Em seu blog, Carol Patrocinio disseca a carta do assassino de Campinas. Ela inicia seu texto afirmando que “falar de amor é sempre um desafio”. “Mas falar o que NÃO é amor é simples”.
Sim, é simples e concordo, “dominação não é amor. Poder não é amor. Controle não é amor. Dependência não é amor. Cobrança não é amor. Violência não é amor. Assassinato não é amor”.
Muitos adultos, quando crianças, não foram amados, porém muitos na vida adulta poderão amar e ser amados. E muitos que foram amados se tornam adultos e não sabem o que é amor. Confundem com possessão: essa mulher, esse filho ou esse homem é meu. E, se é meu, é meu objeto.
Vão entender e agir como se a pessoa amada fosse um objeto de suas satisfações e, por ser objeto, pode ser dominado, controlado, massacrado, violentado e assassinado. Pela formação cultural e pelo processo de educação, o sentimento de possessão é (natural, alguns assim entendem) mais presente no homem, e isso é chamado de machismo. Para o machista, amor é poder, dominação e controle sobre a mulher, que, para ele, é o objeto de suas satisfações. Se o objeto vai lhe fugir das mãos, resta quebrá-lo, arrebentá-lo, destruí-lo.
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Assim como Carol, também fiquei assombrado quando li a carta do assassino. Nenhuma crítica. A mera transcrição. Tive a impressão de que o objetivo dos que divulgaram a carta, sem criticá-la, apoiava o sucedido. Pior que a divulgação foram alguns comentários que circularam na internet: ódio puro.
A carta do assassino nada mais é que o resultado do que vem sendo construído nos últimos anos pela mídia, principalmente pela Rede Globo, pelas redes sociais e por agentes políticos: veem, assistem e alimentam o ódio.
Em 2014, 2015 e 2016, tivemos muitos momentos em que se assistiu e se divulgou acriticamente uma infinidade de atos, gestos e palavras de ódio e preconceito contra as mulheres, principalmente contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, negros e homossexuais. Muitas vezes, não só se divulgou, como alimentou o ódio e o preconceito, nos atos de rua a favor do golpe contra Dilma, por exemplo.
Nas ruas, praças e estádios, eram cantadas e gritadas palavras de ordem de caráter machista contra Dilma. As televisões, através de seus comentaristas e líderes políticos de oposição, faziam ouvidos moucos ou quando não felizes comentavam estes fatos sem nenhuma critica. Quando da divulgação do adesivo misógino contra Dilma, para colocar na boca dos tanques de gasolina dos carros, nenhum líder político da oposição, veículo de imprensa condenou, veementemente, a prática.
Não sei se houve símbolo maior, mais simbólico da construção de ódio e preconceito do que a sessão da Câmara dos Deputados do dia 17 de abril de 2016. Naquele dia, em nome da família e de Deus, muitos deputados praticaram atos, não só contra a democracia, mas contra as mulheres. A posição mais odiosa contra as mulheres foi a de Jair Bolsonaro.
Suas palavras foram preconceituosas e criminosas. Bolsonaro fez apologia à tortura e, em se tratando de Dilma, sabemos a que tipo de tortura. Tempos depois de fazer a defesa de um torturador e da tortura, por ironia, Bolsonaro foi aceito por uma seita religiosa, que se diz cristã, e, nova ironia, batizado no Rio Jordão.
A carta foi dissecada por Carol Patrocinio, mas faço uma observação: esta chacina não é fruto de uma loucura, mas sim resultado de uma construção machista e fascista. Na carta, o assassino trata todas as mulheres de vadias; das 12 pessoas assassinadas, nove são mulheres. Trata-se de feminicídio.
Gus Lanzeta, comentando o texto de Carol Patrocinio, em poucas palavras, diz que o que está por trás da chacina misógina de Campinas: é o “tchau, querida”. Concordo: essa chacina é mais um desdobramento do movimento fascista que ganhou corpo no Brasil com o apoio de importantes veículos de comunicação (TVs, principalmente Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, Veja, Época, IstoÉ, etc.), entidades de classe e partidos de oposição à Dilma e ao PT.
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