Esta pessoa não pode entrar para a vida pública achando que ninguém poderá interpelá-la apenas por ser ela uma pessoa do bem.
Nota fiscal ilegal
A Operação Política Supervisionada (OPS), em seu incansável trabalho de fiscalização dos gastos públicos com o dinheiro das cotas para o exercício da atividade parlamentar dos deputados (CEAP) e dos senadores (CEAPS) e demais gastos praticados por políticos de todas as esferas, mais uma vez encontrou um caso que mereceu ser visto e revisto com parcimônia.
O deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) contratou a empresa Logus ABC Editora e Gráfica Ltda., sediada em Santo André (SP), para realizar trabalhos gráficos para fins de divulgação de sua atividade enquanto parlamentar.Foram seis notas fiscais emitidas em razão de trabalhos realizados entre os anos de 2012 e 2013, conforme tabela abaixo:
Nº NF 000001964 05/06/2013 26.385,00
Nº NF 000001876 19/02/2013 22.840,00
Nº NF 000001832 12/12/2012 29.850,00
Nº NF 000001780 07/11/2012 16.200,08
Nº NF 000001590 20/08/2012 26.000,00
Nº NF 000001368 18/06/2012 26.000,00
TOTAL ================= 147.275,08
O Ato da Mesa 43/2009 da Câmara Federal, conjunto de regras de regulamentam a CEAP, prevê o ressarcimento de despesas como esta. Este mesmo ato diz em seu artigo 4º:
A solicitação de reembolso será efetuada mediante requerimento padrão, assinado pelo parlamentar, que, nesse ato, declarará assumir inteira responsabilidade pela liquidação da despesa, atestando que:
I – o material foi recebido ou o serviço, prestado;
II – o objeto do gasto obedece aos limites estabelecidos na legislação;
III – a documentação apresentada é autêntica e legítima.
Além disso, o agente público deve respeitar os princípios da administração pública, dentre eles o da legalidade.
O uso de dinheiro público para divulgar o trabalho parlamentar, sob minha ótica, é algo nocivo à democracia. Um deputado federal, por exemplo, tem condições de fazer publicidade de sua imagem durante os quatro anos de mandato de maneira legal e com dinheiro público, fato este que o beneficia na hora de conquistar votos em detrimento aos novatos e desconhecidos que concorrerão com estes que já estão “na boca do povo”. Isso seguramente os fazem começar uma campanha com nítida desvantagem.
Mas, por enquanto, o uso do dinheiro da CEAP para autopromoção dos deputados federais é absolutamente legal. Porém, não é legal ser ressarcido em quase R$ 23mil tendo como documento comprobatório de despesa, uma nota fiscal sem validade.
A empresa citada há pouco cancelou a nota fiscal eletrônica Nº 1876, emitida em 19/02/2013, no valor de R$ 22.840,00.
O cancelamento de notas fiscais é previsto na legislação tributária e trata-se de um ato necessário, por exemplo, quando o preenchimento do documento for incorreto. Entretanto, manter uma nota cancelada como se fosse um documento legal é crime previsto na legislação tributária e que pode “dar cadeia”.
Eu acredito que o deputado não sabia deste pequenino detalhe quando apresentou a referida nota fiscal cancelada à Coordenação de Gestão de Cota Parlamentar do Departamento de Finanças, Orçamento e Contabilidade, setor responsável pelos pagamentos via CEAP. Porém, como parte do trabalho daquela coordenação, a legalidade da nota que deveria ter sido feita, aparentemente não foi.
O erro da coordenação colocou o deputado Pastor Marco Feliciano em “maus lençóis”. Sendo ele o único responsável pelo documento em epígrafe e tendo ele sido ressarcido pelo valor total da nota e ainda, por terem se passado vinte e um meses desde a emissão da NF-e, não vi outra alternativa que não seja a devolução do dinheiro público recebido pelo parlamentar aos cofres da Câmara Federal.
A devolução
Eu escrevi um artigo no blog do Canal do Otário e também publiquei um vídeo em meu canal no Youtube onde abordei este tema e pedi para que os meus seguidores entrassem em contato com o deputado para solicitar a devolução do dinheiro erroneamente entregue a ele.
Não foram necessárias sequer 24h para que o parlamentar se manifestasse. Numa atitude nobre que desejamos perceber sempre dos políticos brasileiros, mas que infelizmente é algo raro, Feliciano já determinou que a Câmara Federal seja ressarcida deste valor. O ofício expedido por seu gabinete e assinado pelo próprio parlamentar está ao lado (para ver em tamanho maior, clique aqui).
A OPS
A OPS não trabalha para denegrir a imagem de políticos e nem atentar contra a honra destes, mas todo e qualquer caso envolvendo ilicitudes praticadas por quem nos representa nas casas legislativas, independentemente do partido político que esteja filiado, a operação denunciará e cobrará explicações.
Este é mais um caso que contou com a ajuda de colaboradores da OPS espalhados pelo país e que trabalham voluntariamente para a melhora da nossa política.
Nota da redação: de acordo com a assessoria do deputado, o serviço foi prestado pela gráfica; eram jornais com balanço do mandato de Feliciano que foram entregues especialmente em igrejas evangélicas da região metropolitana de São Paulo. O cancelamento da nota, explica a assessoria, ocorreu por conta de um erro no preenchimento do documento, que foi entregue com um CNPJ errado.
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