Eles não param de brigar e desidratam a olhos vistos desde que foram para a oposição. Mas, mesmo assim, os tucanos ainda guardam alguns trunfos para as eleições municipais deste ano. O principal deles é o fato de ser o partido que elegeu o maior número de governadores em 2010: oito. Não é uma balela do PSDB considerar esse fato como trunfo. Nas eleições municipais, a influência dos governadores na disputa costuma ser maior que a do governo federal. É algo natural, dada a maior proximidade. Ao que se soma a provável postura pessoal da presidenta Dilma Rousseff: ela não tem se mostrado muito disposta a sair de uma posição de maior neutralidade com relação às eleições deste ano.
Claro, é um trunfo que precisa ser pesado e relativizado. Um dos estados tucanos – Roraima (José de Anchieta Júnior) –, é pequeno, com poucos municípios e pouca importância eleitoral. Outros dois são de médio porte – Alagoas (Teotônio Vilela Filho) e Tocantins (Siqueira Campos). Outros têm, de fato, importância: Goiás (Marconi Perilo), Pará (Simão Jatene) e Paraná (Beto Richa). E há, sobretudo, o fato de que o PSDB governa os dois principais colégios eleitorais do país: São Paulo (Geraldo Alckmin) e Minas Gerais (Antonio Anastasia).
Enfim, vencer em Roraima, que só tem 15 municípios, nos quais, com exceção de Boa Vista, há, no máximo, menos de 20 mil eleitores (cada um), não será algo que mereça grande comemoração, em comparação com os números nacionais. Mas uma real influência dos governadores nos grandes estados governados pelos tucanos pode, sim, tornar bem favoráveis os números das eleições municipais para o PSDB. O desafio, agora, será transformar esse possível trunfo num diferencial de fato. E a solução para isso é uma só: os tucanos precisam parar de se bicar.
Toda e qualquer capacidade de influência – seja de quem for – só se aplica de fato se houver unidade de comando e de objetivos. No momento, é isso o que falta ao PSDB na maioria dos estados. Onde o partido tem comando central mais bem definido e briga menos – caso de Minas Gerais, onde quem manda continua sendo Aécio Neves –, a força do governador tende a ser mais sentida. Mas quando isso não ocorre …
Tomemos um exemplo de um estado que hoje nem é governado pelo PSDB, a Bahia. Há algumas semanas, a direção central tucana decidiu que o partido deverá fazer alianças preferenciais com os demais partidos que fazem oposição ao governo federal, o DEM e o PPS. Os baianos – notadamente o deputado Jutahy Júnior – já estrilaram. Em Salvador, o DEM quer emplacar como candidato o deputado ACM Neto, e o PSDB quer ir com o ex-prefeito Antonio Imbassahy. Para não dar briga desde já, a direção nacional precisou dizer que, por enquanto, os dois podem tentar as candidaturas, mas que, num determinado momento, um terá que dar vez e apoiar o outro.
E chegamos, então, à principal disputa prevista para outubro: a pela prefeitura de São Paulo. Diante da salada que virou o tucanato paulista neste momento, é difícil saber qual será a real influência de Geraldo Alckmin na disputa. Na verdade, hoje o que se discute mesmo não é como Alckmin poderá ajudar, mas o que é necessário combinar para que ele não acabe atrapalhando. É isso o que hoje José Serra discute na negociação para que aceite ser o candidato: que sejam aparadas as arestas e que, tomada a decisão, todo mundo efetivamente trabalhe por ele. (Aqui, um parênteses: se Serra entrar na briga, vai embolar pra valer a história da aliança do PSD de Gilberto Kassab com o PT. Marta Suplicy vai se encher de razão. Mas isso é tema para futuras colunas)
É justo que Serra peça isso como condição, ainda que ele seja responsável por boa parte dessas rusgas e problemas. Se o partido conseguir essa unificação e pacificação, aí poderá de fato contar com o tal trunfo, que hoje só tem teoricamente. E, aí, partir para a segunda etapa, que é a que realmente importa: terminada a eleição de 2012, os vitoriosos nos pleitos municipais irão realmente ser cabos eleitorais do candidato do PSDB à Presidência nas eleições de 2014? Em resumo: eleito prefeito de São Paulo, Serra pedirá votos para Aécio Neves ou vai trabalhar para derrubá-lo? Isso é que dá o PSDB ter escolhido para símbolo um passarinho tão bicudo …
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