A dependência recíproca entre as nações estabelecida pela globalização da economia desde o final do século passado obriga os países não apenas a ficar atentos, mas de alguma forma monitorar as economias de um e de outro, sob pena de tornar imprevisível ou até mesmo de levar à desorganização a sua própria economia interna.
É nesse contexto que devemos entender a abordagem feita na semana passada pela presidenta Dilma Rousseff, durante visita à Espanha, sobre a forma austera como os países da zona do euro estão enfrentando a crise que assola a Europa desde 2010, quando a Grécia entrou em insolvência ao não conseguir honrar seus compromissos.
Espelhada nos exemplos da América Latina e do Brasil, que enfrentaram crises semelhantes à da Europa fazendo investimentos públicos para combater a recessão, colhendo com isso crescimento econômico e geração de milhões de empregos, a presidenta disse considerar equivocada a forma como os países europeus estão enfrentando a sua crise, com receita oposta, de corte dos gastos públicos e austeridade fiscal.
Ao contrário do que pode parecer, a presidenta não deu pitaco em assunto alheio. A crise europeia, e o encaminhamento da sua solução, interessam de perto ao Brasil. Com vários países do bloco afundados na maior recessão econômica desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com queda do emprego e da renda, a Europa reduziu substancialmente suas importações, com reflexos inclusive no Brasil.
Para se ter uma ideia, depois de um crescimento de 10,4% no período de 2003 a 2009, as exportações brasileiras para a Comunidade Europeia só tem caído desde a instalação da crise, que da Grécia avançou para a Irlanda, Itália, Portugal, Espanha e tem no horizonte economias do porte da França, cujo rating soberano voltou a ser rebaixado esta semana pela agência Moody´s, seguindo o que já fizera a Standard & Poor´s em janeiro.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações brasileiras para os 27 países da União Europeia registraram uma queda de 25% nos últimos dois anos, ao ponto de ter contribuído para o primeiro déficit da balança comercial do país, no período. A redução das exportações impacta diretamente na produção e na geração de emprego e renda, puxando para baixo o PIB brasileiro.
Para inverter sua atual situação de paralisação econômica e desemprego crescente, e interromper o atual processo de minar as economias fora do velho mundo, a presidenta Dilma ensinou que o bloco europeu precisa fugir das receitas que estão sendo aplicadas para o enfrentamento da crise, que só estão aprofundando a sua recessão.
A austeridade isolada do crescimento derrota a si mesma, afirmou a presidenta brasileira ao conclamar a Comunidade Europeia a uma união dos seus sistemas bancários para fortalecer a autoridade do Banco Central Europeu, para que o BCE possa fazer a defesa do euro, emitir títulos e realizar empréstimos diretos aos países-membros.
Dilma insistiu que a crise fiscal, a competitividade e a crise bancária só se vencem com investimentos. E conclamou os países superavitários, como é o caso da Alemanha, a investirem nos países em dificuldades e ampliar suas importações desses países, para estancar a recessão e trazer de volta o crescimento e a geração de empregos.
A adoção de medidas de estímulo à economia europeia é mais urgente do que se imagina. Enquanto fazem a defesa da austeridade fiscal, os líderes europeus não parecem enxergar o avanço da crise até mesmo no quintal das nações mais fortes economicamente. Na última semana, dois tradicionais jornais alemães deixaram de circular, culpando a desaceleração da maior economia da Europa – a própria Alemanha.
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