Poucas pessoas no Brasil sabem quem foi Rita Levi-Montalcini, autora da frase de que me apropriei para intitular o artigo desta semana. Ela morreu no último dia 30 de dezembro, depois de deixar para a posteridade não apenas esse lindo pensamento, mas uma importantíssima descoberta científica, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1989. O curioso é que sua vida teve muito mais dias do que a da maioria das pessoas: durou nada menos do que 103 anos.
Ao ler sobre Rita, encontrei inspiração para o texto da semana, surpreendido pelo exemplo de mulher, cientista e intelectual que ela foi e encantado por sua coragem, caráter e extraordinária personalidade. Rita foi daquelas pessoas raras que demonstram como é importante lutar por suas ideias e seus objetivos.
É por isso que conhecê-la é tão importante para nós que respiramos concurso público. A luta por uma vaga no serviço público é um desafio que exige do candidato qualidades que Rita teve de sobra. Ela dedicou-se integralmente ao estudo e à pesquisa científica, mesmo em idade avançada. Tanto que conquistou o Prêmio Nobel de Fisiologia em Medicina, aos 77 anos de idade, juntamente com o fisiologista norte-americano Stanley Cohen. O feito? A descoberta, em 1942, do Nerve Growth Factor (NGF), fator do crescimento nervoso. O prêmio, no entanto, só foi concedido em 1986, quando a validade da descoberta foi reconhecida oficialmente no mundo científico.
Neurocirurgiã judia, Rita deixou a Itália e se mudou para os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, para fugir da perseguição do fascismo. Antes disso, ela vencera preconceitos que toda mulher costumava enfrentar, em meados dos anos 1920, decidida a estudar medicina. O pai queria que ela se casasse e tivesse filhos, mas a jovem se recusou. Seu desejo era ser médica, não dona de casa. Jamais se casou ou foi mãe. Em entrevista, em 2005, quando já contava 96 anos de idade, Rita contou o seu segredo de vida:
“No que eu estou interessada e gosto, é do que faço cada dia. Trabalho para dar uma bolsa de estudos para as meninas africanas, para que estudem e prosperem… Elas e seus países. E continuo investigando, continuo pensando. Aposentar-se é destruir cérebros! Muita gente se aposenta e se abandona… E isso mata seu cérebro. E adoece. Meu cérebro vai ter um século… Mas não conhece a senilidade… O corpo se enruga, não posso evitar, mas não o cérebro! Possuímos grande plasticidade neural: ainda quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los! Mantenha seu cérebro com ilusões, ativo, isso o faz trabalhar e ele nunca se degenera. Viverá melhor os anos que vive, é isso o interessante. A chave é manter curiosidades, empenho, ter paixões… O cérebro não tem rugas: se continuarmos a trabalhar intensamente, ele não para de se renovar, até mesmo depois dos 80 anos, e, diferente dos outros órgãos, pode inclusive melhorar… Falam da minha inteligência? Ela é mais que medíocre. Meus únicos méritos são o empenho e o otimismo. A ausência de complexos psicológicos, a tenacidade de seguir o caminho que considerava justo, o hábito de subestimar os obstáculos – traço que herdei de meu pai – me ajudaram enormemente a enfrentar as dificuldades da vida. A meus pais devo também a tendência a ver os outros com simpatia, sem desconfiança.”
Creio que essas ideias são uma preciosa lição de vida para todos nós. Afinal, elas não partiram de mero pensador ou guru de ocasião, mas de uma cientista que comprovou na prática suas teorias, pois viveu até os 103 anos de idade.
Rita Montalcini nos legou ensinamentos que caem como uma luva para os concurseiros. A neurocirurgiã sempre buscou aquilo em que acreditava. E o fazia por meio do estudo, do qual jamais abriu mão, ao longo dos seus mais de 100 anos de vida. Além de ter sido exemplo da capacidade e da inteligência feminina, ela também pode ser considerada fonte inspiradora para os homens. Personagens como a médica italiana dignificam a espécie humana e devem ter seu exemplo e seus conselhos levados em consideração por qualquer um que deseje o melhor da vida e da carreira profissional.
Muita gente pode até não concordar com ela, sobretudo em relação à ideia de que “aposentar-se é destruir cérebros”. De fato, o sonho da imensa maioria das pessoas é justamente o descanso remunerado, quando chega a idade para a aposentadoria. Mas a realidade a nossa volta demonstra que ela tem razão também nesse ponto. São inúmeros os exemplos de pessoas que, ao alcançar esse momento, mantêm-se em atividade, levando na maturidade uma vida tão produtiva quanto a de quando eram mais jovens. Por consequência, essas pessoas costumam desfrutar de boa saúde por muito mais tempo.
Eu, por exemplo, ao chegar, no ano passado, aos 50 anos de idade, senti-me perfeitamente apto a continuar meu trabalho e minha atividade física de corredor amador, como se tivesse ainda 30 ou 40 anos. Acredito que, mantendo-me assim, serei uma pessoa longeva e poderei chegar com saúde à idade alcançada por Rita Montalcini daqui a mais meio século. Quem quiser pode vir comigo nessa jornada, até pelo menos 2063!
É com isso em mente que quero aconselhar todos os que se empenham na difícil batalha em busca de um cargo público a se manter sempre ativos e estudiosos. Façam o cérebro trabalhar e enriqueçam-no com conhecimento. Busquem novas fontes de aprendizado e desenvolvam toda a capacidade mental. Como ensinou a nossa personagem, “ainda quando morrem neurônios, os que restam se reorganizam para manter as mesmas funções, mas para isso é conveniente estimulá-los”. Sobretudo, nunca se esqueçam: manter as ilusões e os sonhos é fundamental para ter uma vida melhor.
Sem dúvida alguma, quem assim proceder estará no caminho certo e alcançará muito mais rapidamente seus objetivos. E, quando se trata de concursos públicos, quem seguir esses conselhos finalmente estará apto a conquistar o seu feliz cargo novo.
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