Ronaldo Brasiliense * |
Deixo claro, desde já, que tratarei a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy como perua amparado em decisão judicial que deu ganho de causa à revista Veja em processo movido pela ex-alcaide por ter sido tratada dessa forma. Aqui entre nós, a perua Marta deu um show na sua prestação de contas da campanha de 2004 à Justiça eleitoral. Declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto exatos R$ 220.260,66 na campanha contra o tucano José Serra, quando foi massacrada nas urnas. Por uma incrível coincidência, a perua Marta também declarou ao TSE ter recebido doações do “comitê financeiro único do PT” de exatos R$ 220.260,66. No dia 30 de agosto de 2004, dona Marta recebeu R$ 90 mil de doação e declarou ter gasto R$ 90 mil com impressos. Publicidade
O mais incrível na prestação de contas da perua Marta é que declarou ter gasto apenas R$ 24 mil com “serviços prestados por terceiros”. Não sei quem fez a campanha de dona Marta na televisão, mas foi uma pechincha. Como diria o presidente Lula, vamos aos fatos. Será uma forma de contribuir com os senadores e deputados que integram a CPI dos Correios, que na quarta-feira, 20, interrogará o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, num depoimento que poderá definir o futuro do governo Lula e de seu partido, o PT. Publicidade Vou enumerar, agora, os gastos declarados de campanha de candidatos do PT a prefeituras de algumas capitais em outubro de 2004. Acho importante divulgar essas informações porque até agora não consegui entender como um partido endividado como o PT conseguiu liberar tanto dinheiro para os candidatos a prefeito em 2004. Essa amostragem é representativa de um universo de mais de 5.500 prefeituras municipais existentes no Brasil. E o PT, isolado ou coligado com outros partidos, disputou a eleição em milhares delas. Em Belo Horizonte, sede das empresas do publicitário Marcos Valério, acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o agenciador do mensalão para deputados do PL e do PP, foi reeleito prefeito o petista Fernando Pimentel com uma das campanhas mais caras: ele declarou ter recebido R$ 4.343.760,76 de doações (quase 20 campanhas da perua Marta) e não foi abandonado pelo Diretório Nacional do PT. O TSE registra duas doações do PT nacional para Pimentel: uma, de R$ 100 mil, no dia 17 de setembro de 2004, e outra de R$ 50 mil, no dia 21 de setembro de 2004. As duas, em dinheiro vivo. PublicidadeO grosso das doações para Fernando Pimentel veio da iniciativa privada. Somente a Gerdau Açominas doou R$ 400 mil (quase duas peruas), em cheque, no dia 26 de agosto, e mais R$ 100 mil no dia 1º de outubro de 2004. A Consita Ltda. fez duas doações: R$ 243 mil e R$ 257 mil, num total de R$ 500 mil – ou mais de 10% de todas as doações recebidas por Pimentel. Eleito em primeiro turno, ele recebeu doações de R$ 100 mil do Banco Itaú no dia 4 de outubro, outros R$ 100 mil da Acesita no dia 6 de outubro e também R$ 100 mil da Camargo Correa em 26 de outubro de 2004. No Pará, a senadora Ana Julia Carepa (PT) disputou a eleição para a prefeitura de Belém e perdeu para o também senador, à época, Duciomar Costa (PTB), candidato do mesmo partido do língua-de-carreta Roberto Jefferson. Ana Julia declarou ter recebido doações de R$ 2.485.693,42 na campanha (mais de dez vezes que a perua Marta). Mas, ao contrário da perua Marta Suplicy, que arrecadou todo o dinheiro de sua campanha no “comitê financeiro municipal único”, Ana Julia recebeu R$ 600 mil do Diretório Nacional do PT, sendo R$ 300 mil no dia 17 de setembro, R$ 100 mil no dia 20 de setembro e outros R$ 200 mil no dia 21 de setembro. Não me dei ao trabalho de checar coincidência de datas entre os depósitos feitos pelo Diretório Nacional do PT e os dados vazados pelo Coaf sobre os saques feitos no Banco Rural pelas empresas de Marcos Valério. Nessa turnê amazônica, vale destacar Raimundo Angelim, prefeito eleito em Rio Branco, capital do Acre de Chico Mendes e do duas vezes governador Jorge Vianaque. Ele não recebeu um tostão sequer de José Genoíno, Delúbio Soares e Silvio Pereira (leia-se: Diretório Nacional do PT). Da receita de R$ 503.489,00 declarada ao TSE, Angelim levou quase um terço duma tal de Marquesa S/A (R$ 150 mil em contribuição, em cheque, no dia 15 de agosto de 2004 – quase uma perua). Em Macapá, no Amapá, o new petista João Henrique Pimentel se reelegeu recebendo apenas uma pequena doação de R$ 30 mil do Diretório Nacional do PT. Levou, porém, R$ 140 mil da empresa de vigilância Alvo e outros R$ 37 mil da empresa Limpel. Essas duas doações representam mais de um terço das doações declaradas ao TSE por Pimentel, que chegaram a R$ 425.695,21 (quase duas peruas). Num giro pelo Nordeste, vimos que o deputado federal petista Nelson Pellegrino, candidato a prefeito de Salvador, declarou ter recebido R$ 671.011,65 (mais de três peruas) e que o Diretório Nacional do PT (olha o Delúbio aí, gente!) compareceu com dois depósitos. Eles foram de, respectivamente, R$ 70 mil (em 30 de agosto) e R$ 30 mil (em 6 de setembro de 2004). O grupo Gerdau Açominas compareceu com R$ 100 mil e a empresa Aromas e Sucos também adubou a campanha de Pellegrino com R$ 100 mil. No Recife, Pernambuco, João Paulo Lima da Silva reelegeu-se facilmente à prefeitura e declarou ao TSE uma receita de R$ 1.963.823,00 (mais de oito peruas). Desse total, o Diretório Nacional do PT contribuiu com pífios R$ 75 mil em 30 de setembro de 2004. A Gerdau Açominas colaborou com R$ 100 mil, em dinheiro. Para não ser enfadonho, encerro com a prestação de contas do candidato derrotado à prefeitura de Porto Alegre (RS), o ex-prefeito Raul Pont, candidato declarado da tendência Democracia Socialista à presidência nacional do PT, quando setembro chegar. Ele declarou ter recebido doações de R$ 1.069.766,46 (quase cinco peruas) e ter tido despesas de R$ 3.573.927,58 (mais de 16 peruas). Confessou, portanto, uma dívida próxima de R$ 2,5 milhões. Do Diretório Nacional do PT levou modestos R$ 1,5 mil em 9 de setembro; mais R$ 10 mil no dia 10 de setembro e outros exatos R$ 32.720,25 em 30 de setembro de 2004. Do grupo Gerdau Açominas ganhou R$ 100 mil (quase meia perua), em dinheiro, no dia 14 de setembro, e outros R$ 200 mil (quase uma perua) em 25 de outubro de 2004. Ah, sim, só para não esquecer: Raul Pont levou ainda R$ 30 mil caramiguás (mais de 1/7 de perua) do banco BMG – aquele mesmo – em 29 de outubro de 2004. |
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