Há alguns dias, Emir Sader em seu blog, listou as 23 coisas que “não falam para vocês sobre o capitalismo”. Ele observa que o número pode ser infinito mas, para começar, o autor – Ha-Joong Chan, sul-coreano, que trabalha em Cambridge, seleciona estes no livro 23 things they don’t tell yu about capitalism (Penguin Books, Londres, 2011), sugerindo que cada um pode acrescentar novas categorias.
Considerando, a priori, referida lista demasiado óbvia, ambígua, até fajuta ao leitor brasileiro (dá impressão que o china se dirige a um público que considera que a vida foi sempre assim), vou meter minha colher torta e inserir comentários entre parêntesis na maioria dos itens, incluindo mais quatro com elementos da atualidade brasileira, como contribuição do nosso sub-capitalismo canalha. Lá vão:
1. Não há isso que chamam de livre comércio; (segundo Noam Chomsky, “livre comércio” não existe nos EUA, só para o resto do mundo; é o mantra ideológico imposto pela potência hegemônica, também denominado “globalização”: é o nome que se deu para o novo saque ou espólio neo-colonial reiniciado pelos EUA nas décadas de 70/80);
2. As empresas não deveriam ser dirigidas em função do interesse dos seus donos (evidente, mas privatização e desregulação não combinam com isto, que seria, digamos, “contra-ideológico”);
3. Muita gente nos países ricos é paga acima do que deveria (e nos emergentes idem, vide item 27, os processos contra este site);
4. As máquinas de lavar mudaram o mundo mais do que a internet (bom, na Coréia do Sul devia ser uma merda ficar lavando roupa para 12 filhos enquanto hoje a dona de casa é livre para ser estagiária num pet-shop deixando a roupa da criançada nos trinques num piscar de olhos);
Publicidade5. Assuma o pior sobre o povo e você vai obter o pior (podem apostar, a mediocridade tornou-se a Categoria Pós-Moderna Por Excelência);
6. Maior estabilidade macroeconômica não fez a economia mundial mais estável (estabilidade por quanto tempo e pra quem, cara pálida? Não é uma contradição nos termos? Sem contar que, a médio prazo, ecologicamente vai estar tudo fudido mesmo);
7. As políticas de livre comércio raramente tornam ricos os países pobres. (retificando: os países pobres só se tornam mais pobres. E isto é axiomático, uma vez que se trata de espólio. Já estou achando esse china algo sobre o vendido);
8. O capital tem uma nacionalidade (quem adivinhar, ganha o novo cd do padre Marcelo Rossi);
9. Nós não vivemos numa era pós-industrial (é evidente que não, mas desde que o saber virou mercadoria, a Academia capricha só no jargão, chafurdando na mais negra miséria teórica);
10. Os EUA não têm o mais alto nível de vida do mundo (isto é óbvio para qualquer moleque de seis anos que assista tevê);
11. A África não está condenada ao subdesenvolvimento (teoricamente, mas na prática sempre vai ser aquela merda, baby);
12. Os governos podem punir os vencedores (é mesmo?);
13. Tornando os ricos mais ricos não se torna os outros ricos. (cruzes! Até porque os ricos só se tornam mais ricos precisamente porque retiram o excedente dos pobres, que consequentemente ficam ainda mais pobres, etc. – até parece Tratado para Débeis Mentais);
14. Os executivos norte-americanos são pagos em excesso. (os CEOs são os equivalentes pós-modernos dos carrascos nazistas: a diferença é que hoje eles saem na capa da New York Times, são eleitos o Homem do Ano há vários anos e endeusados nos filmes de Hollywood. A questão que se coloca: mudamos tanto em apenas 50 anos?)
15. As pessoas nos países pobres são mais empreendedoras do que nos países ricos (ou seja, precisam “se virar” pra sobreviver, donde o popular “jeitinho”, etc. Mas isso é mau sinal e uma desvantagem atroz do ponto de vista político. O popular “jeitinho” é a marca registrada da ausência do Estado de Direito);
16. Mais educação, por si só, não faz um país mais rico (porém, menos mediocridade operaria MILAGRES!)
17. O que é bom para a General Motors não é necessariamente bom para os EUA (os EUA são um estado coorporativo e vice-versa, porra! Será que essa cara não é da CIA?)
18. Não somos suficientemente tontos para deixar as coisas para o mercado. (claro que somos!)
19. Apesar do fim do comunismo, nós ainda vivemos em economias planificadas (o que este china quis dizer com isto?)
20. A igualdade de oportunidades pode não ser justa. (já estou começando a achar que o sujeito deve ser algum “gênio” pós-moderno no sentido autista do termo.)
21. Governo forte torna as pessoas mais abertas para as transformações (que transformações? Tipo Iraque? Afeganistão? Somália? Haiti? Colômbia?)
22. O mercado financeiro precisa se tornar menos e não mais eficiente (do jeito que as coisas andam ele devia ser Abolido!)
23. Uma boa política econômica não necessita de bons economistas (claro que não, só precisa de ladrões, mafiosos, meia dúzia de corruptos de grosso calibre e uns sete ou oito texanos);
Agora, a “contribuição” brasileira nos últimos dias:
24. Lembrando Nelson Rodrigues e a célebre frase, “mineiro só é solidário no câncer”, no atual sub-capitalismo brasileiro de corte truculento, nem isso, vide as manifestações negativas relativas ao câncer do ex-presidente Lula;
25. A FSP nojentamente “reabilitando a ditabranda”;
26. E naturalmente a intervenção militar na USP;
27. Sem esquecer nosso super-processado site Congresso em Foco – agora são 43 servidores cujos super-salários foram objeto de denúncia – indício seguro de que não só estamos, como sempre estivemos no caminho certo. O que significa, em casos como este, aliás raros, (ou seja, quando não usa a imprensa em proveito próprio, o que praticamente faz em todo o lugar e o tempo todo) que o capitalismo é o inimigo público número 1 da liberdade de imprensa.
A respeito deste neoconservadorismo burro (tão em moda, que só vomitando!), a campanha massiva do capitalismo pela desinformação, mascaramento, omissão, ocultamento (as técnicas são infinitas!), que visa objetivamente a alteração da realidade histórica, nos lembra mais uma vez aquela frase de Montesquieu: “Quando o passado não ilumina o futuro, o espírito tateia no escuro”.
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