Há momentos na vida em que não temos palavras para expressar o que estamos sentindo. Podem ser momentos de relacionamento afetivo individual ou por razões coletivas. Por exemplo: grandes massacres de guerra, atentados terroristas, catástrofes naturais, massacres praticados pelo crime organizado ou por policiais, ou mesmo para reagir a algum ato ou ação que entendemos imoral, vergonhosa ou constrangedora.
O assassinato de Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes foi um dos fatos que me roubou as palavras. O que falar de tamanha violência?
Sei, a violência infelizmente é cotidiana, e não só no Brasil, mas em muitos países do mundo. E pior, foi naturalizada. No Brasil, são mais de 60 mil mortes por ano. Os assassinados, em geral, são negros e negras, pobres e, principalmente, adolescentes. Isto rouba as palavras ou ficamos roucos de gritar de indignação. Os assassinos diretos ou indiretos são surdos aos nossos gritos.
O assassinato de Marielle e Anderson chamou a atenção porque ela, militante das causas sociais e étnico-racial, foi assassinada justamente por denunciar a violência contra a sua raça, contra o seu povo.
É, também, de faltar a palavra adequada para adjetivar o descaramento dos juízes e juízas que fizeram greve em defesa do privilégio de receber auxilio-moradia. Recebem dignos salários e querem o privilégio de receber um auxilio-moradia de mais de 4 mil reais por mês, mesmo morando em casa própria. Há casais que, por marido e mulher serem juízes, receberem cada um o seu auxilio, como é o caso do casal (Marcelo) Bretas.
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No dia do enterro de Marielle e Anderson, mudos e tristes, assistimos aos juízes e juízas fazendo greve. Quem julgará a legalidade da greve deles?
Também faltam palavras para repelir o segundo assassinato perpetrado contra Marielle. Há pessoas que festejam a sua morte e muitas, além disso, perpetram o assassinato moral de Marielle. Entre essas pessoas, algumas autoridades.
O Papa Francisco em certa ocasião disse que “quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu foi você mesmo”. A cada dia que passa, a cada morte festejada, mais e mais temos a confirmação de que parte da população está morta.
O assassinato de Marielle Franco e Anderson mostrou que muitos que se imaginam vivos estão mortos: não têm alma, não têm espirito e não têm sonhos. Quem festeja ou sonha pela destruição do próximo vive nas trevas. Vive na Idade Média.
O humanismo que surge na Renascença com o objetivo de valorizar o saber crítico para desenvolver as potencialidades da condição humana é hoje bombardeado por fascistas e criadores de ódio.
Ninguém se torna desumano de um momento para o outro, isso é fruto de uma construção cultural e o Brasil, desde que os portugueses aqui chegaram, é um caldo de cultura da violência e da desumanização. A elite brasileira sempre esteve de costas para seu país e seu povo.
Construíram-se como superiores e, na sua ‘superioridade’, olham para os de baixo com desprezo e gana de destruição. E, para destruir, vale tudo.
Esse caldo de cultura tem seus alimentadores: a mídia, principalmente a Rede Globo, Veja, Folha de S.Paulo, Band, Record e SBT, os empresários que apoiaram o golpe, os batedores de panelas, os patos de verde e amarelo nas rua e avenidas, parlamentares, como Alberto Fraga (DEM-DF), e autoridades em geral, como as juízas Joanna Feu Rosa e a desembargadora Marilia Castro Neves.
O poder Judiciário tem a obrigação de abrir comissão de ética para punir este tipo de pessoa. Como o cidadão e cidadã comum vai confiar num poder como este?
Milhares de pessoas são assassinadas por ano no Brasil. E, o risco para quem luta por direitos e/ou defende os direitos dos ‘de baixo’ é maior. Nos últimos cinco anos, pelo menos 194 pessoas foram assassinadas no Brasil por serem defensores dos direitos do povo, entre elas, Marielle.
Antes que eu seja acusado, como os imbecis costumam fazer, esclareço que lamento profundamente a morte de qualquer pessoa, policial ou não, principalmente se fruto da violência. O direito à vida é de todos. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém.
Parabéns ao coronel Robson Rodrigues da Silva pela sua lucidez.
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