Antonio Vital*
O general-de-Exército José Benedito de Barros Moreira é o titular da Secretaria de Política, Estratégia e Relações Internacionais do Ministério da Defesa. Segundo o site do ministério na internet, cabe à secretaria "formular as bases da política de defesa nacional, a política e a estratégia militares, orientar a condução dos assuntos internacionais que envolvam as Forças Armadas", entre outras.
É o general, ainda de acordo com o site, o encarregado de "formular o dimensionamento global dos meios de defesa, supervisionar a atividade de inteligência estratégica de defesa e avaliar a situação estratégica e o cenário internacional nas áreas de interesse do Brasil". Ou seja, é o estrategista militar do país.
No programa Expressão Nacional, da TV Câmara, ele surpreendeu os demais participantes do debate ao tocar num tema tabu na comunidade internacional. Ele defendeu que o Brasil deve dominar a tecnologia da fabricação de bombas atômicas, caso isso seja estratégico para o país algum dia.
Até então, ele e os deputados José Genoino (PT-SP), Raul Jungmann (PPS-PE) e o professor Antônio Jorge Ramalho da Rocha, do Instituto de Relações Internacionais da UnB, debatiam as razões para o Brasil voltar a investir nas Forças Armadas, depois de um longo período em que o Exército, a Marinha e a Aeronáutica passaram praticamente a pão e água.
O general esclareceu sua posição dizendo que não defende o uso da bomba, mas acha que o Brasil tem que estar preparado para apelar para o "artefato atômico" se for o caso.
"Tecnologicamente devemos estar preparados para produzir artefato nuclear", disse. Ele declarou isso ao responder à pergunta do telespectador Leonardo Silva, do Rio de Janeiro (RJ), a respeito da "prioridade e do papel do desenvolvimento nuclear na política de defesa nacional".
PublicidadeBarros Moreira já tinha surpreendido pela franqueza. Admitiu que o país, hoje, é frágil do ponto de vista da defesa nacional e declarou ser prioridade o desenvolvimento de um submarino nuclear brasileiro. "Submarino nuclear é a arma persuasória número um", concluiu.
O Brasil tem uma área superior a 8,5 milhões de km quadrados. Sem contar uma fronteira marítima de 7.367 km e outros 16,8 mil km de limites com nove países. Para proteger esse tamanho continental, o país tem Forças Armadas que reclamam de sucateamento e poucos investimentos. A necessidade de mais recursos para as Forças Armadas brasileiras entrou na pauta do dia principalmente depois que a Venezuela comprou 100 mil fuzis Kalashnikov e 24 caças Sukhoi 30, armamentos russos.
O Brasil nega oficialmente qualquer preocupação com as compras de Hugo Chávez, mas o Ministério da Defesa quer um aumento de R$ 6,9 bilhões para R$ 9,1 bilhões nos investimentos militares para o ano que vem – proposta que tem amplo apoio no Congresso Nacional. O projeto do governo é investir R$ 16 bilhões nos próximos 14 anos, sem contar os salários.
Para ter uma idéia da situação das Forças Armadas brasileiras, a maior delas, o Exército, tem estatísticas que revelam penúria: 70% dos blindados Leopardo estão indisponíveis (em sua maioria com problemas mecânicos), assim como 55% dos blindados M113B, 45% dos blindados Urutus, 43% dos blindados M60, 42% dos blindados Cascavel, 42% das viaturas de até 1,5 tonelada e 35% das viaturas de 2,5 a 5 toneladas. No caso dos blindados, 78% dos 1.437 que o Exército possui têm mais de 34 anos; 58% das viaturas têm mais de 20 anos e a maior parte do material de artilharia de campanha é originária da Segunda Guerra Mundial. Sem contar as demais forças: 40% dos aviões da FAB estão no solo, sem condições de vôo, e menos de metade dos navios de combate da Marinha tem condições de sair dos portos.
Na América do Sul, hoje, em termos de forças militares, o Brasil está atrás do Peru, do Chile e da Venezuela. Mas o país de Hugo Chávez não foi tratado nem como inimigo nem como ameaça pelos debatedores. Genoino foi o mais enfático. "A Venezuela não pode ser tratada como objetivo ou alvo militar estratégico do Brasil. Isso é ridículo", disse. E concluiu: "Forças Armadas é como seguro: é bom ter para não usar".
Ramalho, observador brasileiro no Haiti, concordou que a Venezuela não é um alvo, mas admitiu uma elevação da tensão no continente com as compras militares e as declarações de Hugo Chávez, que mantém relação complicada com a Colômbia – cujas Forças Armadas têm recebido injeções de recursos dos Estados Unidos, o atual "inimigo número 1" da Venezuela. Sem contar ameaças de invadir a Bolívia caso seu amigo Evo Morales seja derrubado. "Hoje, a possibilidade de confronto é entre a Venezuela e a Colômbia", finalizou Jungmann.
O programa, porém, deixou uma coisa muito clara: a defesa nacional entrou na ordem do dia das discussões políticas. Não deixa de ser uma mudança e tanto de prioridade.
O programa sobre a defesa nacional será reprisado sexta-feira (16), 6h30; sábado (17), às 4h e 10h30; domingo (18), às 17h30; segunda (19), às 11h30; e terça (20), às 5h30.
Próximo programa
Na próxima terça-feira (20), ao vivo, às 22h, o Expressão Nacional será sobre a privatização de rodovias. Os telespectadores podem enviar perguntas ou sugestões pelo e-mail expressaonacional@camara.gov.br ou então pelo telefone gratuito 0800 619 619. Basta indicar quem quer que responda a pergunta. Se estiver havendo sessão do Plenário da Câmara, o programa é transmitido ao vivo na internet (www.camara.gov.br/tv).
* Antonio Vital é apresentador do programa Expressão Nacional, da TV Câmara.
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