Outro dia, durante almoço em Brasília, uma amiga me transmitiu o recado de outra amiga comum: “Fala para o nosso deputado que ele está muito sumido, e o pessoal está reclamando”. Isso numa quinta-feira, quando ainda daria pareceres, responderia à correspondência, daria retorno a ligações, para aí sim voltar a Belo Horizonte, chegar em casa às 8h30 e embarcar na sexta-feira cedo para um périplo por cinco cidades da Zona da Mata e do Sul. Quinze horas de carro em apenas um dia e meio.
A visão e a avaliação institucional que a população tem do Congresso Nacional é muito ruim. Todas as pesquisas nacionais sobre imagem das instituições colocam o Corpo de Bombeiros, os Correios, as Forças Armadas nos primeiros lugares, e os partidos políticos e o Congresso Nacional nos últimos.
A avaliação individual da ação dos parlamentares, nas suas esferas e regiões de atuação, é muito melhor do que a avaliação abstrata do Congresso. Prova disso é que não temos um crescimento significativo de abstenções, votos nulos e brancos, a cada eleição. Ao avaliar o deputado concreto, de carne e osso, ao vivo e a cores, o trabalho intenso resulta em reconhecimento positivo. Essa avaliação individual mais próxima é contaminada por dois fatores nacionais: as irracionalidades do sistema político-eleitoral e a visão predominante na grande mídia.
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Optamos, no Brasil, por um sistema eleitoral original baseado no voto proporcional nominal num espaço territorial gigantesco. Não seguimos os exemplos do voto distrital praticado nos Estados Unidos, na Inglaterra e na França, que cria grande proximidade entre sociedade e representação política. Nem o voto fechado em lista existente em Portugal e Espanha, que cria vínculos coletivos entre partidos e sociedade, nem o sistema misto alemão. Resultado: eleições individualizadas, caríssimas, sem solidariedade partidária, com votação dispersa, que não gera vínculos.
O deputado federal em Minas disputa mais de 13 milhões de votos num território do tamanho da França, tendo que conquistar 100 mil votos, competindo com centenas de candidatos. Trabalho politicamente em cerca de cem cidades em todas as regiões de Minas, viajo todas as quintas-feiras à noite, sextas-feiras e sábados pela manhã. Portanto, consigo visitar quatro ou cinco cidades por semana. Para dar uma rodada completa nas 100 cidades, levo cinco, seis meses.
Outro viés é a presença predominante de uma visão distorcida na opinião pública e na mídia. Todos os políticos são preguiçosos, não trabalham, a maioria é desonesta, não pensa no interesse público. Nestes 15 meses na Câmara de Deputados, o que vejo é o contrário. A maioria trabalha e se dedica muito, principalmente ao seu segmento temático, é honesta e está na política inspirada por valores e objetivos coletivos e nobres e não tem tempo nem para respirar, sacrificando em muito a vida pessoal e familiar.
Mas reconheço que é difícil convencer alguém disso no Brasil de mensalões e cachoeiras de denúncias.
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