Heitor Peixoto*
Para o bem e para o mal, enquanto não doer na parte mais sensível do brasileiro – o bolso –, orquestrações da chamada ‘imprensa golpista’ contra o governo da presidente serão tão inócuas quanto os atuais discursos da oposição formal
O oco das árvores, local preferido pelos tucanos para acondicionar os ninhos da espécie, tem ecoado sussurros tensos… e silêncio. Os últimos dias não têm sido exatamente agradáveis para essa ave conhecida tanto pela exuberância quanto pelo comportamento barulhento e bagunceiro, principalmente quando em bandos.
A neura dos bicudos – na verdade, são várias – sequer considera outras mazelas estruturais, como a tão propalada falta de discurso e os embates internos de seus dois principais líderes lácteo-cafeeiros (em tempo, mais adeptos da república café com café, ou leite com leite, considerando que não se misturam).
Primeiro, veio uma bomba intitulada “A Privataria Tucana”, um estrondo no jornalismo investigativo e no mercado editorial brasileiro, revelando os porões das privatizações capitaneadas por FHC e companhia. Detonação só não ouvida (convenientemente) em certas redações de (in)certos jornais e revistas, devidamente protegidos sob grossos vidros, não de isolamento acústico, mas de seletividade sonora.
Fato corrente, a grande bomba redundou em centenas, milhares de explosões menores, mas não menos perceptíveis, oriundas da repercussão do livro de Amaury Ribeiro Jr. em blogs e redes sociais. Estampidos, no mais das vezes, a questionar a pseudonormalidade silenciosa (ou seria emudecida?) dos conglomerados.
Em tempo 2 – a retificação: em pseudonormalidade silenciosa, entenda-se tiros para um lado só.
Para fechar o curioso fenômeno de um inferno astral permanente vivido pelos tucanos, ou apenas para dar-lhe sequência, mesmo depois de tantos escândalos e “escândalos” ao redor do governo federal, a imagem da presidente Dilma não só se mantém intocável, como suplanta até mesmo o índice de aprovação do seu padrinho Lula. Aí é demais para os corações alados.
O que demotucanos e seus muitos braços jornalísticos e “jornalísticos” parecem teimar em não entender é que, neste momento, Dilma parece que só cai abatida… a moedas. Para o bem e para o mal, enquanto as crises e “crises” não doerem na parte mais sensível do brasileiro – o bolso –, orquestrações da chamada ‘imprensa golpista’ serão tão inócuas quanto os atuais discursos (e falta de discursos) da oposição formal.
Isso, por um lado, é bom para o governo, que permanece protegido contra um sem número de “reportagens” pautadas apenas na má-fé de diretores de veículos e de seus “colaboradores”. Mas, no longo prazo, pode ser muito ruim para o próprio governo e para a sociedade, caso prevaleça a sensação do “tudo pode”, anestesiados que estaríamos nós, brasileiros, diante da sensação de melhora da qualidade de vida, e do desgarramento dessa percepção dos supostos episódios de corrupção.
Enquanto isso, no oco das árvores, seguem os sussuros tensos e o silêncio. Seria a falta de um rumo político, ou seriam os terrores e arrepios pelo anúncio de um potencial predador, que atende pelo nome de CPI? A conferir.
*Jornalista. Twitter: @heitor_peixoto
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