Na busca do aumento de seu bem-estar, a sociedade tece uma enorme teia de relações econômicas entre produtores, consumidores, financiadores, tomadores de recursos, importadores, exportadores, empresários e trabalhadores. A convivência de tantos atores num mercado insubstituível, mas imperfeito por natureza, pressupõe a existência de uma série de regras e parâmetros.
Dentre tantas variáveis que regem a economia de mercado, uma essencial é a taxa de juros, que tem múltiplos papéis. A taxa de juros regula o ritmo dos investimentos. A taxa de juros influencia o crescimento da economia. A taxa de juros tem enorme impacto fiscal, já que determina o custo da dívida pública e do financiamento dos déficits fiscais.
O Brasil ganhou, nos últimos anos, uma triste medalha de ouro: a maior taxa básica de juros real do mundo. Pior, a voracidade do mercado financeiro, somada a características macroeconômicas do país, levaram para a estratosfera os juros cobrados das pessoas. O brasileiro se acostumou com um estranho comportamento: ver se a prestação cabe em seu orçamento, sem questionar as escandalosas taxas de juros cobradas.
O governo tem procurado finalmente atender às reivindicações da sociedade baixando de forma sistemática a Selic. Isso terá efeito fiscal positivo e contribuirá para a aceleração do crescimento. É inevitável perceber uma dose de hipocrisia no discurso do PT, já que nunca antes neste país os bancos tinham tido lucros tão altos como nos anos Lula.
Leia também
Para que a diminuição da taxa básica chegue à ponta do crédito, o governo desencadeou uma ação adicional através da Caixa e do Banco do Brasil, impondo uma estratégia de competição no mercado. Praticando taxas muito mais baixas, esses bancos forçam os bancos privados a comportamento semelhante. É interessante perceber a evolução ideológica do PT – que não posso deixar de comemorar com uma vitória do PSDB -, abandonando as práticas populistas estatistas a la Evo Morales e Cristina Kirchner. É preciso aguardar para ver os resultados. Primeiro, quem vai vencer a queda de braço? Segundo, é preciso ver se as taxas de juros mais baixas propagandeadas não esconderão um infindável elenco de exigências e reciprocidades, que anulam na prática seus efeitos.
Em função da queda da Selic foi necessário mexer na regra da remuneração da poupança, refúgio de pequenos poupadores e de poupadores conservadores. Desde o Plano Collor, isso era um dogma. Se as taxas líquidas de remuneração dos títulos públicos ficassem menores do que a poupança, haveria um deslocamento em massa em sua direção, e o governo não conseguiria financiar e refinanciar sua dívida e seus 3% do PIB de déficit nominal anual. Vamos aguardar a reação das pessoas.
De qualquer forma, essas medidas pontuais têm fôlego curto, se não enfrentarmos, com coragem e ousadia, a agenda das reformas estruturais que proporcionem melhoria do ambiente macroeconômico e da competitividade da economia.
Deixe um comentário