a coalizão governista no poder.
Aliado ao que há de mais reacionário, conservador e atrasado da política brasileira, é pouco factível que o governo do PT seja capaz de realizar necessárias reformas democráticas e progressistas da economia e do Estado brasileiros.
O que a direção do PT prepara é mais uma encenação, para mais um estelionato eleitoral. Porém, vacinados pelas últimas campanhas eleitorais, os brasileiros não deixarão se enganar.
* Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS.
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