A Zona Franca de Manaus (ZFM) comemorou, dia 28 de fevereiro deste ano, o 45º aniversário de criação. Em 1967, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco assinou o Decreto-Lei nº 288, com as bases de todo o modelo. Essa história, no entanto, tem nuances que passo a relatar ao leitor.
O Amazonas foi responsável pela maior parte das exportações brasileiras, ao longo do Ciclo da Borracha, tendo a produção de seus seringais papel decisivo na campanha dos Países Aliados, durante a II Guerra Mundial, e no desenvolvimento da indústria automobilística internacional. O fausto era visto nas ruas de Manaus, a Paris das Selvas, a primeira cidade brasileira a ter iluminação pública, o local onde os barões acendiam charutos em notas de US$ 100.
Veio o fim da guerra, surgiu a borracha sintética e seringais cultivados da Ásia ofereciam o produto com estabilidade, proximidade e menos doenças aos trabalhadores. O cenário de esbanjamento foi substituído, muito rapidamente, pelas ruas tomadas de mendigos, desabastecimento e colapso acelerado dos serviços públicos. Manaus voltou a ser um simples porto de lenha. O amazonense retroagiu no tempo e vivia do escambo.
Surgiu a expressão “papai trouxe o dinheiro da boia e da farinha”. O caboclo passava dias nos lagos ou nas matas, pescando ou caçando, e, quando conseguia algum excedente, além do necessário para alimentar a família, trocava por farinha – o complemento de carboidrato necessário à sobrevivência – com um vizinho.
Veio a Zona Franca de Manaus, a partir de 1968, e muitos descriam da possibilidade de que esse homem, com um modo de vida rústico, pré-capitalista, num Estado com índice de analfabetismo altíssimo e escolaridade mínima, pudesse enfrentar o desafio de manejar equipamentos de última geração. Hoje, passados 45 anos daquele momento, o caboclo amazonense superou-se e, entre outras coisas, produz motocicletas para a Moto Honda, maior indústria do setor, com mais rapidez que os operários da matriz, no Japão.
A maior conquista da Zona Franca de Manaus, porém, não estava nos planos dos seus idealizadores. O caboclo tinha todas as suas atividades voltadas para a floresta. Com o crescimento vegetativo, tendia a devastar o patrimônio florestal amazonense. As indústrias do Pólo Industrial de Manaus concentraram esse homem na capital, onde hoje vivem 1,8 milhão dos 3,5 milhões de habitantes do Amazonas, promovendo a preservação de 98% da Floresta Amazônica localizada em seu território, que é a maior parte da grande Hileia, espraiada por outros estados e até países. Ou seja, a ZFM ajudou a preservar a principal floresta tropical do planeta, responsável por grande parte do equilíbrio ecológico mundial.
É indubitável, hoje, que o modelo serve ao Brasil tanto ou mais do que serve ao Amazonas. Tanto que a presidenta Dilma Rousseff enviou ao Senado Medida Provisória prorrogando os incentivos fiscais da ZFM por mais 50 anos.
Parabéns ao povo amazonense pela construção de um Pólo Industrial tão pujante, que, em 2011, atingiu o faturamento anual de US$ 45 bilhões, o recorde de todos os tempos.
Deixe um comentário