Votei contra as duas emendas à lei geral da Copa do Mundo de 2014 apresentadas pela bancada evangélica e pela oposição que anulavam a disposição do contrato do governo federal com a Fifa (também subscrito pelos governos estaduais) que suspende por um mês, apenas para os jogos da Copa do Mundo, a disposição do estatuto do torcedor que proíbe a venda de bebida alcoólica nos estádios.
Ao fazê-lo, evidentemente me exponho às patrulhas religiosas e às críticas de quem analisa o tema pelas aparências ou superficialmente. Muita gente boa votou a favor ou se ausentou do plenário justamente para não se expor. Decidi votar com a responsabilidade de quem se informou, ouviu todos os lados e optou pelo princípio de respeito aos contratos firmados pelo governo brasileiro, ainda que possa eventualmente não concordar com eles.
Há uma enorme demagogia em torno do assunto. Em geral escamoteia-se a informação de que a disposição aplica-se apenas aos jogos da Copa e não representa um “liberou geral” do álcool nos estádios. Corro o risco de ser acusado de querer promover o alcoolismo no futebol ou, como acusam alguns parlamentares evangélicos, conspirar para “dissolver a família brasileira” … Paciência.
Sou totalmente favorável a crescentes restrições ao uso do álcool. Entusiasticamente a favor da Lei Seca, no trânsito, e a favor da proibição de venda de bebidas alcoólicas nos estádios em geral, embora, como explico a seguir, não penso que isso seja uma panacéia.
O “x” do problema é que certa ou equivocadamente – de fato não sei –, no afã de garantir a Copa para o Brasil, em 2014, e no quadro de disputa renhida entre países em que essas decisões se dão, o governo Lula cedeu à Fifa concordando com essa exigência. Isso, aliás, é “pinto” perto de outras cedências e deslizes graves de todo esse processo. O fato é, no entanto, que não seria responsável da minha parte enquanto parlamentar votar numa proposta que implica quebra de contrato e que junto com outros problemas reais, poderia trazer consigo o risco de comprometer a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Não sei se essa concessão foi de fato indispensável. A responsabilidade é do governo, que será cobrado e criticado por isso e outras coisas, mas não seria correto, nessas alturas do campeonato, o Congresso Nacional puxar institucionalmente o tapete debaixo de seus pés. Não faço esse tipo de política, por mais que seja bom para a “imagem” de quem joga para a torcida.
Por outro lado, vamos separar o que é uma política correta de ir restringindo realisticamente os males do alcoolismo (e também do abuso de outras drogas na nossa sociedade) de campanhas demagógicas de forte cunho moralista. Há muita hipocrisia nessa história. Estou seguro de que se conseguissem derrotar o governo muitos deputados da oposição – cujos governadores assumiram compromisso idêntico ao do governo federal e em cujas mãos fica a decisão final – iriam celebrar com umas boas biritas…
PublicidadeComo disse, sou favorável à proibição de venda de bebida alcoólica nos estádios, mas reconheço que é uma medida de eficácia apenas parcial. O que vem acontecendo com as torcidas é que enchem a cara nos bares, antes do jogo, ingressam no estádio na última hora aumentando a muvuca e, nessas circunstâncias, as brigas de torcida como a de São Paulo semana passada com dois mortos estão se tornando mais frequentes e violentas.
Nas partidas da Copa, considerando o público elitizado pelo preço dos ingressos e ausência de rivalidades de torcidas locais, o risco de incidentes é bem menor, por outro lado haverá um policiamento muito mais robusto do que em circunstâncias normais. Assim, o risco de incidentes é muito menor na Copa do que em um Flamengo x Vasco ou Corinthians e Palmeiras, mesmo a seco.
Ouvi muita bobagem nesse debate. Alguns colegas queriam praticamente uma declaração de guerra à Fifa – fico imaginando, vamos mandar o BOPE, os PQDs ou os Fuzileiros Navais? Romper com a Fifa, por mais venal que eventualmente seja ou tenha sido (ou com o COI, que não fica muito atrás), não é uma opção realista para quem quer recepcionar uma Copa do Mundo ou umas Olimpíadas. Para ganhar esses eventos, tão disputados entre distintos países e cidades, há que se engolir bastantes sapos.
Esse aí vem regado com chope em copo de papel.
Em tempo: a foto acima foi tirada num bar… em San José da Costa Rica, longe de qualquer estádio. Os leitores não-flamenguistas hão de perdoar a provocação.
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